Cancro da mama | Especialista responde às questões que as mulheres mais temem

No Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, Emília Vieira, cirurgiã oncológica, responde às perguntas mais comuns que as pacientes lhe fazem quando descobrem a doença. A deteção precoce é o primeiro passo para o êxito dos tratamentos.

No Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, Emília Vieira, cirurgiã oncológica, responde às perguntas mais comuns que as pacientes lhe fazem quando descobrem a doença. A deteção precoce é o primeiro passo para o êxito dos tratamentos. O cancro não escolhe idade, sexo, credo, raça ou estatuto social. Qualquer um está sujeito a confrontar-se com este diagnóstico. Mais do que prevenir com um estilo de vida saudável, é importante que a deteção da doença aconteça o mais precocemente possível.

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Surgem 6000 novos casos de cancro da mama por ano

Atualmente, em Portugal, surgem 6000 novos casos de cancro da mama por ano e todos os dias morrem, em média, quatro mulheres vítimas desta doença. Ainda assim, a taxa de sobrevivência deste tipo de cancro é cada vez maior.  Apesar de a palavra “cancro” ainda manter um estigma negativo, como se de uma sentença de morte se tratasse,já é possível viver muitos anos com o diagnóstico. Encarar a doença de forma positiva ajuda no desenrolar dos tratamentos, dos exames e dos efeitos secundários da medicação. Por isso, quanto mais informada a mulher estiver, melhor entende o que se passa com o seu corpo.

Emília Vieira, cirurgiã oncológica e especialista em cancro da mama, lançou o livro O Que Faço? Tenho Cancro da Mama,  no qual esclarece as dúvidas que, com mais frequência, assaltam quem recebe um diagnóstico destes, quem acompanha alguém com cancro da mama ou, simplesmente, não tendo qualquer contacto com a doença, tem consciência de que “essa lotaria lhe pode calhar”. Na realidade, esta obra serve para que a pessoa “perceba o que
o tumor delas é,” adianta Emília Vieira à Nova Gente. “Felizmente, desde os anos 90 que tem havido uma grande consciencialização no sentido da deteção precoce. E porquê? Porque não é possível prevenir o aparecimento do cancro. É algo que é aleatório. Estima-se que, em 2050, uma em cada três mulheres possa vir a ter cancro de mama.” E será que é possível falar-se de uma cura? “Uma coisa é estar curado, outra é estar livre da doença. Tem sempre que se fazer vigilância, até porque uma mulher que teve um cancro numa mama aumenta, de imediato, em 50 por cento a probabilidade de ter na outra.

A médica faz questão de alertar a quem passa por uma situação destas que não está sozinha e, inclusive, tem direitos que deve reclamar. Por isso, dedica um capítulo do manual aos apoios que um doente oncológico deve exigir.

Emília Vieira apresenta as perguntas que lhe colocam com mais frequência e esclarece cada uma delas

É verdade que a mamografia provoca cancro?
É importante frisar que essa compressão não provoca cancro. Pode é ajudar a detetar o cancro da mama antes que surjam sinais ou sintomas, isto é, antes que a mulher o identifique.

“Devo ou não contar aos meus filhos?”
Se tem filhos pequenos, não é boa ideia querer omitir a verdade. É preferível contar, evitando que façam conjeturas, algumas até piores do que a realidade. Explique-lhes sempre com uma linguagem simples que a sua doença não é contagiosa e que eles não têm culpa da mesma. Tranquilize-os, dizendo que farão o possível para não alterar os hábitos da família e que, enquanto não recuperar do tratamento, outras pessoas irão ajudá-los para que tudo corra bem. Diga-lhes que o seu cabelo pode cair e que pode ficar mais impaciente. Se tem filhos adolescentes, necessita de outros cuidados.
Eles têm possibilidade de obter informações sobre a doença e tendem a ter mais consciência da gravidade. Podem manifestar medo pelo futuro, se um dos pais faltar. Transmita-lhes que o cancro muito provavelmente é curável e que muita gente vive bem com a doença.

Em que consiste a quimioterapia? Como atua?
A quimioterapia engloba um conjunto de tratamentos para combater o cancro, chamados “citostáticos”, no qual são usados medicamentos que atuam principalmente nas células cancerosas. Têm como objetivo destruir ou inibir o crescimento dessas células. Um tratamento pode consistir na administração de um medicamento único ou na combinação de vários. Cada medicamento tem uma função específica e é usado consoante o tipo de cancro que se pretende tratar.

“Quando posso fazer a reconstrução mamária?”
Geralmente, é na consulta multidisciplinar que primeiro se aborda o tema da reconstrução mamária, entre o oncologista e o cirurgião oncoplástico ou o cirurgião plástico que, em conjunto, definem a melhor estratégia para cada caso.

“Poderei manter a minha vida sexual?”
Este assunto é, na maior parte das vezes, omitido pela equipa médica, ficando a doente sem saber como lidar com as dificuldades que vão surgindo durante o tratamento. É preciso que este tema também seja abordado na consulta. Se o seu médico não falar sobre este assunto, pergunte, questione e coloque todas as suas dúvidas em cima da mesa. Não deve ter receio de falar sobre a questão da sexualidade. A saúde sexual é um direito de todos
e as equipas médicas têm o dever de responder a todas as dúvidas das pacientes.

“As minhas filhas também devem fazer o teste genético?”
Sempre que se confirma a existência de mutação genética numa mulher com cancro da mama, esse estudo é depois alargado a familiares diretos. Com frequência são detetadas mutações em mulheres saudáveis. O que fazer nestes casos? • Rastreio anual com ressonância magnética e mamografia; • Prevenção cirúrgica.

Os homens também têm cancro da mama? E que tipo de tratamentos fazem?

Um por cento dos tumores da mama surgem em homens. Quer dizer que, se há cerca de 6000 novos casos por ano, 60 aparecem em homens. O seu aparecimento é mais comum em homens com mais de 60 anos. A maioria dos homens ainda desconhece que pode ser afetada pela doença e esse facto pode levar a um diagnóstico tardio, algo que muitas vezes pode ser fatal. Em caso de aparecimento de um nódulo na mama, alteração no formato do mamilo ou secreção mamilar da mama, deve procurar de imediato o médico. Se existirem antecedentes familiares, também deve aconselhar-se
com o médico – mesmo não existindo sintomas.

Que encargos poderão ter os doentes com os tratamentos para o cancro da mama?
À semelhança de todos os outros tratamentos que são feitos nos hospitais do SNS (Sistema Nacional de Saúde), os custos associados a qualquer
tratamento são integralmente suportados pelos hospitais, não tendo o doente de comportar qualquer despesa. Apenas nos casos em que os medicamentos são dispensados nas farmácias, e dependendo do escalão de comparticipação, existem custos para os doentes.

“Ainda não tenho filhos. Posso engravidar depois dos tratamentos?”
Alguns dos tratamentos usados no cancro da mama podem condicionar a fertilidade da mulher, como é o caso da quimioterapia, em que alguns dos fármacos usados atuam sobre os ovários, causando infertilidade. Por isso, se tiver o desejo de ainda ter filhos, antes de iniciar os tratamentos, e se um deles for quimioterapia, converse com o seu médico sobre essa possibilidade. A mulher deve ser referenciada o mais cedo possível a especialistas em Medicina da Reprodução, de modo a que se possa disponibilizar a preservação dos ovócitos ou tecido ovárico com maior possibilidade de sucesso, sem comprometer o início do tratamento.

Quais os fatores de risco para desenvolver cancro da mama?
Idade – Com o aumento de idade, há maior risco. É menos frequente antes da menopausa. Raça – Mais frequente na raça branca, caucasiana, do que nas mulheres de raça negra, hispânicas ou asiáticas. História pessoal – Ter tido cancro numa mama aumenta a probabilidade de vir a ter na outra. História familiar – Ter familiares diretos com cancro da mama, principalmente pré-menopáusicos, tanto do lado materno como paterno. Estroma mamário denso – O estroma é o conjunto de gordura e tecido fibroso que envolve os ductos, lóbulos, vasos sanguíneos e vasos linfáticos, dando à mama a sua forma. As mulheres pós-menopáusicas com estroma denso na mamografia têm maior risco. Primeira gravidez tardia – Depois dos 30. Primeira menstruação cedo e menopausa tardia – Mulheres com uma história menstrual longa ou que nunca tiveram filhos. Terapêutica hormonal de substituição – Realizada durante cinco ou mais anos após a menopausa. Mutações genéticas – Mutações dos genes BRCA1 e 2, entre outros, aumentam o risco, pelo que devem ser sugeridas pelos especialistas medidas que impeçam o aparecimento da doença (dez por cento dos tumores da mama são por mutação genética). Radioterapia prévia – Tratamentos de radioterapia na face anterior do tórax antes dos 30. Obesidade após a menopausa – A gordura corporal produz estrogénios (hormonas femininas) para compensar a inatividade ovárica após a menopausa. Há estudos que demonstram que níveis elevados de estrogénio na menopausa aumentam o risco. Álcool e tabaco – O álcool juntamente com o tabaco potenciam a atividade cancerígena um do outro. Stress – Metade das mulheres com cancro da mama refere o stress ou factos negativos marcantes da sua vida como fatores de risco para o desencadear. Geralmente, são esses factos que dão início a comportamentos prejudiciais para a saúde, como o aumento de consumo de álcool e tabaco, maus hábitos alimentares, falta de exercício, falta de descanso…

Texto: Lídia Belourico; Fotos: Pixabay e D.R.

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