Bebé sem rosto continua a evoluir e já come papas

Rodrigo, conhecido como o bebé sem rosto, já celebrou quatro meses e continua a evoluir favoravelmente

Rodrigo, o bebé sem rosto, faz quatro meses dia 7 de fevereiro. O menino contrariou todas as previsões dos médicos, que lhe deram apenas horas de vida, e continua a lutar, apesar das mal-formações de que sofre e que não foram detetadas pelo médico que acompanhou a gravidez.

Segundo a mãe, em declarações ao CM, o menino já come papas e sorri para os pais, reconhecendo-os. Normalmente, as papas são introduzidas mais tarde na alimentação dos bebés, mas uma vez que um dos medicamentos que o menino toma é um diurético, os pais, Marlene e David, foram aconselhados a começar já as papas para que o bebé engorde.

Na passada semana foi submetido a nova avaliação médica no Hospital de Dona Estefânia, confirmando-se que está bem. Até ao final do mês ainda será visto em Coimbra.

Rodrigo nasceu a 7 de outubro, sem nariz, olhos e parte do crânio. Os pais, Marlene e David, apresentaram queixa contra o médico Artur Carvalho que acompanhou a gestação e realizou as ecografias.  A madrinha do menino, Tânia, contou que o dia do parto foi «um misto de emoções» para a família e que o pai do menino estava em choque.
«Sei que quando a porta do bloco de partos se abriu, pela primeira vez, vi uma equipa médica gigante, ao fundo do corredor, completamente paralisada, eles não tinham reação, o bloco de partos parou», conta.

«Fomos levar as crianças a casa e quando voltámos ao hospital o David [pai do bebé] já se tinha acalmado mais um pouco e conseguimos perceber que ele não tinha nariz, não tinha olhos e que não ia sobreviver. Já o tinham levado para estudo, e que não passava provavelmente daquela noite. Foi o prognóstico que nos foi dado naquele momento».

Pais vivem para o filho

Rodrigo sobreviveu e contrariou as expetativas. «A evolução do Rodrigo nestes quatro meses tem sido uma surpresa para todos. A Marlene e o David estão mais unidos do que nunca. Eles conseguem fazer este trabalho com  o Rodrigo porque estão sempre juntos», revela.

«Um dos cuidados principais com o Rodrigo é nada tocar na cabeça dele. Para além das más formações físicas e cerebrais, não nos podemos esquecer que ele tem parte do crânio sem osso, uma bolsa de líquido na cabeça, e, ao ter hidrocefalia, essa bolsa tem um risco de romper. Qualquer pano, qualquer ligadura, qualquer gorro poderia ficar preso, criar alguma fricção e rebentar essa tal bolha que é coberta por uma camada muito fina de pele. Ao rebentar, há o risco de uma meningite ou outra coisa qualquer que pode levar à morte imediata. A Marlene e o David vivem para o filho 24 horas por dia, organizam a vida deles a pensar primeiro os cuidados do Rodrigo  e eles estão sem segundo plano», conta.

O medo do pior

«Apesar de o Rodrigo estar com quatro meses de vida e superar todas as expetativas, o medo de a qualquer momento ele dormir e não acordar mais continua presente», lamenta a madrinha.

Rodrigo é seguido por uma pediatra, mas também por um neurocirurgião, neurologistas, uma equipa de otorrino, oftalmologia e genética. « Tem ainda os cuidados paliativos que vem duas vezes por semana a casa e que dão todo o apoio aos pais. O David e a Marlene foram treinados na eventualidade de ser necessário intervir em SOS».

A madrinha diz ter a «certeza absoluta» que se tratou de «negligência médica» e pede justiça. «Desde o primeiro momento tive a certeza absoluta que se tratava de negligência médica, entretanto eu dirigi-me com a Marlene e o David –  fomos os três –  diretamente à ordem dos médicos para apresentar queixa, situação essa que não aconteceu, porque estranhamente a pessoa que nos recebeu indicou-nos que não tinha condições, nem conhecimentos suficientes, para nos receber.  Nesse momento percebi que não nos queriam ouvir e, como tal, quando saímos dali a primeira coisa que fizemos de imediato foi ir o Ministério Público ( MP) apresentar queixa […] A Marlene e o David já foram ouvidos no MP […] como sabem está em segredo de justiça e até ao momento não sabemos mais nada», lamenta.

«Sabemos também que está a decorrer um inquérito na Direção Geral de Saúde que ainda não finalizou. Ora, passaram quatro meses e daqui a dois meses o médico vai voltar a exercer funções. Portanto, espera-se que nos próximos dois meses façam aquilo que não fizeram em quatro meses, que tomem uma decisão, uma iniciativa, para que estas situações não voltem a acontecer.»

«Justiça será quando esse profissional de saúde for irradiado da medicina. Na minha opinião, não poderá mais exercer», diz ainda.

O futuro de Rodrigo

O futuro continua «incerto» para o pequeno Rodrigo. «Neste momento há mais perguntas do que respostas. O Rodrigo tem dado muita luta, passaram quatro meses, ninguém esperava. Há duas semanas perguntava a uma das medicas: ‘ Doutora acha que o Rodrigo irá fazer as ações normais dos bebés nos tempos normais, como por exemplo sentar-se?’. A resposta dela foi: ‘eu não esperava que ele estivesse vivo, quanto mais sentar-se. Não sabemos’», conta.

«Ele travou uma batalha sozinho»

Tânia não tem dúvidas. O afilhado é um herói que lutou sozinho pela própria vida, «Temos de aguardar que ele cresça para chegarmos à fase de tentar sentar, tentar andar, gatinhar, pegar nas coisas… só quando chegar essa altura vamos saber o quanto ele estará afetado e se consegue ou não –  com alguma limitação ou não – desempenhar essas funções. Até ao momento, sabemos que o Rodrigo sorri, distingue-nos a todos, já palra e, tirando a altura em que está com fome, até é um bebé fácil de se aturar», diz.
«Não podemos nos esquecer de uma coisa: o Rodrigo durante quatro meses travou uma batalha sozinho porque o que estava estipulado era deixar seguir a natureza, ou seja, nada fariam para impedir que o Rodrigo se fosse abaixo e fazer com que ele ficasse connosco. Portanto, durante quatro meses, ele travou uma batalha sozinho e superou-a. Ele é para lá de herói. Para mim já é um milagre», termina.

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Texto: Marta Amorim e Ricardina Batista; Fotos: D.R.

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