Pedro Carvalho com novos projetos no Brasil: «Acredito no trabalho e na paixão»

Considerado um dos atores que mais brilhou no Brasil, em 2019, Pedro Carvalho já tem novos projetos em marcha. Depois de um homem apaixonado por uma transexual, o artista prepara-se para dar vida um legionário frio e calculista. «Tive de me transformar numa verdadeira máquina de guerra».

Pedro Carvalho faz cada vez mais sucesso no Brasil. A personagem Abel, da novela A Dona do Pedaço, trouxe-lhe o reconhecimento há muito desejado no outro lado do Atlântico e, atualmente, é um dos atores estrangeiros de maior destaque na ficção brasileira. De tal forma que o ator já tem novos projetos ‘na manga’.

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Depois de um homem apaixonado por uma transexual, Pedro prepara-se agora para dar vida um legionário frio e calculista. Em entrevista, o ator revela como se preparou para dar corpo a esta máquina de guerra e fala ainda da possibilidade de lançar um novo livro de receitas.

Foi distinguido como um dos atores que mais brilhou na televisão brasileira no último ano. Como se sente com esta distinção?
Foi muito bom receber a notícia. Fazer uma carreira internacional não é nada fácil, mas acredito no trabalho, na dedicação, na paixão e na perseverança. Este personagem, o Abel, em A Dona do Pedaço, foi um grande desafio. O público gostou muito e a novela foi a mais vista nos últimos seis anos. O meu barómetro é quando estou na rua e ouço ‘você nem imagina a alegria que nos levou a casa todas as noites’. Esse é o maior prémio de todos. Confesso que demorei a assimilar que estava entre um dos 10 atores do Brasil que mais se destacaram em 2019, segundo a Revista Veja. Não queria acreditar estar entre atores, como Rodrigo Lombardi ou Regina Casé, que são verdadeiras referências.

O Abel foi muito acarinhado pelo público. Na sua opinião, a que se deve o êxito desta personagem?
Foi, de facto, uma personagem muito acarinhada. Sinto isso todos os dias. Até hoje não sei explicar o fenómeno, talvez por ser um personagem cómico, ingénuo e que mostra como o preconceito está na cabeça das pessoas. O público cada vez mais quer ver verdade. Vivemos numa era em que tem de se falar do que é normal e imposto por uma sociedade ainda em parte racista, misógina e fóbica. Todos são iguais, todos têm os mesmos direitos. O facto de a personagem ter uma certa forma de falar, de ferver em pouca água, de ter uma autoestima nas alturas, juntamente com a ingenuidade e bondade extrema, fez com que o Abel tivesse rapidamente um carinho e uma aceitação do público que eu nunca imaginei.

Uma pessoa trans não tem de ser prostituta

 O facto de ele se apaixonar por uma mulher transexual teve influência na aceitação do público?
Acredito que tenha suscitado curiosidade, mas o ingrediente principal para o sucesso do personagem e deste casal foi, sem dúvida, o perfil dos dois personagens, a comicidade das cenas e o facto de o Walcyr Carrasco [autor da novela], de forma tão inteligente, ter abordado um assunto tão sério.

Sente que este género de personagens – que tocam em determinados temas considerados tabu por muita gente – são importantes para a sociedade?
Falar de relação trans ainda é uma questão no Brasil e isso suscitou, claramente, interesse e curiosidade do público em perceber como e porquê, e rapidamente perceberam que é uma relação como outra qualquer. Foi desmistificado um assunto que nunca tinha sido abordado desta forma natural, como ele é realmente. É importante falar-se das coisas. A Glamour (Britney) é uma mulher e sente-se como mulher, neste caso tanto na realidade como na ficção. Tem documentos como mulher e é assim que ela deve ser tratada. A Glamour que trouxe muito dela para o personagem, representou muitas mulheres trans e mostrou muitos obstáculos e impedimentos pelos quais passam diariamente. Também é um facto que a média de vida de uma pessoa trans é de 35 anos de idade e que diariamente são assassinadas pessoas trans no mundo inteiro. O Walcyr Carrasco mostrou que uma pessoa trans não tem de ser prostituta, e que pode ter um emprego como outra pessoa qualquer. Para mim, foi um privilégio ter sido um dos peões que ajudou a contar esta história.

«Estou com vontade de lançar um livro em breve»

Apesar de esta não ser a primeira novela que faz no Brasil, esta distinção é um reconhecimento do público brasileiro?
Esta é minha terceira novela no Brasil e este reconhecimento foi algo que não esperava. Eu percebi o sucesso do personagem, o sucesso da novela, mas a concorrência é muita e eu sou estrangeiro. Ser destingindo é um reconhecimento e tanto! Estou muito feliz e grato.

No final das gravações, chorou e afirmou que este tinha sido um projeto especial? Porquê?
Há projectos que são especiais, mais que outros, por um conjunto de coisas. Em 15 anos de carreira e cerca de 15 novelas, sem dúvida que estA personagem e esta novela, este elenco, o dia a dia de gravações, os amigos que fiz, os atores incríveis com quem contracenei, aprendi com toda a equipa que envolveu o projeto e o colocou num nível de sucesso nunca antes visto, foi de facto mais que especial. Durante meses, fiz uma família ali.

Quais as cenas que mais gostou de gravar e porquê?
Todos os dias que chegava e ríamos do início ao fim do dia. Não só por causa do núcleo em que estava inserido na história, o de comédia, mas porque o ambiente e o clima entre todos nós era muito agradável. Então, todas as cenas foram especiais.

Consta que, com base em tudo o que aprendeu com a sua personagem, planeia lançar um livro de receitas de doces. Este projeto vai para a frente?
Já lancei dois livros em Portugal. Um livro infanto-juvenil chamado Segue o teu Sonho e um livro de receitas, Sopa para a Síria. E estou de facto com muita vontade de lançar um próximo muito em breve. Quem sabe se não terá essa cariz de receitas de doces? É uma hipótese. Tenho também outros de contos infantis que escrevi ainda guardados. Gosto de escrever, veremos o que irá surgir primeiro…

Se isso acontecer, quando será lançado? E será apenas no Brasil ou também em Portugal?doces. Este projeto vai para a frente?
Segue o Teu Sonho e Sopa para a Síria foram lançados apenas em Portugal. Os próximos não sei…

«É frio, bruto e calculista»

Vai entrar agora no filme O Segundo Homem. Isto quer dizer que vai continuar pelo Brasil nos próximos tempos?
Terminei a novela e, no dia seguinte, já estava em São Paulo a filmar. Ainda durante as gravações da novela, sempre que podia tinha ensaios para compor este personagem, o Rui Coimbra, um legionário da legião estrangeira (grupo clandestino que existe no Brasil), completamente obstinado e obcecado pela carreira militar.

Como foi a preparação dessa personagem?
Tive de me transformar numa verdadeira máquina de guerra, pronta para matar a qualquer custo. O personagem é frio, bruto, calculista e vai estar envolvido num assassinato misterioso que acontece dentro do Quartel. Tive que fazer uma preparação muito intensa a nível de treinos físicos, porte de arma, treino militar e intensifiquei as minhas aulas de fonoaudiologia, visto que é o meu primeiro personagem falado em português do Brasil. A preparação foi intensiva. E como eu estava a gravar muito, condensaram todas as minhas cenas em quatro semanas de filmagem.

Os seus planos passam por ficar a viver no Brasil ou vai estando entre os dois países, dependendo dos projetos que tiver?
O Brasil tem-me abraçado de uma forma que me satisfaz muito a nível profissional, sinto-me desafiado a cada projeto. Embora eu não seja pessoa de fazer planos, a minha residência irá sempre de encontro àquele que for o maior desafio profissional para mim no momento. É claro que tenho uma equipa que trabalha comigo em Portugal e no Brasil que durante estes anos tem ajudado nessa orientação. Mas o que me realiza de facto é isso, portanto se puder trabalhar ‘cá’ e ‘lá’ é bom sinal. É sinal que me apresentam desafios interessantes nos dois países e mediante isso vou construindo os meus passos.

De que mais tem saudades de Portugal?
Sem qualquer sombra de dúvidas que tenho mais saudades da minha família e amigos.

Já se sente tão brasileiro como português?
O meu país é Portugal, sou e serei sempre português, mas sinto o Brasil já como a minha segunda casa.

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Reprodução Instagram

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