Fábio Guerra: “Não há dúvidas de que sou eu”, assume um dos arguidos ao ver agressões

Prossegue o julgamento dos ex-fuzileiros acusados da morte do agente da PSP Fábio Guerra. Segundo dia fica marcado pelo testemunho de agentes e existem diversas menções a Clóvis, suspeito que está foragido.

Fábio Guerra: “Não há dúvidas de que sou eu”, assume um dos arguidos ao ver agressões

O segundo dia do julgamento da morte de Fábio Guerra fica marcado pelos testemunhos dos seis agentes da PSP, cinco homens e uma mulher, que estavam na companhia do agente que acabou por perder a vida na sequência de agressões bárbaras à porta da discoteca MOME, em Lisboa. Estas são as principais testemunhas do Ministério Público. Foi também a primeira vez que os pais de Fábio Guerra viram o filho ser agredido com gravidade. De acordo com o Correio da Manhã, o casal chorou e abraçou-se durante o momento complicado.

Leia depois
Fábio Guerra junta-se à extensa lista de jovens assassinados na noite
A morte do agente da PSP Fábio Guerra deixou todos em choque. Nos últimos meses têm sido vários os exemplos de extrema violência ocorridos em espaços noturnos (… continue a ler aqui)

Rafael foi o primeiro a ser ouvido. Diz ter sido a primeira pessoa do grupo a sair da discoteca, às 6h15. “De repente vi uma pessoa no chão. E vi duas pessoas a darem pontapés na cabeça. Ouvia-se bem. Nas imagens de videovigilância era o Cláudio Coimbra e o Clóvis”, diz, em declarações citadas pelo Correio da Manhã. “Fomos todos a correr. Tentamos afastar. Gritei polícia. Vejo o meu colega Leonel Moreira a levar um murro. Ouvi-o a identificar-se como polícia”, acrescenta. Dizendo que ligou para o 112, identificando-se como agente.

“Sou o rei do Montijo. Ninguém se meta com os ciganos”

A testemunha diz ainda que ouviu Clóvis gritar. “Sou o rei do Montijo. Ninguém se meta com os ciganos”, conta. Refere ainda ter sido agredido por Vadym, que lhe disse: “Queres levar mais?”. “Quando estávamos à procura dos suspeitos foi quando o meu colega João me ligou a dizer ‘Volta para trás, quem está deitado no chão é o nosso colega Fábio Guerra’”, conta. Diz ter ficado apavorado e que ficou à espera do INEM.

Rafael é então questionado por Miguel Santos Pereira, advogado de defesa. “Quando se dirige aos arguidos diz que é polícia?”, pergunta. “Já me tinha identificado como polícia. As pessoas sabiam que era polícia”, responde. Diz ainda que tinha consumido bebidas alcoólicas, nada que fizesse com que não estivesse sóbrio. É então que a juiz questiona os arguidos Cláudio Coimbra e Vadym se reconhecem as imagens da agressão. Dizem ambos que sim e Vadym admite ter dado soco e pontapé na cabeça de Fábio Guerra. “Não há dúvidas de que sou eu”, diz.

“Não há dúvidas de que sou eu”, assume Vadym

Depois de um testemunho curto, segue-se Afonso. Que assume não conhecer Fábio Guerra nem os pais da vítima mortal. Diz que estava na mesma discoteca com três amigos. E que se apercebeu da confusão enquanto esperava por um Uber para ir para casa. “Vimos um indivíduo a ser o principal agressor. Agrediu quatro pessoas, com socos e pontapés”, diz. Descreve um dos agressores como “indivíduo negro, de casaco, 1.70m”. E o outro “branco, barba, alto”. Conta ainda que não se recorda de alguém ter gritado “polícia”. Fala num terceiro agressor que gritou “sou o rei do Montijo” depois de desferir um murro.

“O Fábio estava no meu colo e ali ficou”

Mais uma testemunha. Que conta o que aconteceu quando estava à porta da discoteca. “De instinto fui tentar separar. Quando olhei já estavam muitas pessoas envolvidas. Empurrões, socos. E fui lá tentar separar. Há um rapaz no chão, tentei ajudá-lo. Há outro que cai. Dirigi-me ao Fábio, fui tentar ajudá-lo. Estava sozinho, no chão. O Fábio estava no meu colo e ali ficou.” Refere ter visto o agente levar um pontapé na cabeça, sem precisar o autor. E que Fábio terá ficado inconsciente após dois pontapés na cabeça. “O Fábio identificou-se como polícia já no chão. Só aí é que ouvi”, refere.

“Olho e vi todos à luta uns contra os outros. Vi um deles a ir buscar uma pedra”

A testemunha seguinte garante não conhecer os arguidos nem a família. Estava também à porta da discoteca, à espera de um Uber. “Olhei e vi uma pessoa no chão”, conta. Acrescentando ter a ideia de que era uma situação de “todos contra todos”. Não destaca nenhum grito específico, mas salienta algo sobre “ser um rei”. “Olho e vi todos à luta uns contra os outros. Vi um deles a ir buscar uma pedra”, diz. De acordo com a acusação, é Clóvis quem tem a pedra.

“Não ouvi ninguém dizer somos polícia”

Segue-se Vasco. Que estava na discoteca ao lado do MOME. “Eu e o meu grupo ficámos na rua. Estava com um grupo de amigos e um grupo de pessoas começaram os distúrbios. Estava longe o desacato. Mas o desacato foi se aproximando”, diz. “Não ouvi ninguém dizer somos polícia”, refere Vasco. Explicando que estaria a uns 10 metros do local da confusão.

“Vejo que estão a bater nos meus colegas e começo a ser espancado pelo Cláudio”

É a vez de João, o segundo colega de Fábio Guerra a ser ouvido. “Saio da discoteca e vejo logo a confusão. Vejo que estão a bater nos meus colegas e começo a ser espancado pelo Cláudio. Quando me consigo levantar vejo uma pessoa caída no chão. Percebo que é o Fábio”, diz. Conta ainda ter visto Leonel (outro dos agentes) a ser agredido e Rafael (agente da PSP) a tentar acabar com a luta. Garante ter sido agredido com murros na cabeça por parte de Cláudio e de outra pessoa, que não consegue identificar.

“Começa a destruí-lo com pontapés”

Leonel é o terceiro agente da PSP a testemunhar. E que começa por dizer que só conheceu os pais da Fábio depois da morte do polícia. “Saímos por volta das 6h. Dois ficaram ainda a pagar. Fomos para o passeio, quando vemos o Cláudio a dar um soco a um rapaz inanimado. Começa a destruí-lo com pontapés. Estavam os três”, conta. “Peguei no Cláudio, agarrei-o. Disse-lhe que era polícia. Ele disse: ‘não tens nada a ver com isto’ e dá-me um soco”, revela. “Mais um soco, começo a sangrar do sobrolho. Começa a vir-me sangue para os olhos. Tento afastar-me, recuo mais. Vou em direção à rua, já bem afastado. Eu com as mãos cheias de sangue e voltam os três homens. Vem o Cláudio e diz: ‘Estás a esfregar as mãos? Anda, mano a mano’”, refere.

Assume que tentou socar Cláudio, mas sem grande impacto. “Vadym deu-me um pontapé ainda. Nessa altura vou em direção a Algés. O Fábio estava tombado, a cerca de 30 metros. Vejo duas pessoas a tentar reanimar o Fábio. Completamente assustadas com a situação. Não sei quem eram. Agressões completamente desproporcionais. Estavam a agredir. Quando disse que era polícia falei alto. Disse-lhe sou polícia, pára!’”, diz. Referindo ainda ter a sensação de que um segurança o tentou socar. A defesa de Vadym pergunta se viu os arguidos a pontapear a cabeça. “O Cláudio e o Clóvis sim. O Vadym não tenho a certeza, mas fiquei com essa sensação”, responde.

Junte-se a nós no Instagram

Texto: Bruno Seruca

Impala Instagram

Mais

RELACIONADOS