Idosa «vítima de negligência» em lar de Setúbal corre o risco de perder o pé

«Aquilo para mim é o corredor da morte. A Luísa morreria ali se não se tivesse feito nada», contou uma amiga da família da utente de um lar em Setúbal ao Portal de Notícias Impala

Luísa Helena Pereira, de 83 anos, foi admitida a 25 de junho nos Cuidados Continuados Integrados num lar de Setúbal, após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em abril deste ano. O episódio deixou-a com dificuldades de mobilidade e sequelas a nível cerebral. Seis meses depois, a utente que sofre de diabetes e foi diagnosticada com início de demência, encontra-se internada no Hospital Curry Cabral num «estado de magreza extrema, total dependência e em risco de perder um dos pés».

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Elisabete Baptista, de 54 anos, filha da idosa, acusa o centro e lar do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de «negligência médica». «Por que é que a minha mãe não recebeu cuidados no centro antes de chegar a este estado?». Esta é a pergunta que a filha da utente não consegue ver respondida, conta Elisabete ao Portal de Notícias Impala. «Aquilo para mim é o corredor da morte. A Luísa morreria ali se não se tivesse feito nada», começa por afirmar uma amiga da família ao nosso site.

Idosa entra no lar de Setúbal e fica num «estado de magreza extremo»

Segundo a filha, que mora no Canadá, apesar de a mãe ter melhorado inicialmente quando entrou no Clube da Amizade de Setúbal, no Alto da Guerra, passou «de andar com a ajuda de uma pessoa e de uma canadiana para ficar acamada, confinada a uma cadeira de rodas, menos reactiva e sonolenta», passado algum tempo. Para além de ter ficado «cada vez mais prostrada» com o passar dos meses, Luísa Helena «perdeu bastante peso».

«A Luísa chegou a um estado de magreza extremo. Para mais, ainda foi isolada porque não tinha um feitio fácil, queria regressar para casa. Ou seja, como facilmente incomodava terceiros a resposta do centro foi deixá-la sempre drogada. Assim era um incómodo menor. Tornou-se num pequeno cadáver sempre num estado sonolento», garante a amiga que visitou a paciente.

De acordo com a filha, Luísa Helena «esteve isolada num quarto privado de dia 2 de setembro até à passada sexta-feira, devido a uma alegada infecção urinária». Durante este período, apenas esteve no centro na companhia de outros utentes durante cinco dias.

Elisabete esteve de maio a 31 de agosto em Portugal a acompanhar a mãe. Após ter regressado ao estrangeiro pois «não podia deixar de trabalhar», a filha regressou ao nosso país a 22 de outubro, onde permanece até hoje. Para além de Elisabete, Luísa recebia semanalmente visitas de outros familiares.

«Não há garantias de que o pé seja salvo»

Em agosto, a paciente fez uma ferida no calcanhar. Mais recentemente, em meados de outubro, durante uma visita, Elisabete reparou que a mãe tinha as duas pernas com gazes «dos pés às canelas». Ao questionar a enfermeira do lar, foi-lhe dito que Luísa Helena tinha feito a ferida «possivelmente quando fazia fisioterapia».

Preocupada com a dimensão e gravidade do ferimento e sem respostas por parte dos especialistas, Elisabete decidiu marcar uma consulta para a mãe na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, no Marquês de Pombal, apesar de não ter sido aconselhada a fazê-lo por nenhum dos médicos que segue a progenitora no centro.

No dia 19 novembro levou a mãe à consulta. Após ser examinada, Luísa Helena foi de imediato encaminhada de urgência para o Hospital de São José, em Lisboa. «Quando a enfermeira tirou as ligaduras disse de imediato que a minha mãe tinha de ir para as urgências, pois estava em perigo de perder um pé. Perguntei-lhe se achava normal terem deixado, no centro, chegar a este ponto o estado de saúde da minha mãe. A especialista aconselhou-me a fazer essa pergunta à unidade de saúde», conta a filha.

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Quando questionou o Clube da Amizade com a situação, o médico, responsável pelo centro e pelo caso de Luísa, apenas referiu que não tinham visto o estado em que estava a ferida da utente». «O médico disse que não viram [a gravidade da ferida] e que fizeram o que podiam. Disse que a minha mãe estava medicada com antibióticos e analgésicos», revela.

«Atualmente, a minha mãe foi transportada para o Hospital Curry Cabral e encontra-se ligada a um aparelho de drenagem para limpar a infecção. Contudo, não há garantias que o pé seja salvo. Estão a tentar fazer tudo», esclarece Elisabete.

«Nem a um animal se faz o que foi feito»

Tendo em conta que Luísa Helena entrou na Unidade de Cuidados Integrados do referido centro com vista a «recuperar andar e lucidez», Elisabete mostra-se indignada e exige respostas por parte do lar de Setúbal. «Por que é que deixaram a ferida da minha mãe chegar a este estado? Tendo em conta que é uma doente de alto risco, por que é que eu é que tive de ter o discernimento de a levar a uma consulta com um especialista? », questiona a filha.

Para além de a «incompetência profissional por parte da equipa de médicos e enfermeiros», a amiga da alegada vítima salienta que a «negligência médica» pode afectar outros utentes «que não têm forma de se defender». «É revoltante. Nem a um animal se faz o que foi feito».

O Portal de Notícias Impala contactou o Clube da Amizade, o Hospital de São José e a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal a pedir esclarecimentos sobre o caso, mas até ao momento, ainda não recebeu qualquer resposta.

Nota: Este artigo foi rectificado às 14h30 do dia 29 de novembro. Em causa, estão informações equivocadamente recebidas durante a entrevista.

Texto: Mafalda Tello Silva | WIN

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