Missão de avaliação propõe retirada da força da SADC de Moçambique até julho de 2024

Uma missão de avaliação propõe a retirada completa dos militares da África Austral que combatem os grupos armados em Cabo Delgado até julho de 2024, assinalando que a situação na província “está agora calma”, apesar de os riscos prevalecerem.

Missão de avaliação propõe retirada da força da SADC de Moçambique até julho de 2024

A avaliação, consultada hoje pela Lusa, foi proposta na terça-feira à Cimeira Extraordinária da troika do Órgão da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) sobre Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança, realizada na terça-feira.

O comunicado divulgado na terça-feira pelas autoridades moçambicanas no final da cimeira não aborda a aludida proposta de retirada da Missão Militar da África Austral (SAMIM, na sigla inglesa), mas dá conta de uma extensão do prazo da presença da tropa regional na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, por mais um ano, ou seja, até 16 de julho de 2024.

Nas recomendações, a missão de avaliação aconselha o início gradual da saída da SAMIM a partir de 15 de dezembro deste ano e a conclusão da retirada em 15 de julho de 2024, isto é, um dia antes do fim do prazo da prorrogação decidida na terça-feira pela troika da SADC.

A análise da situação feita aponta como riscos decorrentes da permanência da SAMIM por mais um ano o “crescente ´stress` financeiro dos Estados-membros e falta de orçamento para ações de mobilização das comunidades para o apoio às tropas estrangeiras”.

Lança também um alerta para o perigo da deterioração das relações entre os militares da SADC e as comunidades afetadas pelo “terrorismo” em Cabo Delgado e para uma retirada menos bem planificada.

A referida missão de avaliação apresentou à Cimeira Extraordinária da Troika do Órgão da SADC outro cenário de uma permanência mais longa dos militares da África Austral, com um calendário com início de retirada gradual em 15 de dezembro de 2024 e conclusão em 15 de julho de 2025.

Uma outra opção, entretanto descartada por força da extensão por mais um ano do mandato da SAMIM, seria uma prorrogação da presença das forças da SADC por apenas seis meses, mas este panorama acarretaria riscos de uma rápida degradação da situação de segurança e alastramento da ação dos grupos armados a mais territórios.

Para todos os três cenários de retirada das forças regionais, a missão de avaliação apontou o imperativo de as Forças Armadas de Defesa e Moçambique (FADMO) serem habilitadas para substituírem os militares estrangeiros nas zonas recuperadas dos rebeldes em Cabo Delgado.

A esse propósito, a missão nota os esforços de capacitação do exército moçambicano levados a cabo pela União Europeia (UE) e Estados Unidos da América (EUA).

A SADC assinala que se registaram progressos na luta contra os insurgentes, tendo estes sido encurralados num perímetro reduzido no distrito de Macomia.

Face às derrotas que sofreram, prossegue-se no documento, os insurgentes adotaram uma nova tática, dividindo-se em pequenos grupos, que se misturam com as populações e compram produtos a preços inflacionados, num esforço de “ganhar corações e mentes”.

Nessa tentativa de convívio com as populações, tentam passar a mensagem de que pretendem apenas instalar um Estado islâmico e são contra a violência, refere a missão de avaliação da SADC.

Apesar dos avanços, as ações de combate conjunto contra os terroristas devem continuar, adaptando-se ao novo modo de atuação dos rebeldes, através da intensificação dos mecanismos de recolha de informação operativa, lê-se no texto.

Além da SAMIM e das forças governamentais moçambicanas, combatem a insurgência em Cabo Delgado as tropas do Ruanda, estando estas a operar no perímetro da área de implantação dos projetos de gás natural da bacia do Rovuma.

A província de Cabo Delgado enfrenta há quase seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da SADC, libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul de região e na vizinha província de Nampula.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

 

PMA // VM

Lusa/Fim

 

 

By Impala News / Lusa

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