Militar morta na Póvoa de Varzim deixa diário a contar abusos sexuais no quartel

Ani Dabó, a militar que morreu na praia de Póvoa de Varzim a tentar salvar uma amiga, deixou um diário escrito onde descreve os abusos sexuais que sofreu quando prestava serviço no Centro de Tiro de Alcochete.

Militar morta na Póvoa de Varzim deixa diário a contar abusos sexuais no quartel

Ani Dabó, a militar que morreu em novembro – afogada na praia da Lagoa, Póvoa de Varzim, ao tentar salvar uma amiga – foi vítima de abusos sexuais. A jovem de 20 anos relatou o episódio numa espécie de diário improvisado ao qual o Correio da Manhã  teve acesso.

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Os abusos aconteceram em 2019, quando Ani Dabó prestava serviço no Centro de Tiro de Alcochete da Força Aérea. “A primeira coisa que ouvi foi: ‘bem feita!’ (…) “Não me lembro do que aconteceu, mas o meu corpo denunciou que alguém tinha tido relações sexuais comigo. Só soube disto quando acordei (…) “Acusei fadiga, sujidade sexual e acordei como nasci, nua. Havia uns boxers no chão e as minhas cuecas estavam para baixo”, escreveu Ani Dabó no diário.

“E agora eu pergunto: e se fosse a tua filha, mãe e irmã que estivesse a trabalhar num sítio cheio de homens? E se de vez em quando gostasse de se divertir, e um dia um canalha entrasse no seu espaço e abusasse dela?”, questionava a jovem militar, ao relatar a situação dolorosa por que passava.

Ani Dabó chegou a levar o caso a tribunal, no entanto não conseguiu ir em frente. Arranjou um advogado oficioso que aceitou defendê-la sem qualquer custo. Manteve a sua versão durante anos, corroborada por exames físicos que mostravam o abuso e apontavam o violador.  Mas quando chegou o julgamento, fraquejou e acabou por não conseguir expor a situação. Dias depois, escreveu no diário: “Cresci e cometi um erro. Um erro”. Já em tribunal, culpou-se, embora sendo vítima, e chegou a dizer: “se calhar até quis”. Esta quinta-feira, 15 de dezembro, o Tribunal da Relação de Évora decide o processo.

ani dabó, jovem militar que morreu numa praia da póvoa de varzim
Militar que morreu na praia da Póvoa de Varzim deixa diário a contar abusos sexuais sofridos no quartel

Jovem militar morre “num ato de altruísmo”

Na madrugada do dia 25, a primeiro-cabo Ani Muscuta Fonseca Dabó, de 20 anos, estava entre o grupo de oito militares do Exército, em formação na Escola de Serviços da Póvoa de Varzim, que se deslocou a um bar na praia da Lagoa, para celebrar o final do curso. Os jovens saíram do bar já depois das 4 horas e dirigiram-se até à linha de água “para molhar os pés”, acabando por ser apanhados pela ondulação, que estava particularmente forte. Segundo o Exército, “a primeiro-cabo Ani Dabó, sem hesitar, num ato de altruísmo, procurou ajudar camaradas seus que se encontravam em dificuldades, ato que, lamentavelmente, resultou no trágico falecimento da militar”.

Fotos: D.R.

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