Inteligência Artificial coloca em causa noção da realidade
Neurocientista e especialista em Inteligência Artificial, Fabiano de Abreu, explica como a tecnologia pode prejudicar a nossa relação com a realidade.
A Inteligência Artificial (IA) é provavelmente o assunto mais falado do ano. Com ferramentas lançadas por grandes empresas de tecnologia que apresentam produções visuais e de texto quase indistinguíveis das reais. Algo que tem gerado várias polémicas sobre os seus impactos. Como foi o casos recente da imagem que se tornou mundialmente viral do papa Francisco com um casaco fora do padrão religioso. Que logo foi confirmada como sendo produzida por uma IA, mas que enganou até mesmo consagrados órgãos de comunicação social. Ou a cena da novela Travessia que deu que falar e na qual a personagem Karina é assediada por um criminoso que utiliza a tecnologia deep fake para se passar visualmente por uma menina.
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Recentemente uma petição publicada pela organização Future of Life, assinada por grandes nomes como Steve Wozniak (Apple), Elon Musk (Tesla, SpaceX e Twitter) e Jaan Tallinn (Skype) pedia que fosse feita uma pausa de seis meses nas pesquisas relacionadas à Inteligência Artificial mais desenvolvidas que o Chat GPT-4. Para garantir que os seus riscos fossem “administráveis”, mencionando mesmo “grandes riscos para a humanidade”. Esta petição já conta com mais de mil assinaturas. De acordo com Fabiano de Abreu Agrela, especialista em Inteligência Artificial, programação em Python e IPI Intel, as novas tecnologias reforçam uma “cultura de mentira” da atualidade.
“Ferramentas de inteligência artificial tornam a linha entre o que é feito por máquina e o que é feito por humanos muito tênue, confundindo a noção de realidade”
“Com as redes sociais já estamos a viver uma cultura de mentira. Onde aspetos narcisistas são cada vez mais reforçados a níveis patológicos. Ferramentas de inteligência artificial tornam a linha entre o que é feito por máquina e o que é feito por humanos muito tênue, confundindo a noção de realidade. O que abre margem para diversos outros problemas, em especial a falsidade ideológica digital, como nos casos recentes do papa e da novela Travessia. Há anos que estudo os impactos das redes sociais na população como um propulsor de comportamentos narcisistas. O que tem aumentado os casos de mitomania (síndrome que faz o indivíduo mentir descontroladamente) em crianças perante a necessidade de aparecer gerada por essas médias. Agora, com o advento das novas tecnologias de Inteligência Artificial, cujos limites ainda não são totalmente conhecidos, essa situação, assim como a saúde mental em geral da população, tende a aumentar”, acrescenta
“Por isso, é importante realizar uma pausa no desenvolvimento de IAs para conseguir mecanismos que possibilitem a identificação de materiais produzidos por softwares. Além de compreender melhor como funcionará a sua integração com outros sistemas. E os seus impactos na sociedade, na população e no uso de tecnologias”, defende.
Uso de Inteligência Artificial para gerar imagens falsas é crime?
Outro grande debate acerca do uso de IAs é sua utilização para gerar imagens falsas atribuídas a outras pessoas. De acordo com o advogado Sérgio Vieira, o uso de imagens geradas por softwares pode ser considerado crime. “Por ser uma tecnologia bastante nova esse tipo de especificidade ainda não é tipificada. Mas a criação de imagens artificiais por Inteligência Artificial pode ser enquadrado em outros crimes, como difamação, injúria, crimes de ódio, estelionato, falsidade ideológica ou crimes eleitorais. Além de poder significar casos de ‘pornografia de vingança’, quando imagens falsas de cunho sexual de pessoas são divulgadas. No entanto, o maior desafio para criminalizar esse tipo de ação é determinar se uma imagem foi produzida por Inteligência Artificial ou se é real”, termina.
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Fotos: 0fjd125gk87/Pixabay
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