Breivik perde processo contra Estado norueguês por tratamento desumano

O extremista de direita norueguês Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas em 2011, perdeu o novo processo judicial que interpôs contra o Estado norueguês por tratamento desumano, segundo a decisão hoje emitida pelo tribunal de Oslo.

Breivik perde processo contra Estado norueguês por tratamento desumano

Breivik, de 45 anos, há cerca de 12 anos encarcerado numa unidade de muito elevada segurança, resolveu atacar o Estado, alegando que o confinamento violava os seus direitos humanos, mas a justiça norueguesa arquivou o processo.

Durante os cinco dias do julgamento, realizado no início de janeiro no ginásio da prisão de Ringerike (sudeste da Noruega), Breivik, por vezes em lágrimas, descreveu-se como deprimido e viciado em Prozac e acusou as autoridades de quererem “levá-lo ao suicídio”.

Por seu lado, o Estado justificou o rigoroso mas confortável regime prisional de Breivik com o facto de ele ser perigoso, argumentando que continua a representar “um risco absolutamente extremo de violência totalmente desenfreada”.

“Breivik beneficia de boas condições materiais de reclusão e de um grau relativamente elevado de liberdade quotidiana”, declarou Birgitte Kolrud, juíza do tribunal de Oslo, na sua decisão.

“Parece pouco realista prever grandes alterações [ao seu regime de encarceramento], uma vez que é improvável que assistamos a mudanças significativas no perfil de risco a curto prazo”, afirmou a magistrada.

Antes de o veredicto ser anunciado, o advogado de Breivik indicou que iria recorrer se perdesse em primeira instância.

A 22 de julho de 2011, Breivik fez explodir uma bomba junto à sede do Governo, em Oslo, matando oito pessoas, e em seguida matou mais 69, na maioria adolescentes, ao abrir fogo num campo de férias da Juventude Trabalhista na ilha de Utøya.

Em 2012, foi condenado à pena máxima então em vigor na Noruega: 21 anos de prisão, com a possibilidade de extensão enquanto continuar a ser considerado perigoso.

Na prisão, dispõe de três divisões separadas – uma cela de habitação, uma cela de estudo e uma de ginásio – no piso superior e, no piso inferior, que partilha alternadamente com outro recluso, uma cozinha, uma sala de televisão, uma sala de jantar e uma sala de visitas.

Tem acesso a um televisor de ecrã plano e a uma consola de videojogos Xbox e tem três periquitos, em resposta ao seu pedido de ter um animal de estimação.

“Breivik está a ser particularmente bem tratado”, declarou o diretor da prisão, Eirik Bergstedt.

Mas o seu advogado, Øystein Storrvik, argumenta que as autoridades não tomaram medidas suficientes para compensar o seu isolamento, limitando as suas interações humanas essencialmente ao contacto com profissionais (guardas, advogados, pastor).

“Ele nunca sairá, está bem consciente disso. É possível decretar uma pena de prisão (de facto) perpétua e impedir qualquer contacto humano durante a execução dessa pena?”, inquiriu Storrvik durante o processo.

Na sua opinião, o tratamento de que o seu cliente tem sido alvo viola o artigo 3.º da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que proíbe “penas ou tratamentos desumanos ou aviltantes”.

Invocando também o artigo 8.º da mesma convenção, que garante o direito à correspondência, Breivik exigia igualmente que fosse agilizado o processo de filtragem do seu correio.

“Breivik representa hoje o mesmo perigo que a 21 de julho de 2011”, contrapôs Andreas Hjetland, procurador do Ministério Público norueguês, sublinhando que ele poderia continuar a cometer atos de violência ou inspirar outros a fazê-lo.

No decurso do processo, ficou a saber-se que Breivik fez três tentativas de suicídio e protagonizou uma campanha de desobediência em 2018: desenhou inscrições nas paredes, incluindo uma suástica, com os seus excrementos, gritou “Sieg Heil” (“Viva a Vitória”, expressão muito utilizada no período nazi, frequentemente conjugada com a saudação a Hitler) e fez uma greve de fome.

Dois especialistas chamados a depor consideraram, no entanto, que o recluso não está gravemente deprimido nem tem tendências suicidas.

“Não dá a impressão de que ele tivesse um verdadeiro desejo de morrer”, declarou o psicólogo responsável pela avaliação da sua perigosidade, Inni Rein, referindo relatórios em que ele admitiu que as suas tentativas de suicídio eram um meio para obter a satisfação das suas reivindicações.

Em 2016, Breivik tinha já levado o Estado a tribunal pelos mesmos motivos e foi parcialmente bem-sucedido em primeira instância, antes de as suas pretensões serem totalmente rejeitadas em recurso.

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) considerou posteriormente a sua queixa “inadmissível”.

ANC // PDF

By Impala News / Lusa

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