Antigo PR de Cabo Verde “honoris causa” defende em Lisboa mais atenção para os idosos

O antigo Presidente cabo-verdiano Pedro Pires, 89 anos, defendeu hoje mais atenção para a população idosa, uma “nova categoria social” que é também consumidora e determinante para a economia, além de guardiã das memórias das sociedades.

Antigo PR de Cabo Verde

Pedro Pires falava após receber o doutoramento “honoris causa” do ISCTE, em Lisboa, com a investigadora e especialista em inteligência artificial Manuela Veloso.

“A população idosa constitui uma nova categoria social que deve ser tida em conta pelos decisores e pelas políticas públicas, não deve ser vista como um mero fardo para as finanças familiares e públicas. Para começar, é um consumidor, fator determinante numa economia liberal, mas, para além de constituir a memória das nossas sociedades, representa um importante depositário de saberes e de experiências, que ambiciona continuar ativo e útil”, afirmou.

Com um passado rico e determinante na luta anticolonial, o comandante Pedro Pires confessou que a sua memória tem sido “um enorme pesadelo pessoal” que “funciona enquanto uma consciência crítica”.

“Estou sendo permanentemente interpelado, pois tenho verificado, com surpresa, que as realidades pelas quais passei, os factos que testemunhei ou de que tomei conhecimento, direta ou indiretamente, os acontecimentos históricos, muitos dos quais foram históricos, muitos dos quais foram trágicos, estão sendo seletivamente ocultados ou mitigados sub-repticiamente com um propósito: De não manchar as imagens magnânimas e democráticas dos poderosos e donos poder”, disse.

Sobre a sociedade atual, considerou “evidente que o uso desproporcional do poder, da força, o egocentrismo, a obsessão nacionalista ou religiosa e a ganância desmedida transportam necessariamente a violência, as atrocidades, a crueldade e o desprezo pela vida e pelos interesses e direitos do outro”.

“A agressividade e a violência armada, económica, ecológica, religiosa, social, cultural e religiosa têm vindo de forma persistente a caracterizar as relações entre as sociedades, as nações e os estados, opondo-se, por outro lado, aos importantes avanços alcançados, em matéria de diretos humanos legais”, adiantou.

À margem do evento, Pedro Pires disse à Lusa que a distinção representa “um estímulo pessoal para fazer mais, acrescentar mais qualquer coisa na vida e no percurso” que fez.

E congratulou-se por o seu nome estar associado aos 50 anos do 25 de Abril, uma vez que a cerimónia do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa marca os 51 anos da instituição, este ano dedicados ao cinquentenário da revolução portuguesa.

“Não há dúvida que o 25 de Abril é um facto histórico, talvez o mais importante dos acontecimentos em Portugal. É uma rutura com o passado e uma perspetiva de um novo caminho, de uma nova realidade”, afirmou.

Manuela Veloso, por seu lado, disse à Lusa que este doutoramento “honoris causa” é “uma honra” em três vertentes.

“Reconhece a carreira da pessoa, uma carreira de investigação, de ensino, longa, de dedicação ao ensino e à investigação”, a área por si — da Inteligência Artificial – atualmente uma área muito importante, e o Iscte, propriamente, pois tenho uma admiração muito grande pela reitora, pela instituição, por combinar a tecnologia, as empresas, o Governo e a parte social.

A reitora do Iscte, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmou, no discurso com que introduziu os galardoados, que Pedro Pires e Manuela Veloso “são personalidades muito distintas, mas que também têm muito em comum”.

“Têm em comum vidas marcadas pelo regime democrático que teve o seu momento ‘inicial, inteiro e limpo’ em 25 de Abril de 1974. Têm em comum vidas de compromisso, num caso, o compromisso com a independência, a democratização e a modernização do seu país, no outro, uma vida de compromisso com a ciência, a produção de conhecimento e a formação de novas gerações de cientistas”, prosseguiu.

E acrescentou: “A concretização de tais compromissos tão distintos é tributária, podemos dizer, do regime democrático e do 25 de Abril. Pedro Pires e Manuela Veloso são personalidades que têm ainda em comum terem derrubado muros, terem transposto fronteiras, terem alcançado metas impossíveis”.

SMM // MLL

By Impala News / Lusa

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