Lavrov acusa Ocidente de impedir “resolução pacífica” entre “povos irmãos”

O chefe da diplomacia da Rússia, Serguei Lavrov, acusou hoje o Ocidente de, ao apoiar a Ucrânia na resistência à invasão russa, impedir “os caminhos para uma resolução pacífica” no confronto entre dois “povos irmãos”.

Lavrov acusa Ocidente de impedir

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para discutir o fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia, Lavrov acusou os países ocidentais de pressionarem a Ucrânia a “prosseguir com um confronto militar sem sentido”, apesar de Kiev estar “obviamente em agonia” e “incapaz de atingir o objetivo de infligir uma derrota estratégica à Rússia”, que invadiu o país vizinho há quase dois anos.

Lavrov acusou particularmente Washington de estar a usar o conflito entre Moscovo e Kiev para gerar lucro para empresas norte-americanas.

O ministro russo referia-se a declarações feitas no mês passado pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que afirmou que 90% do dinheiro atribuído à ajuda ucraniana acaba por ser canalizado de volta para os Estados Unidos “em benefício das empresas americanas, das comunidades locais e do fortalecimento da base industrial de defesa dos Estados Unidos”.

Lavrov disse que altos funcionários do Governo norte-americano são “cínicos” nos seus esforços para fazer com que o Congresso concorde em financiar uma nova assistência à Ucrânia.

“Noventa por cento do orçamento militar que está a ser dado pelos Estados Unidos ao regime de Kiev permanece nos Estados Unidos e é usado para desenvolver a indústria militar do país e para atualizar o armamento norte-americano. O velho lixo está a ser usado na Ucrânia”, apontou Lavrov.

O líder da diplomacia russa argumentou também que a guerra que o seu país iniciou “não foi contra a Ucrânia e nem contra o povo ucraniano”, uma vez que os dois países “ainda estão ligados por laços fraternos”, mas sim contra um “regime criminoso, que atua com impunidade”, referindo-se ao Governo de Volodymyr Zelensky.

Lavrov assegurou que a Rússia está pronta para negociações sobre a Ucrânia, mas não sobre como manter os atuais líderes em Kiev no poder.

O ministro afirmou ainda que a fórmula de paz proposta por Zelensky “é um caminho para lugar nenhum” e “quando mais cedo” os Estados Unidos e a União Europeia “perceberem isso, melhor”.

Esta foi a décima primeira reunião convocada pela Rússia sobre a questão do fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022.

Moscovo acusa frequentemente os Governos ocidentais de travarem uma guerra por procuração na Ucrânia com o objetivo final de enfraquecer a Rússia.

Face à reunião de hoje, dezenas de países, incluindo Portugal, criticaram a “hipocrisia” da Rússia por convocar mais uma reunião do Conselho de Segurança para protestar contra o apoio ocidental a Kiev.

Num comunicado conjunto, quase 50 países, incluindo Estados Unidos, França, Reino Unido, Israel, Ucrânia, Espanha ou Portugal, salientaram que as “transferências legais de armas para a Ucrânia” são feitas em apoio ao “direito inerente de autodefesa” de Kiev, em conformidade com a Carta da ONU.

Ao longo da reunião, países como os Estados Unidos consideraram “lamentável” que a Rússia continue a convocar a repetidas reuniões sobre este tema e a usar o Conselho de Segurança “como palco para a desinformação flagrante”, negando que seja o apoio do Ocidente a prolongar esta guerra.

“É cinismo da mais alta ordem afirmar que o apoio legítimo e legal à autodefesa da Ucrânia está a prolongar a guerra. Vale a pena repetir: há centenas de milhares de soldados russos no território internacionalmente reconhecido da Ucrânia. Não há um único soldado ucraniano em solo russo”, disse o diplomata norte-americano Robert Wood.

“Nenhuma quantidade de teorias de conspiração e acusações infundadas apagam o facto de que a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia deu início a esta guerra. É a busca obstinada do Presidente (da Rússia, Vladimir) Putin pela destruição da Ucrânia e pela subjugação do seu povo que está a prolongá-la”, acrescentou.

De acordo com Wood, os “desígnios imperialistas da Rússia são óbvios” e a reunião de hoje “é mais um esforço para desviar a atenção dos seus crimes de guerra”.

“É um incendiário a culpar os bombeiros, para que possa continuar o seu crime”, comparou.

Até 31 de outubro de 2023, os aliados de Kiev tinham fornecido aproximadamente 100 mil milhões de dólares (91,8 mil milhões de euros) em ajuda militar à Ucrânia desde a invasão russa, de acordo com a plataforma Security Council Report.

Isto inclui o fornecimento de armas convencionais pesadas como tanques, veículos blindados, sistemas de artilharia e veículos aéreos de combate não tripulados, além de armas ligeiras e de pequeno calibre.

Os Estados Unidos continuam a ser o maior doador militar à Ucrânia, tendo contribuído com aproximadamente 44 mil milhões de dólares (40,4 mil milhões de euros) desde fevereiro de 2022.

No entanto, a assistência adicional norte-americana à Ucrânia foi paralisada no Congresso, com os republicanos a exigirem medidas de segurança reforçadas nas fronteiras no sul dos Estados Unidos em troca de ajuda a Kiev.

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By Impala News / Lusa

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