Ex-líderes internacionais pedirão conjuntamente liderança feminina da ONU

Várias ex-líderes e governantes internacionais trabalharão em conjunto para que seja escolhida uma mulher para suceder a António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas (ONU) em 2026.

Ex-líderes internacionais pedirão conjuntamente liderança feminina da ONU

Segundo disse à agência espanhola EFE a ex-ministra das Relações Exteriores da Argentina e atual presidente da organização não-governamental pró-igualdade de género GWL Voices, Susana Malcorra, várias políticas internacionais (algumas ex-candidatas a secretária-geral da ONU) não promoverão “nenhum nome em particular”, mas pressionarão para que se concretize uma liderança feminina.

Esta questão será discutida na próxima semana em Madrid, no âmbito da apresentação do relatório ‘Mulheres no Multilateralismo 2024’, que “mostra que a participação das mulheres continua a ser muito complicada em alguns locais”, segundo a ex-ministra argentina.

O secretário-geral da ONU é nomeado pela Assembleia-Geral da organização, por recomendação do Conselho de Segurança, órgão composto por 15 Estados-membros, cinco deles permanentes e com direito de veto (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China) e outros 10 eleitos por um período de dois anos.

O segundo e último mandato de cinco anos de Guterres termina em 2026 e, como lembra Malcorra, “por rotação geográfica [uma regra não escrita, mas geralmente respeitada], [o cargo] corresponderá à América Latina”.

“O que o nosso grupo [formado por cerca de 70 líderes mulheres de 41 países] quer é que seja uma mulher e que seja desta região. Não estamos a promover nenhum nome em particular, acreditamos que há várias mulheres importantes na região que podem assumir o comando da Secretaria-Geral”, disse.

Malcorra insiste que o sucessor de Guterres deve ser uma mulher e garante que vão pressionar nesse sentido, destacando que nos ambientes onde essa pressão tem de ser feita já se referem à “próxima secretária-geral” em termos femininos.

A antiga governante observa que, quando Guterres foi eleito, já havia mulheres que poderiam ter ocupado a posição: “Se procuravam alguém com cargos, incluindo de primeira-ministra, havia mulheres, por exemplo Helen Clark”, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, que também integrava a lista de possibilidades naquele ano.

“Foi a vez da Europa de Leste e havia [a búlgara Irina] Bokova, ex-diretora da UNESCO. Infelizmente, apesar do respeito e reconhecimento que temos por Guterres, uma condição que ele não cumpriu foi ser mulher e ainda assim acabou por ser eleito”, analisou.

Na opinião da argentina, a chegada de uma mulher à liderança da ONU “não tem volta” e lamenta que, nos 80 anos de história da organização, não tenha havido nenhuma: “Devemos colocar sobre a mesa uma oferta rica em opções de mulheres talentosas”.

Malcorra sublinhou que “o sistema multilateral sofre os efeitos da fratura que o mundo vive”, uma vez que “as instituições sofrem quando os Estados sofrem”, e não estão imunes ao “confronto” atual.

Por isso, garante que “é hora de apostar e fortalecer o sistema ONU” e, para isso, “é fundamental procurar que a próxima secretária-geral lidere um novo período”.

“As mulheres trazem uma perspetiva diferente para os desafios que o mundo enfrenta”, sublinhou, ao mesmo tempo que pediu “alguém que se aproxima de nós em busca de soluções e não de problemas, porque parece que se estão a tentar criar novos problemas através de novos conflitos”.

A GWL Voices foi fundada em 2019 por iniciativa de Malcorra, Bokova e Clark, que se reuniram em 2018, “depois de terem fracassado na busca por uma secretária-geral”, para traçar outro caminho: “Queríamos mostrar que, depois de competir, queríamos colaborar”. 

 

MYMM // JH

By Impala News / Lusa

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