Existem limites para a Inteligência Artificial? O caso curioso do supercampeão de poker do Facebook

Em tempos, a IA era vista como um sonho dos filmes de ficção científica, uma utopia que pertencia única e exclusivamente ao mundo da fantasia. Hoje, no entanto, é impossível desassociar tecnologia e IA e é cada vez mais difícil compreender quais são os seus verdadeiros limites.

Existem limites para a Inteligência Artificial? O caso curioso do supercampeão de poker do Facebook

Em 2021, a inteligência artificial (IA) já se tornou numa parte indelével da nossa sociedade. O governo australiano acabou de investir mais de 1.3 biliões de dólares no desenvolvimento da tecnologia e as maiores corporações do planeta já incorporaram IA em vários dos seus produtos. Em tempos, a IA era vista como um sonho dos filmes de ficção científica, uma utopia que pertencia única e exclusivamente ao mundo da fantasia. Hoje, no entanto, é impossível desassociar tecnologia e IA e é cada vez mais difícil compreender quais são os seus verdadeiros limites.

Inteligência para lá da matemática

Os primeiros exemplos de IA eram relativamente simples. O cérebro humano consegue compreender um bot que é extremamente eficaz a vencer um jogo de xadrez. Faz sentido porque o xadrez é um sistema fechado, em que as probabilidades de cada jogada podem ser avaliadas de forma puramente matemática. Não é por isso surpreendente que um sistema artificial, baseado em código binário, seja capaz de rivalizar com os maiores jogadores de xadrez do mundo. O mesmo se pode dizer dos primeiros sistemas de IA capazes de criar composições originais: afinal, a música funciona de uma maneira essencialmente matemática, até porque se encontra assente em rígidos modelos de construção harmónica, que incluem conceitos numéricos como escalas, notas, ou frequências de timbre.
Mas nos últimos 5 anos, a IA tem evoluído de forma… estranha. Hoje em dia, já se fala da possibilidade da IA criar a sua própria linguagem, uma maneira específica de comunicação que pode ser inacessível à compreensão humana. A Google já estuda a possibilidade de criar IA que seja capaz de sonhar, algo que até então era visto como uma impossibilidade. No mundo do análise de informação, já se fala de IA capaz de deduzir sentimentos a partir de grandes bancos de dados. No meio académico, um sistema tecnológico conhecido como Project Debator já provou que a IA consegue discutir temas sociais extremamente complexos com grande eficácia, capaz de rivalizar com as habilidades de alguns dos maiores campeões de debate do mundo. A IA parece ter evoluído de forma tão rápida que parece mesmo ser capaz de dominar sistemas tão imprevisíveis quanto o poker…

Pluribus, o supercampeão de poker do Facebook

Se os bots de xadrez marcaram o início da primeira geração de IA, é seguro dizer que o bot de poker do Facebook assinalou o começo da nova vaga da tecnologia. Em 2019, a maior rede social do mundo produziu o Pluribus, um supercampeão de poker 100% artificial que é capaz de competir contra os melhores jogadores do mundo. Este tipo de IA pode parecer pouco surpreendente quando se equaciona a possibilidade de IA que sonha ou inventa uma linguagem; mas quem compreende o jogo do poker sabe que o Pluribus representa muito mais do que um mero truque tecnológico.
O poker é um dos jogos mais populares do mundo, praticado por milhares de portugueses. Um jogo de cartas assente numa hierarquia de combinações, o poker possui uma vertente matemática muito forte. Mas quem tenta a sua sorte em jogos de poker sabe que os números e as probabilidades representam uma parte mínima daquilo que faz do poker um jogo tão especial. Os melhores jogadores de poker não são aqueles que compreendem apenas a matemática por detrás do jogo, muito pelo contrário! Para ter sucesso no poker é preciso pensar fora da caixa, saber ir para além dos princípios básicos, compreender a psicologia humana e saber enganar de forma inteligente os oponentes na mesa de jogo. São qualidades intrinsecamente humanas, que em teoria nunca poderiam ser replicadas por um sistema artificial inteligente.

Uma máquina “humana”

A natureza do jogo do poker faz com que o Pluribus seja um caso fascinante no contexto do desenvolvimento da IA. Os seus criadores traduziram ideias que eram até então tidas como “humanas” (como o ato de fazer bluff) em código matemático, de forma a desenvolver um supercampeão do poker que parece não conhecer limites. O Pluribus já foi testado num contexto de poker competitivo e conseguiu arrasar a competição. O bot não só consegue enganar os seus adversários como prever de forma concisa os seus comportamentos.
O Pluribus é tão bom a jogar poker que necessitou de apenas 20 horas de aprendizagem para dominar o jogo. Se compararmos o treino do Pluribus com o treino de um jogador profissional de poker (que normalmente demora anos) passa a ser difícil continuar a defender a ideia de que a inteligência humana é intrinsecamente superior à das máquinas.
Em 2021, a IA atravessa um período rápido de desenvolvimento e obriga-nos a considerar, enquanto sociedade, uma série de novos dilemas éticos. Será que devemos restringir os avanços da IA? Será que o cérebro humano se vai tornar obsoleto e ultrapassado na próxima década? E até que ponto podemos controlar a IA? São questões fascinantes que merecem ser discutidas de forma consciente e responsável.

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