Precisamos mesmo de fazer os bebés arrotar? Eis o que diz a Ciência

Os pais são aconselhados a fazer os bebés arrotar depois de amamentá-los e alguns acham que o arroto é importante para reduzir ou prevenir o desconforto do choro ou para diminuir a probabilidade de as crianças bolçarem. Mas será mesmo necessário que os bebés arrotem?

Os pais são frequentemente aconselhados a colocar os bebés a arrotar após a amamentação. Algumas pessoas acham mesmo que isto é importante para reduzir ou prevenir o desconforto do choro ou para evitar o bolço da criança.

É verdade que os bebés, assim como os adultos, engolem ar quando comem. Arrotar liberta esse ar da parte superior do nosso trato digestivo. Por isso, quando um bebé chora depois de mamar, muitos pais presumem que é porque a criança precisa arrotar. Contudo, isto não é necessariamente verdade.

Por que choram ou bolçam os bebés após mamarem?

Os bebés choram por uma série de razões que nada têm que ver com ‘ar preso’. Choram quando estão com fome, com frio, com calor, com medo, cansados, solitários, sobrecarregados, a precisarem da ajuda de um adulto para acalmarem, com desconforto ou dor, ou sem qualquer motivo identificável. Na verdade, há um nome para chorarem sem causa conhecida – cólica.

Bolçar – isto é: quando um bebé regurgita suavemente um pouco de leite após a mamada – é comum, porque o músculo na parte superior do estômago de uma criança recém-nascida não está totalmente ‘maduro’. Isto significa que o que engole pode facilmente voltar a subir. Vomitar acontece frequentemente quando o estômago do bebé está demasiado cheio, há pressão na barriga ou ele é pegado ao colo depois de se deitar.

Bolçar após a alimentação diminui à medida que os bebés crescem. Três quartos dos bebés de um mês bolçam depois de mamar pelo menos uma vez por dia. Apenas metade das crianças continuam a regurgitar aos cinco meses e quase todos (96%) param por altura do primeiro aniversário.

Arrotar ajuda a reduzir o choro ou a regurgitação?

A maior parte do choro e da regurgitação é normal. No entanto, há comportamentos que não são
A maior parte do choro e da regurgitação é normal. No entanto, há comportamentos que não são

Apesar de os pais serem aconselhados a fazerem os bebés arrotar, não há muitas evidências resultantes de estudos científicos sobre o assunto. Um estudo realizado na Índia acabou por incentivar os cuidadores de 35 recém-nascidos a porem os bebés a arrotar, enquanto os cuidadores de outros 36 não receberam qualquer informação sobre arrotos.

Durante os três meses seguintes, mães e cuidadores registaram se o bebé bolçava após a alimentação e se apresentava sinais de choro intenso. Este estudo concluiu que arrotar não reduziu o choro e, na verdade, até aumentou a regurgitação.

Quando devo me preocupar?

A maior parte do choro e da regurgitação é normal. No entanto, há comportamentos não são:

  • 1. Recusar alimentar-se;
  • 2. Vomitar tanto que o ganho de peso é lento;
  • 3. Tossir durante a amamentação;
  • Vómito sangrento.

Se o bebé apresentar algum dos sintomas acima, aconselha-se a consulta de um pediatra ou enfermeira de saúde infantil.

Se a criança parece não incomodar-se com os vómitos e não apresenta nenhum outro sintoma, nada se passa que requeira atenção médica.

Também é normal que os bebés chorem e se agitem bastante. Este comportamento é aliás habitual duas horas por dia, durante as primeiras seis semanas. este comportamento normal reduz-se geralmente para cerca de uma hora por dia quando completam os três meses de idade.

Chorar mais do que isto, porém, não significa necessariamente que haja alguma coisa errada. O choro intenso e inconsolável da cólica é sentido por cerca de um quarto dos bebés e desaparece com o tempo sem quaisquer cuidados necessários.

Nem todos os cuidadores fazem os bebés arrotar

Uma investigação na Indonésia permitiu descobrir que a maioria das mães que amamentam raramente ou nunca fazem os bebés arrotar após a amamentação
Uma investigação na Indonésia permitiu descobrir que a maioria das mães que amamentam raramente ou nunca fazem os bebés arrotar após a amamentação

Fazer os bebés arrotar parece ser prática tradicional em algumas partes do mundo, mas não noutras. Uma investigação na Indonésia, por exemplo, permitiu esclarecer que a maioria das mães que amamentam raramente ou nunca colocam os bebés a arrotar depois da amamentação.

Um fator que pode influenciar se uma cultura encoraja os bebés a arrotar pode estar relacionado com outro aspeto dos cuidados infantis: a quantidade de bebés carregados. Carregar uma criança num porta-bebés, por exemplo, pode reduzir o tempo que os bebés choram.

As crianças carregados na posição vertical na frente da mãe ou de outro cuidador encontram conforto nessa proximidade e movimento. São mantidos firmes e eretos, o que ajudará o ar engolido a subir e a escapar através de um arroto.

O uso de porta-bebés pode facilitar o cuidado de um bebé. Alguns estudos mostraram também que as mulheres apresentam taxas mais baixas de depressão pós-parto e amamentam por mais tempo quando usam porta-bebés.

Afinal, devo ou não fazer arrotar o bebé?

Fazer arrotar suavemente um bebé não é prejudicial, mas se isso é um momento de stresse para si, pode deixar de fazê-lo
Fazer arrotar suavemente um bebé não é prejudicial, mas se isso é um momento de stresse para si, pode deixar de fazê-lo

A resposta é: depende de cada pai. Fazer um arrotar suavemente não é prejudicial. Se achar que o arroto é útil para o bebé, continue. Se tentar fazer com que o bebé arrote após a amamentação está a provocar stresse em si ou no bebé, não precisa continuar a fazê-lo.

The Conversation

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