Restaurar a natureza é um trabalho de todos e para todos

Portugal está cheio de lugares que precisam de ser recuperados: florestas e matos queimados, rios reduzidos a fios de água, solos cansados, dunas a desaparecer. Por isso, restaurar a natureza é um trabalho de todos e para todos.

Restaurar a natureza é um trabalho de todos e para todos

Quando se fala em restaurar a natureza, é fácil imaginar técnicos de campo, biólogos ou engenheiros florestais no terreno a trabalhar para que os ecossistemas possam recuperar. Mas e se pensarmos antes em avós que conhecem os sinais da natureza? Em jovens que querem viver de forma mais responsável e fazer a diferença? Em agricultores, pescadores, autarcas, professores e comunidades? A verdade é que o restauro da natureza não é um desafio só para especialistas. É uma tarefa coletiva, onde cada pessoa conta – e onde ninguém deve ficar de fora.

Portugal está cheio de lugares que precisam de ser recuperados: florestas e matos queimados, rios reduzidos a fios de água, solos cansados, dunas a desaparecer. Mas o que muitas vezes falta não são planos ou tecnologias – é envolvimento. Falta ouvir o saber de quem vive nos territórios, incluir as comunidades no desenho das soluções, criar espaço para as pessoas contribuírem com o que sabem, com o que sentem, com o que querem para o futuro. Restaurar é reconstruir. E isso exige participação desde o início. Quando as pessoas são chamadas a pensar, a decidir e a agir, os projetos deixam de ser “dos outros” e passam a ser “nossos”. Isso muda tudo.

“O futuro será mais justo, mais resiliente e mais bonito se for feito com todos. A natureza é de todos. O seu restauro também deve ser”

É também uma questão de justiça social. São muitas vezes as populações mais vulneráveis que mais sofrem com a degradação ambiental – pela perda de rendimento, pelo isolamento, pela falta de recursos. Mas são essas mesmas comunidades que têm um conhecimento íntimo do território. Integrar esse conhecimento é respeitar a diversidade de olhares e valorizar a experiência de quem está no terreno todos os dias.

Vejamos o exemplo de Mértola, no Alentejo. Durante décadas, a desertificação foi encarada como um destino inevitável. Mas nos últimos anos, diferentes organizações têm vindo a mobilizar a comunidade local para transformar o problema numa oportunidade. Agricultores, técnicos, estudantes e vizinhos juntam-se em ações de restauro agroecológico, usando práticas regenerativas que respeitam o solo, a água e o clima. Há hortas comunitárias, eventos educativos, oficinas para todas as idades. A terra começa a recuperar – e com ela, recupera também o ânimo de quem ali vive.

Este envolvimento pode assumir muitas formas: desde associações locais que limpam e cuidam de ribeiras, a escolas que fazem projetos de ciência cidadã, a cooperativas que apostam em práticas agrícolas sustentáveis. Pode passar por ações de voluntariado, orçamentos participativos, ou fóruns de decisão conjunta. A chave está em criar canais de diálogo e cooperação, e em garantir que as pessoas não são apenas “consultadas”, mas verdadeiramente envolvidas.

Porque restaurar a natureza é, no fundo, restaurar a relação entre pessoas e natureza, entre gerações, entre ciência e tradição, entre quem decide e quem vive. É uma oportunidade para reforçar laços, criar pertença e imaginar em conjunto o que queremos deixar a quem vem depois de nós.

O futuro será mais justo, mais resiliente e mais bonito se for feito com todos. A natureza é de todos. O seu restauro também deve ser.

Ângela Morgado | Diretora Executiva da WWF Portugal

Ângela Morgado,
Diretora Executiva da WWF Portugal

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