Restaurar a natureza: um investimento com retorno garantido

Quando falamos de restauro da natureza, falamos de devolver vida a solos exaustos, limpar rios poluídos, recuperar florestas degradadas e apoiar práticas agrícolas que regeneram em vez de esgotar.

Restaurar a natureza: um investimento com retorno garantido

Durante muito tempo, olhar para a natureza foi quase sempre um exercício de extração: o que podemos tirar, o que podemos produzir, quanto conseguimos lucrar. Mas há uma nova forma de ver o território que está a ganhar força – e que pode ser a chave para o nosso futuro coletivo. Restaurar a natureza não é um capricho ambiental. É, cada vez mais, um investimento com retorno garantido: por cada euro investido no restauro ecológico, podemos ter um retorno de 8 a 38 euros.

Quando falamos de restauro da natureza, falamos de devolver vida a solos exaustos, limpar rios poluídos, recuperar florestas degradadas e apoiar práticas agrícolas que regeneram em vez de esgotar. E tudo isto, mais do que “gastar dinheiro com o ambiente”, é investir na base de tudo o que sustenta a nossa economia e o nosso bem-estar. Pensemos, por exemplo, na água. Em muitas regiões do país, a escassez já é uma realidade.

Se restaurarmos as zonas ribeirinhas, para além de protegermos as nascentes e os aquíferos, estamos a garantir que há água disponível — para consumo, para a agricultura, para a indústria e para o turismo. Os ecossistemas funcionam como uma infraestrutura natural que armazena, filtra e distribui esse recurso vital. Ignorar isso tem um custo e pagar por ele sai sempre mais caro.

“Em vez de perguntar ‘quanto custa’, é hora de perguntar ‘quanto poupa’ e ‘quanto valor acrescenta no longo prazo'”

O mesmo se aplica aos solos. Um solo saudável é como uma poupança no banco: guarda carbono, retém nutrientes, permite colheitas mais produtivas com menos fertilizantes. Restaurar os solos agrícolas com práticas regenerativas, e criar espaço para a natureza nas explorações agrícolas, pode significar menos despesas para os agricultores e maior resistência a secas, cheias e pragas. Isso é rentabilidade. É segurança. É futuro.

E depois há os riscos evitados – os chamados “custos de inação”. Cheias mais frequentes? Incêndios mais intensos? Espécies invasoras a dominar paisagens? Tudo isso tem origem, muitas vezes, na inação ambiental. Restaurar a natureza é como reforçar os alicerces de uma casa: pode não ser a parte mais visível, mas é um investimento que garante que tudo o resto se mantém de pé.

Além disso, o restauro cria oportunidades económicas. Há emprego na recuperação da vegetação autóctone (plantação de árvores, sementeiras, remoção de invasoras, etc.), na monitorização da biodiversidade, na engenharia ecológica, no turismo de natureza, na valorização de produtos locais sustentáveis. Há inovação nas soluções baseadas na natureza. E há um enorme potencial de financiamento internacional para quem souber liderar este caminho.

Portugal tem os recursos, as pessoas e o conhecimento para ser um país de referência no restauro da natureza. Mas é preciso mudar a forma como avaliamos estes projetos: em vez de perguntar “quanto custa?”, é hora de perguntar “quanto poupa?” e “quanto valor acrescenta no longo prazo?”. A natureza restaurada é um ativo — e como qualquer bom ativo, traz retorno.

No fundo, restaurar a natureza é garantir que temos futuro com qualidade. Não é um luxo ecológico — é um plano económico inteligente. E dos bons negócios, todos queremos fazer parte.

Ângela Morgado | Diretora Executiva da WWF Portugal

Ângela Morgado,
Diretora Executiva da WWF Portugal

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