Jogadora engravida e Lyon deixa de lhe pagar salários. Clube foi condenado

Foi em março de 2021 que Sara Bjork Gunnarsdóttir, atualmente jogadora da Juventus, descobriu que estava grávida.

Foi em março de 2021 que Sara Bjork Gunnarsdóttir, atualmente jogadora da Juventus, descobriu que estava grávida. Na altura, a islandesa representava o Lyon, em França. O clube deixou de pagar os vencimentos à atleta, a FIFA interveio e deu razão à jogadora. Sara conta agora tudo numa carta aberta.

O momento em que Sara Bjork Gunnarsdóttir descobriu que estava grávida era para ser de grande felicidade, mas as inseguranças tomaram conta da menta da jogadora que chegou mesmo a sentir um sentimento de culpa. A meio-campista só anunciou que estava grávida quando não conseguiu esconder mais, afinal nunca nenhuma companheira tinha anunciado tal coisa e Sara achou que estava a desiludir a equipa e o clube por ser “obrigada” a afastar-se do campo.

Nas primeiras semanas da gravidez, perto de um jogo importante com o rival PSG, Sara vomitou três vezes. No dia do duelo, o treinador perguntou-lhe se estava tudo bem e se podia entrar em campo. Sara disse que não e “foi uma carga de nervos”, refere na carta publicada no “The Players Tribune”.

Sara contou a novidade às colegas que com ela festejaram. O clube assinalou a notícia com uma publicação nas redes sociais. A jogadora quis passar a gravidez junto da família, na Islândia, e o Lyon concordou tendo ficado tudo documentado e assinado. O medo que a assolou no início, deu ali lugar à felicidade e à paz. Mas por pouco tempo… Quando chegou a altura de receber o ordenado, Sara não recebeu e na sua conta caiu apenas o valor referente à segurança social.

“Só queria desfrutar da minha gravidez, mas em vez disso sentia-me confusa”

“Para ser sincera, havia muita logística para lidar, por isso não pensei muito nisso. Provavelmente tinha sido um erro. Mas eu perguntei às outras jogadoras para ter a certeza. Elas receberam na altura certa”, refere na carta. Mas a ausência de pagamentos continuou nos meses seguintes e Sara teve mesmo de recorrer às poupanças para pagar despesas e também a um personal treinar que a ajudou a manter-se em forma durante a gravidez.

O agente da jogadora questionou o clube, mas sem sucesso. Foi aí que surgiu o diretor desportivo do Lyon alegando que Sara receberia o que tinha a receber, mas que a partir do terceiro mês de gravidez já não teria direito a nada, dizendo depois que isso “é o que diz na lei francesa”. “Senti-me abandonada”, afirmou a jogadora que chegou mesmo a ponderar abandonar a carreira. “Só queria desfrutar da minha gravidez, mas em vez disso sentia-me confusa, stressada e traída”, continuou na carta.

A FIFA lançou, a 1 de janeiro de 2021, novas leis em defesa da maternidade que preveem uma licença de maternidade mínima de 14 semanas, das quais pelo menos oito devem seguir-se ao nascimento do bebé. No que respeita ao salário, este é arantido dois terços, no caso de a legislação nacional ou contrato coletivo de trabalho não estabelecerem um valor mais elevado.

“Fizeram-me sempre sentir como se fosse negativo ter tido um bebé”

Depois do nascimento do bebé, apresentou uma queixa à FIFA que avançou com a investigação. O diretor desportivo do clube francês terá dito que “se a Sara for para a FIFA com isto, não terá futuro no Lyon, de todo”. Mesmo assim, a islandesa avançou e regressou à cidade e ao clube. A treinadora terá prometido ajudá-la, mas as coisas não terão acontecido bem assim. O Lyon proibiu-a de levar o bebé para os jogos fora para não incomodar as colegas. Pediu um teste em dois jogos e a resposta foi negativa. “Eles fizeram-me sempre sentir como se fosse negativo ter tido um bebé”, contou.

A jogadora acabou por ganhar. A decisão do processo levado a cabo pelo FIFPro foi conhecida em maio e foi favorável a Sara. O clube francês teria de lhe pagar todos os salários em falta. O Lyon tentou perceber se valia a pena avançar para recurso, mas acabou por aceitar.

Atualmente, Sara Bjork Gunnarsdóttir está em Itália a representar a Juventus. “A vitória foi maior do que eu. Serve como uma garantia de segurança financeira para todas as jogadoras que queiram ter um filho durante a carreira. Queria garantir que ninguém passava pelo que passei. E queria que o Lyon soubesse que não é ok. Isto não é só negócio. Isto é sobre os meus direitos como trabalhadora, como mulher e ser humano. Merecemos melhor”, lê-se na carta.

Para ler depois
Guarda-redes deixa de receber ordenado depois de anunciar gravidez
Alice Pignagnoli diz ter sido tratada como um “brinquedo velho” depois de ter revelado ao clube que estava grávida (…continue a ler aqui)

Impala Instagram


RELACIONADOS