Relato do pai que perdeu a filha na Caparica: “Voltei para ajudar a Sofia e vi-a a ser colhida”

O pai da criança que perdeu a vida devido à aterragem de emergência de uma aeronave ontem, na praia de São João na Caparica, culpa o piloto pela morte da filha, de oito anos

Uma avioneta fez uma aterragem de emergência ontem à tarde, dia 2 de agosto, na praia de São João da Caparica, em Almada, acabando por fazer duas vítimas mortais: um homem, de 56 anos, e uma menina, de 10.

O pai da criança que morreu assistiu a toda a tragédia e momentos depois do incidente quis falar, em directo, com uma jornalista da TVI24 que se encontrava no local em reportagem.

O pai de Sofia, que se encontrava claramente em choque, alheado, incrédulo e revoltado,  explicou como tudo aconteceu e como Sofia perdeu a vida. Tentando sempre manter um discurso coerente, ainda que evidentemente perturbado, disse:

“Vou limitar-me literalmente a factos e também a alguma ou outra opinião. As opiniões são como as vaginas: quem as quer dar dá, e eu hoje tenho esse direito. Nós estávamos ali a brincar (aponta para um local na praia), maré baixa (…) e estava a explicar de forma educativa às minhas duas filhas e aos meus sobrinhos o que é um agueiro e como se forma um agueiro”, contextualizou o pai.

“Entretanto, os meus sobrinhos chamam-me a atenção que vinha uma aeronave baixa na zona do paredão. (…) Isto eu tenho claro sem qualquer deturpação naquilo que se passou. Eu levantei dois deles, três aliás, sem preocupação de serem os meus filhos, minhas filhas, os meus sobrinhos, três deles… Empurrei-os para correrem. Disse à Sofia, que faleceu, 8 anos… para correr atrás de mim e a Sofia correu aquilo que pôde, seguramente. Quando vi que eles (crianças) estavam em segurança… Voltei para trás para ajudar a Sofia e vi-a a ser colhida pela aeronave… Constatei que estava cadáver, não havia qualquer dúvida.”, explicou o pai.

Terminado o seu testemunho, o pai de Sofia insiste em continuar a relatar o que tinha acontecido há momentos, afirmando que no dia seguinte ( 3 de agosto) certamente já não conseguiria falar sobre o acontecimento. Assumindo, assim, consciência do choque que estava a viver:

“Entretanto dirigi-me ao senhor que vinha a pilotar a aeronave e o senhor disse que perdeu o controlo da aeronave. Podia ter-lhe dado dois socos, também tinha esse direito… não o fiz. Basicamente o que lhe disse foi (…) que o senhor fez uma tragetória recta da zona do paredão, atropelou, matou, duas pessoas, aqui (aponta para local na praia) e fez uma tragetória recta até ali (aponta novamente para outro local) com uma azazinha partida, qual braço. E querem-me convencer a mim que o senhor tinha problemas de controlo da viatura… Ele quis aterrar a aeronave sem qualquer preocupação com o resto”, contou, sempre em alvoroço.

No final, o pai da criança acabou por afirmar que a partir daquele momento tinha quatro objectivos na vida:

“Na prática eu tenho quatro objectivos na minha vida neste momento: o primeiro fazer com que a família fique bem, nomeadamente a irmã (filha) e a minha mulher , o segundo enterrar a minha filha, terceiro fazer com que aquele senhor não volte a voar… “, garantiu o pai, tendo sido interrompido pelo cunhado que decidiu colocar a mão na lente da câmara, vendo que este não se encontrava, evidentemente, em condições para estar a falar.

O pai de Sofia seguiu a repórter e o operador de câmara e insistiu em terminar o seu raciocínio. Mais uma vez, nem mesmo o cunhado do pai da menina  conseguiu desencorajá-lo de falar para o meio de comunicação:

“O quarto objectivo da minha vida é fazer com que estes aviões não voem sobre as praias”, finalizou o pai da menina que acabara de morrer.

Por respeito às vítimas, a ImpalaNews decidiu não incluir as imagens vídeo do depoimento feito pelo pai da criança, em direto, da praia.

Segundo as autoridades, Sofia foi atingida na cabeça e o homem nas pernas. Ambos tiveram morte instantânea.

Os dois pilotos encontram-se, neste momento, no Palácio da Justiça de Almada e recusaram prestar declarações aos jornalistas no local. A sessão está atrasada devido ao pedido de consulta, por parte da procuradora, das peritagens recolhidas no local do acidente pela Polícia Marítima e pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidente Ferroviários (GPIAAF). De acordo alguns juristas, o piloto poderá ter incorrido em violação do dever de cuidado, podendo assim ser acusado de homicídio por negligência.

Os pilotos saíram do acidente ilesos, foram interrogados pela Polícia Marítima logo após aterragem e, esta manhã, chegaram por volta da 8h15 ao Palácio da Justiça de Almada, para explicarem ao Ministério Público porque é que optaram por aterrar em terra, e não na água, como manda o protocolo para estas situações.

 

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