Supremo tribunal anula censura ao especial de Natal da Porta dos Fundos

A empresa Netflix tinha anunciado esta quinta-feira o recurso ao Supremo e a decisão foi quase imediata. A censura está anulada.

Supremo tribunal anula censura ao especial de Natal da Porta dos Fundos

O presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Dias Toffoli, decidiu dar provimento à reclamação da Netflix e anulou a censura imposta pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ao programa especial de Natal do grupo humorístico Porta dos Fundos. A empresa Netflix tinha anunciado esta quinta-feira o recurso ao Supremo e a decisão foi quase imediata. A censura está anulada.

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«Uma sátira humorística não tem o condão de abalar valores da fé cristã»

Segundo o jornal Estado de São Paulo, na decisão o juiz Dias Toffoli salientou que o Supremo já tinha definido um entendimento sobre «a plenitude do exercício da liberdade de expressão como decorrência imanente da dignidade da pessoa humana» e como «meio de reafirmação/potencialização de outras liberdades constitucionais».

Concluiu o presidente do Supremo: «Não se descuida da relevância do respeito à fé cristã (assim como de todas as demais crenças religiosas ou a ausência dela). Não é de se supor, contudo, que uma sátira humorística tenha o condão de abalar valores da fé cristã, cuja existência retrocede há mais de 2 (dois) mil anos, estando insculpida na crença da maioria dos cidadãos brasileiros.»

A Netflix tinha recorrido ao Supremo Tribunal Federal do Brasil para continuar a exibir o especial de Natal do grupo humorístico Porta dos Fundos «A Primeira Tentação de Cristo». Fê-lo sob a forma de uma reclamação, meio processual em que se alega que uma decisão do Supremo está a ser desrespeitada por instâncias inferiores. No caso, a Netflix sustentou que o Supremo já tinha deixado claro em julgamentos anteriores que são inconstitucionais quaisquer tipos de censura prévia e restrições à liberdade de expressão. E viu o Supremo dar-lhe razão.

«Apoiamos fortemente a expressão artística e lutaremos para defender esse importante princípio», tinha anunciado a gigante norte-americana de vídeos ‘online’ em comunicado à imprensa.

Netflix considera que foi alvo de censura

A Netflix afirmava, segundo o jornal O Globo, que «a decisão proferida pelo TJ-RJ tem efeito equivalente ao da bomba utilizada no atentado terrorista à sede do Porta dos Fundos: silencia pelo meio do medo e da intimidação». A empresa norte-americana classifica mesmo a suspensão como censura. «A verdade é que a censura, quando aplicada, gera prejuízos e danos irreparáveis. Ela inibe. Embaraça. Silencia e esfria a produção artística», dizia.

Esta quinta-feira, o grupo humorístico Porta dos Fundos colocou também na sua página de Facebook uma declaração em que diz confiar no poder judiciário para defender a Constituição brasileira a a democracia.

A exibição do especial foi suspensa pelo juiz Benedicto Abicair, no Rio de Janeiro, na quarta-feira, atendendo ao pedido da associação católica Centro Dom Bosco de Fé e Cultura.

Depois de apresentar argumentos e a linha jurídica que adotou, o juiz considerou «mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, majoritariamente cristã», que o conteúdo seja retirado «até que se julgue o mérito», recorrendo-se, assim, «à cautela, para acalmar ânimos».

Sátira de Porta dos Fundos não agradou a grupos religiosos

Em 3 de dezembro, a produtora do grupo humorístico Porta dos Fundos lançou o especial de Natal «A Primeira Tentação de Cristo» no qual Jesus é representado como um jovem que terá tido uma experiência homossexual e também insinua que o casal bíblico Maria e José viveram um triângulo amoroso com Deus.

A sátira, de 46 minutos, protagonizado pelos humoristas brasileiros Gregorio Duvivier e Fábio Porchat, não agradou a grupos religiosos, que criticaram a temática. Foi também lançada uma petição contra o filme, com mais de dois milhões de assinaturas de pessoas que consideram que a obra «ofende gravemente os cristãos».

Sede da Porta dos Fundos alvo de ataque

Na madrugada de 24 de dezembro, na véspera de Natal, a sede da Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, foi alvo de um atentado que não provocou vítimas. Numa nota, a produtora condenou «todos os atos de violência» e afirmou esperar que «os responsáveis por este ataque sejam encontrados e punidos». O incidente foi filmado pelas câmaras de vigilância, tendo as imagens sido entregues às autoridades.

Eduardo Fauzi Richard Cerquise, um dos suspeitos de participar do ataque à produtora do Porta dos Fundos, já foi identificado pelas autoridades brasileiras embora se encontre na Rússia. Esta quinta-feira, este suspeito publicou um vídeo nas redes sociais, que diz ter gravado na Rússia, comemorando a decisão judicial de suspensão da exibição. «Essa vitória é uma vitória de todo povo brasileiro (…). O Brasil tem homem (…) para defender a Igreja de Cristo e a Pátria brasileira», afirmou.

O suspeito fazia parte da Frente Integralista Brasileira (FIB), um dos principais grupos nacionalistas e de extrema-direita do Brasil, e que se define como defensora dos valores cristãos, da propriedade privada e da família.

Lusa

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