Quem descobriu o Brasil? Município brasileiro diz que foi Espanha

Em Cabo de Santo Agostinho ensina-se às crianças que foi o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón quem descobriu o Brasil e não o português Álvares Cabral.

Quem descobriu o Brasil? Município brasileiro diz que foi Espanha

Em Cabo de Santo Agostinho, município nordestino brasileiro, ensina-se às crianças que foi o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón quem descobriu o Brasil, contrariando a versão leccionada na maioria das escolas, de que foi o português Álvares Cabral. Segundo explicou à agência Lusa a secretária municipal da Educação do Cabo, Sueli Lima Nunes, cerca de três meses antes da chegada do português a solo brasileiro, Pinzón atracava nas praias do Cabo de Santo Agostinho.

LEIA DEPOIS
Jovem detido em Londres por atirar criança do 10.º andar da galeria Tate Modern

Pedro Álvares Cabral ou Vicente Yáñez Pinzón: quem descobriu o Brasil?

«26 de Janeiro de 1500, com o Tratado de Tordesilhas a dividir os países entre Espanha e Portugal, Vicente Yáñez Pinzón atraca aqui em Cabo de Santo Agostinho, dando-lhe o nome de ‘Santa María de la Consolación’. Porém, ele não se pôde apropriar desta terra devido ao tratado», afirmou Sueli Nunes, acrescentando que o atual nome da cidade foi dado pelos portugueses, aquando da sua chegada àquele território.

Num livro didáctico escolar a que a Lusa teve acesso, em que está descrita a história do Cabo de Santo Agostinho, desde o berço indígena até à actualidade, é uma pintura do busto de Pinzón que serve de entrada ao período dos descobrimentos. «No livro ‘Terra Pernambucana’, de Mário Sette, há um capítulo intitulado ‘a primeira gaivota’, no qual é descrita a grande odisseia de Vicente Yáñez Pinzón que teria avistado a terra em 26 de Janeiro de 1500 (…) Há quem afirme não ser tão precisa esta data, mas terá sido entre 20 de Janeiro e 20 de Fevereiro de 1500», descreve o manual escolar, sem mencionar Cabral, cuja chegada ao Brasil foi registada em 22 de Abril de 1500.

Espanhol é uma referência na cidade do Cabo de Santo Agostinho

Sueli frisa que não é apenas nos manuais escolares e livros didácticos que Pinzón surge como uma figura importante para os cabenses, habitantes daquele município. A memória do navegador espanhol está presente por toda a cidade, desde monumentos, livros, em nomes de lojas, e até em fachadas de padaria.

«Vicente Yáñez Pinzón é uma referência, e se essa referência está colocada na cidade do Cabo de Santo Agostinho, é assim que nós ensinamos, com essa construção. Até porque existe todo um referencial científico que comprova a chegada do espanhol aqui ao Cabo», salientou a secretária da Educação.

Assinado em 7 de Junho de 1494, o Tratado de Tordesilhas, firmado na cidade espanhola com o mesmo nome, determinou a divisão do mundo «descoberto e por descobrir» em duas partes, através de uma linha imaginária traçada a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, de polo a polo, que garantiu os direitos de exploração das terras a oeste à coroa espanhola, e a leste a Portugal.

Cerca de seis anos após a assinatura do Tratado, os irmãos espanhóis Pinzón organizaram uma frota, com quatro caravelas, comandadas por Vicente Pinzón e partiram no sentido Oeste. Em meados de Janeiro chegaram ao cabo de Santo Agostinho, na costa de Pernambuco. Sabendo que estavam em terras portuguesas, e tendo em conta o acordo firmado em Tordesilhas, o navegador espanhol rumou para norte, segundo a plataforma ‘online’ Ebiografia.

Porém, há historiadores que afirmam que a terra denominada de ‘Santa Maria de la Consolación’ por Pinzón era afinal a ponta do Mucuripe, em Fortaleza, no estado do Ceará, e não o Cabo de Santo Agostinho, tese que é defendida no livro «Vicente Pinzón e a Descoberta do Brasil», do jornalista Rodolfo Espínola, e pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen. Teoria essa que em nada afecta a devoção dos cabenses pelo espanhol.

«Pinzón ficou cá por poucos dias, devido ao tratado com Portugal, mas apesar do pouco tempo, foi bastante significativo para todos nós», reforçou a secretária, que mestre em Ciências da Educação.

O navegador dá ainda nome a um festival no Cabo de Santo Agostinho, que se realiza em 26 de janeiro, data em que os cabenses estimam que o navegador espanhol tenha pisado uma ponta de terra que avança sobre o mar, hoje chamada de Vila da Nazaré, por influência dos portugueses.

Cabo de Santo Agostinho explora a imagem de Pinzón para atrair público de língua espanhola

Em entrevista à agência Lusa, o prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Clayton da Silva Marques, revelou que há um interesse turístico por parte da autarquia local em explorar a imagem de Pinzón, nomeadamente na tentativa de atrair público de língua espanhola.

«O Brasil foi descoberto aqui no Cabo de Santo Agostinho. Então, aproveitamos o dia 26 de Janeiro para fazer uma grande comemoração. (…)Fizemos um festival com dança flamenca, com elementos culturais espanhóis, mostrando os pontos turísticos do município. É um momento muito importante», declarou o governante local.

Em 2002, o agora ex-deputado brasileiro João Feu Rosa apresentou à Câmara dos Deputados um projecto de lei que visava alterar a data oficial do Descobrimento do Brasil de 22 de abril de 1500 para 26 de Janeiro de 1500, momento em que Pínzón chegou ao país sul-americano. Porém, até ao momento, o projecto não foi aprovado.

LEIA MAIS
Previsão do tempo para segunda-feira, 5 de agosto
Autocarro destruído pelas chamas perto da Ponte Vasco da Gama

Impala Instagram


RELACIONADOS