Livro revela que tio-avô de Almeida Garrett era traficante de escravos

Autor é Gairo Garreto, um dos descendentes do ramo da família que se estabeleceu no Brasil.

Livro revela que tio-avô de Almeida Garrett era traficante de escravos

O livro Garrett: Traficante de Escravos, que será apresentado esta quinta-feira no Porto, revela que o tio-avô do escritor Almeida Garrett foi traficante de escravos no Maranhão (Brasil) e que um primo do escritor foi um fazendeiro assassinado pelos próprios escravos.

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Tio-avô de Almeida Garrett foi traficante de escravos

Em entrevista à agência Lusa, o estudante de doutoramento brasileiro Gairo Garreto, autor do livro Garrett: Traficante de Escravos, revelou que é descendente da sétima geração da família Garrett e, após pesquisas feitas em Portugal, Brasil, Espanha, Cabo Verde, Angola e Nicarágua, descobriu que o tio-avô do autor de Viagens da Minha Terra foi traficante de escravos no século XVIII e que um primo direito do escritor foi um fazendeiro de algodão que viria a ser assassinado.

António Bernardo Garrett dedicou-se ao «tráfico de escravos no Brasil» no Estado do Grão-Pará e Maranhão, na actual Amazónia brasileira, disse à Lusa Gairo Garreto (sobrenome aportuguesado do nome Garrett). «Tinha curiosidade sobre uma história de um assassinato do fazendeiro António Raulino Garrett. (…) Essa história cruel era contada desde muito miúdo e havia uma curiosidade porque não tinha isso documentado, não sabia quando tinha sido. E foi para sanar a minha curiosidade que comecei a pesquisa», conta o autor de Garrett: Traficante de Escravos.

«É uma história que é sempre repetida na minha família. Ficou na tradição oral. Quando eu era miúdo e fazia qualquer coisa errada, diziam logo: ‘É porque é parente do António Raulino que foi assassinado pelos escravos’», recorda Gairo Garreto , que frequenta o programa doutoral em Segurança e Higiene Ocupacionais na Universidade do Porto.

Livro Garrett: Traficante de Escravos

O livro Garrett: Traficante de Escravos, que é apresentado esta quinta-feira, às 18h, na Reitoria da Universidade do Porto, tem 146 páginas, e aborda a família Garrett «como um todo», descreve Gairo Garreto, acrescentando que a obra é centrada no António Garrett, tio-avô de Almeida Garrett. «O livro esclarece como é que a família [Garrett] acabou por chegar a Portugal e de onde veio, quais são as suas reais origens e o que a levou a vir para Portugal, mais especificamente para os Açores e como se estabeleceu», explica Gairo Garreto, cuja tese de doutoramento é sobre a escravatura moderna.

António Garrett mudou-se para o Maranhão, investir no tráfico de escravos

O investigador descobriu que António Garrett, o tio-avô, fora um capitão de navio e uma figura fundamental para o ramo da família que ficou em Portugal, apoiando e ajudando a avó do escritor, Margarida, que ficou viúva com vários filhos e sem condições financeiras. «Após [António Garrett] ficar viúvo e já quase com 70 anos, ele resolveu mudar de vida, trocar de actividade (…) e foi investir no Maranhão, no início da Amazónia brasileira. Foi investir no tráfico de escravos», desvendou, acrescentando que nessa altura o mercado de escravos tinha ficado livre do monopólio da Companhia do Comércio do Maranhão Grão-Pará.

«Almeida Garrett não chega a entrar no tráfico de escravos, mas é interessante ressaltar que António Garrett, além de tio-avô de Almeida Garrett, era também padrinho do pai do escritor», observou o especialista.

Raulino Garrett, o primo de Garrett, abandonou o tráfico, mas foi um dos grandes proprietários de escravos dedicado às fazendas de algodão no Maranhão. Era conhecido na região do Maranhão como sendo «especialmente cruel na lida com os seus escravos» e em Janeiro de 1840, numa época em que havia uma revolta popular no Maranhão, foi «assassinado sangrado como se se sangra um porco, ou seja de arma branca na jugular, porque era assim que ele matava os escravos dele», recorda o investigador, citando a tradição oral da família que conhece desde criança.

«Aparentemente Raulino, que chegou a viver em França, não tinha muito interesse em ter ligação com a família Garrett em Portugal e nos Açores, vendendo todas as propriedades nos Açores e perdendo as ligações familiares», acrescentou o descendente do autor de Folhas Caídas.

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