Instituto alerta para limitações no apoio a deslocados face a novos ataques em Cabo Delgado

O Instituto Nacional do Apoio aos Refugiados (INAR) em Cabo Delgado alertou hoje que movimentações rebeldes estão a condicionar assistência a deslocados, sobretudo em distritos do norte da província.

Instituto alerta para limitações no apoio a deslocados face a novos ataques em Cabo Delgado

“Como a nossa província está a atravessar essa situação do terrorismo, torna difícil deslocarmos para outros distritos, por exemplo para Mueda, Mocímboa da Praia, por ali coloca-se a questão da vida humana (…) Isso coloca em perigo a nós próprios,” disse hoje à Lusa Joaquim António, responsável de Proteção e Serviços Sociais para os Refugiados no INAR.

Segundo a fonte, há quase 500 deslocados provenientes de diferentes países que vivem nos distritos de Pemba, Montepuez, Balama, Namuno, Ancuabe, Chiùre, Ibo, Meluco, Mueda, Nangade e Palma, estes três últimos no norte de Cabo Delgado.

“Nós somos simplesmente civis, estamos desarmados e só trabalhamos com refugiados. Para a nossa deslocação precisaríamos de uma segurança própria”, declarou Joaquim António, avançando que o INAR não visita os refugiados há mais de oito meses.

Após vários meses de relativa normalidade nos distritos afetados pela violência armada em Cabo Delgado, a província tem registado, há algumas semanas, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, que têm limitado a circulação para alguns pontos nas poucas estradas asfaltadas que dão acesso a vários distritos.

O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria de 27 ataques em vilas “cristãs” no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, em que afirma terem morrido 70 pessoas nos últimos dias.

Através dos canais de propaganda do grupo, que documenta estes ataques com fotografias, é referida ainda a destruição de 500 igrejas, casas e edifícios públicos.

As autoridades moçambicanas não comentam a situação operacional, mas a Lusa ouviu nos últimos dias, na vila de Chiùre, relatos de deslocados que chegam à localidade sobre ataques, destruição de hospitais, escolas e casas, além de mortos, provocados em diferentes aldeias do distrito pelos insurgentes.

O governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, afirmou na segunda-feira à Lusa que os atos “macabros” que assolam há duas semanas o sul daquela província moçambicana são protagonizados por “grupinhos” de “extremistas violentos”.

A província de Cabo Delgado enfrenta há mais de seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com dados das agências das Nações Unidas, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

 

RYCE // VM

By Impala News / Lusa

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