Filipinos escolhem lado em eleições disputadas pelas duas dinastias rivais no poder
Os filipinos estão a votar nas eleições intercalares, que colocam em duelo as duas dinastias rivais no poder, encabeçadas pelo Presidente, Ferdinand Marcos, e sua antiga aliada, a vice-presidente Sara Duterte, que enfrenta uma impugnação

Ainda que estejam em jogo autarquias e lugares na Câmara dos Representantes, câmara baixa do Parlamento filipino, o foco principal das eleições está no Senado, devido a eventuais repercussões nas eleições presidenciais agendadas para 2028.
Juntamente com 12 colegas já em funções na câmara alta do Parlamento filipino, os 12 senadores a serem escolhidos hoje constituirão o júri do julgamento de destituição de Sara Duterte, previsto para julho, que poderá vir a afastar a vice-presidente, com 46 anos, de qualquer cargo público.
Em fevereiro, a Câmara dos Representantes já votou a favor da destituição da filha mais velha do ex-presidente, Rodrigo Duterte, por suspeita de crimes, incluindo corrupção e planos para assassinar Marcos. Sara Duterte precisa de nove senadores a seu favor, dos 24 da Câmara Alta, para poder concorrer às presidenciais de 2028.
Sara Duterte era apontada como sucessora do pai nas presidenciais de 2022, mas desistiu em favor de Ferdinand Marcos Jr., filho do autocrata com o mesmo nome (1965-1986), a quem se aliou antes de ser eleita vice-presidente. O pressuposto do acordo passava por garantir a Duterte uma posição privilegiada para disputar as presidenciais de 2028, uma vez que os presidentes estão limitados a um mandato de seis anos nas Filipinas. A estratégia resultou numa maioria esmagadora da dupla Marcos-Duterte.
A união entre as duas dinastias rivais não tardou, porém, a implodir, dando lugar a confrontos públicos nos últimos meses.
Em novembro de 2024, durante uma conferência de imprensa, Sara Duterte declarou que tinha dado ordens para matar o chefe de Estado se ela própria fosse morta. Mais tarde, negou ter feito uma ameaça de morte, descrevendo os seus comentários como uma expressão de “consternação” perante os fracassos do Presidente filipino.
Dos 12 candidatos favoritos para ganhar um lugar no Senado, sete são apoiados pelo Presidente Marcos, quatro por Sara Duterte – incluindo a irmã do chefe de Estado, Imee Marcos.
No seu último comício de campanha em Manila, na quinta-feira, Sara Duterte acusou a preparação de uma fraude eleitoral “maciça” e voltou a descrever como “rapto” a entrega do seu pai ao Tribunal Penal Internacional.
Rodrigo Duterte, chefe de Estado entre 2016 e 2022, foi detido e transferido em março para o Tribunal de Haia, na Holanda. É acusado de crimes contra a humanidade relacionados com uma campanha mortífera contra a droga enquanto desempenhou funções.
Apesar da detenção, Rodrigo Duterte é candidato nestas eleições no seu reduto familiar de Davao, no sul do país, onde pretende regressar ao seu antigo cargo de presidente da câmara, sendo mesmo apontado como o favorito numa sondagem local.
Em todo o país, estão em jogo mais de 18.000 mandatos nestas eleições, que começaram às 07:00 locais (23:00 TMG de domingo).
Cerca de 68 milhões de filipinos são chamados a escolher 12 senadores, 254 representantes distritais, 63 representantes partidários e 17.942 governadores, membros de assembleias provinciais, autarcas e conselheiros.
O escrutínio vai também abranger os assentos legislativos da região autónoma muçulmana de Bangasamoro, na ilha de Mindanao, a segunda maior do arquipélago, no sul.
A polícia do arquipélago está em alerta máximo. Cerca de 163.000 agentes foram destacados para garantir a segurança das assembleias de voto, escoltar os funcionários eleitorais e vigiar os postos de controlo.
Os militares e os bombeiros também foram mobilizados para evitar qualquer surto de violência.
Um candidato às eleições autárquicas, um funcionário eleitoral, um chefe de aldeia e 13 outras pessoas perderam a vida em ataques antes das eleições.
A eurodeputada portuguesa Marta Temido (PS) vai liderar a missão de observação eleitoral da UE a estas legislativas filipinas.
Trata-se da primeira missão da UE a umas eleições filipinas que “marca um passo no sentido do reforço das relações entre a UE e as Filipinas”, segundo um comunicado do Serviço de Ação Externa europeu.
Marta Temido, que liderou a lista do PS ao Parlamento Europeu nas eleições de junho do ano passado, foi designada pela alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas.
A missão no 13.º país mais populoso do mundo será “um enorme desafio”, acrescentou a eurodeputada.
APL (EJ/JH) // APL
By Impala News / Lusa
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