Cabo Delgado quer inverter efeitos da gravidez precoce no acesso à educação

Mais de metade das raparigas da província moçambicana de Cabo Delgado entre 15 e 19 anos já estiveram grávidas, segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), com a direção de Educação a admitir consequências no ensino.

Cabo Delgado quer inverter efeitos da gravidez precoce no acesso à educação

“É bastante preocupante. Esse é um outro dado do enorme desafio que a província tem. Infelizmente não tem bons indicadores”, admitiu à Lusa o diretor provincial de Educação em Cabo Delgado, Ivaldo Quincardete.

O número médio de filhos de cada mulher moçambicana caiu para 4,9, o mais baixo em 25 anos, segundo o Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS), apresentado em 24 de agosto pelo INE. Acrescenta igualmente que 36% das adolescentes com entre 15 e 19 anos já esteve grávida e 7,5% está atualmente grávida, contra 29,3% e 8,2% no IDS realizado em 2011, respetivamente. Contudo, 55,3% das adolescentes da província de Cabo Delgado de 15 a 19 anos já estiveram grávidas, o número mais alto do país.

“O que está a acontecer, algo curioso, é que infelizmente temos algumas escolas em que as meninas ficam grávidas – porque nós agora permitimos que as meninas grávidas estudem, elas continuam a estudar normalmente -, elas estão a estudar, mas as crianças estão fora do recinto escolar com uma menor, com uma babá, a tomar conta da bebé, de sete ou oito anos e que algumas das vezes percebemos que não estão a estudar”, reconheceu Ivaldo Quincardete.

“Então, resolvemos um problema, mas agora criou-se outro. Temos de trabalhar de forma também a sensibilizar essas mães, de forma que no período contrário, se ela estuda de tarde, então deixa aquela miúda, babá, a tomar conta da filha, para estudar de manhã, ou vice versa”, acrescentou.

Numa província que há seis anos vive com a consequência dos ataques terroristas, que provocaram cerca de 4.000 mortos e mais de um milhão de deslocados, além de 200 escolas que permanecem destruídas, a taxa de analfabetismo é outra das preocupações do setor.

“É muito elevada. Infelizmente, é com muita mágoa que digo isto, temos um elevado número de pessoas que não sabe ler, escrever e principalmente do género feminino. Quase 70% de mulheres não sabem ler e escrever, esse é nosso desafio. Temos estado a trabalhar bastante para reduzirmos essa taxa, mas devido a essa conjuntura, a movimentação da população, por vezes não é fácil realmente concentrarmos para podermos alfabetizar os nossos concidadãos”, reconheceu Ivaldo Quincardete.

Atualmente, a província de Cabo Delgado conta com cerca das 824 escolas e cerca de 190 ainda fechadas.

No ano passado contou com 596.000 alunos, da primeira à 12.ª classe, e no presente ano letivo de 2023 com 671.000 alunos, prevendo em 2024 um total de 730.000 alunos.

Segundo o responsável, “as necessidades são muito grandes” e “Cabo Delgado fora da situação que vive, infelizmente do terrorismo, já era uma província com défice do número de salas de aula”.

No levantamento feito em 2020, apontava-se para a necessidade de mais 2.222 salas de aula em toda a província “para tirar as crianças que estudassem ao ar livre por baixo das árvores” e de “cerca de 37.000 carteiras duplas também para se tirar realmente as crianças sentadas no chão”.

Cabo Delgado contava em 2021 com cerca de 96.000 alunos deslocados, número que caiu em 2023 para 40.000.

PVJ // VM

By Impala News / Lusa

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