Tropa de elite ucraniana combateu russos no Sudão para cortar financiamento

A Ucrânia enviou forças especiais para o Sudão para combater as tropas russas e evitar que explorassem as minas deste país africano, tentando cortar as fontes de financiamento para uma guerra sem fim à vista.

Tropa de elite ucraniana combateu russos no Sudão para cortar financiamento

De acordo com uma investigação do jornal norte-americano Wall Street Journal, Kiev enviou cerca de 100 militares para o Sudão em agosto do ano passado, beneficiando do bom relacionamento com o regime de Abdel Fattah al-Burhan, que estava a enviar armas para a Ucrânia combater a ocupação russa.

“É impossível vencer a Rússia simplesmente lutando num pequeno bocado de terra, como a linha da frente na Ucrânia; se eles estão a explorar minas de ouro no Sudão, então temos de fazer com que estas minas não sejam lucrativas”, disse o líder das tropas ucranianas no Sudão ao WSJ, posicionando a Ucrânia como um baluarte contra as intervenções russas noutros países, incluindo em regiões onde o Ocidente tem mostrado relutância em envolver-se diretamente, como em África.

A ida dos militares ucranianos para o Sudão teve uma dupla vantagem: por um lado serviu para atacar os militares russos do grupo Wagner e perturbar a exploração de ouro que ajudaria Moscovo a financiar a invasão ucraniana, mas por outro lado ajudou o próprio regime no combate aos rebeldes das Forças de Apoio Rápido (RSF), que estavam a ganhar terreno.

Uma das primeiras batalhas dos soldados russos, logo no verão do ano passado, foi afastar os rebeldes das RSF da capital, Cartum, recorrendo principalmente às capacidades de combate noturno que eram praticamente desconhecidas no país.

“Essa era a nossa grande vantagem, nós sabemos atacar à noite”, disse um militar que se identificou como King, explicando que o recurso a drones que explodem no embate e a óculos de visão noturna foram fundamentais não só nas operações militares em si, mas também para esconder o tom de pele dos ucranianos, facilmente identificáveis num país onde a esmagadora maioria da população é negra.

“A guerra é um negócio arriscado, estamos numa guerra total com a Rússia, e se eles têm unidades em diferentes partes do mundo, às vezes temos de ir até lá para os atacar”, disse o líder da agência militar de inteligência, general Kyrylo Budano, ao WSJ, escusando-se, no entanto, a confirmar a presença da tropa de elite ucraniana no Sudão.

O Sudão, um país afetado por uma guerra civil há quase dois anos, tem dois recursos importantes para a Rússia e para a Ucrânia: armas e ouro, e é isso que explica a importância estratégica deste combate em África entre os dois povos eslavos.

“Trouxemos uma data de armas do Sudão, que diferentes países tinham pagado e lá colocado”, confirmou Budanov, acrescentando que “as armas eram de todo o lado, americanas, chinesas…”

Antes do conflito ter escalado para uma guerra civil, em abril de 2022, só 30% do ouro retirado das minas era oficialmente registado no banco central, deixando por contabilizar cerca de quatro mil milhões de dólares (3,6 mil milhões de euros) de ouro todos os anos, segundo o WSJ, que garante que a Rússia estava a apoiar os rebeldes das RSF.

Hoje em dia, já não há tropas ucranianas no Sudão, mas a sua influência continua a fazer-se notar, conclui o WSJ, citando peritos internacionais que afirmam que parte do sucesso dos militares sudaneses no combate aos rebeldes explica-se pelos ensinamentos deixados pelos ucranianos.

MBA // JMC

By Impala News / Lusa

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