Parlamento israelita quer expulsar deputado que apoiou acusação sul-africana de genocídio

A comissão do Knesset (parlamento israelita) recomendou hoje a expulsão do deputado Ofer Cassif, da coligação judaico-árabe Hadash-Taal, que será agora submetida a votação e terá de ser aprovada por pelo menos 90 dos 120 deputados.

Parlamento israelita quer expulsar deputado que apoiou acusação sul-africana de genocídio

A comissão da Câmara de Representantes mostrou-se hoje amplamente a favor, com 14 votos contra dois, da moção apresentada por 85 deputados para expulsar o parlamentar, depois de este ter apoiado publicamente a queixa apresentada pela África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) pelo crime de genocídio do povo palestiniano na Faixa de Gaza.

Cassif, o único membro judeu do partido de maioria árabe Hadash-Taal, assinou no início de janeiro uma petição de apoio ao caso apresentado pela África do Sul no TIJ, a mais alta instância judicial das Nações Unidas, e acusou publicamente líderes israelitas de defenderem crimes contra a humanidade.

Segundo a comissão parlamentar, com o seu apoio, Cassif “encoraja a luta armada contra o Estado de Israel”, uma das infrações previstas na Lei de Suspensão de 2016, juntamente com a incitação ao racismo, pela qual parlamentares podem iniciar o processo de expulsão de outros.

No principal partido da oposição, o centrista Yesh Atid (que significa Há Futuro), alguns membros opuseram-se à expulsão, que classificaram como “populista”, segundo escreveu na rede social X (antigo Twitter) a deputada Meirav Cohen, ao passo que o líder da formação, Yair Lapid, se manifestou a favor da medida.

“O Yesh Atid considera que Ofer Cassif não deve ser membro do Knesset”, afirmou o porta-voz do partido em comunicado, garantindo que o partido apoiará a sua expulsão do parlamento israelita.

Organizações como a Adalah, o Centro Jurídico para os Direitos da Minoria Árabe em Israel, classificaram a tentativa de expulsão como “ilegal” e descreveram-na como uma “tentativa deliberada de suprimir [qualquer] dissidência política contra a brutal campanha militar de Israel em Gaza”.

A 07 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) — desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel — realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.139 mortos, na maioria civis, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas, e cerca de 250 reféns, mais de 100 dos quais permanecem em cativeiro.

Em retaliação, Israel declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.

A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 116.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 26 mil mortos, mais de 65.000 feridos e 8.000 desaparecidos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais, e quase dois milhões de deslocados (mais de 85% dos habitantes), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome.

Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios ocupados pelo Estado judaico, pelo menos 370 palestinianos foram mortos desde 07 de outubro pelas forças israelitas e em ataques perpetrados por colonos, além de se terem registado mais de 3.000 feridos e 5.600 detenções.

ANC // SCA

By Impala News / Lusa

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