Paramilitares suspeitos de lincharem agentes eleitorais em Moçambique

Paramilitares tradicionais “nampharamas” são suspeitos do linchamento de três elementos responsáveis pela educação cívica eleitoral para as eleições gerais moçambicanas, ocorrido no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, alegadamente confundidos com terroristas, segundo a população e autoridades.

Paramilitares suspeitos de lincharem agentes eleitorais em Moçambique

“Confirmo a ocorrêcia e que, sim, foram os ‘nampharamas’. Está a ser feito o trabalho junto das autoridades locais para apurar as circunstâncias deste caso e estamos neste momento a apoiar as famílias”, disse hoje à Lusa a porta-voz nacioanal do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), Regina Matsinhe.

Fontes locais disseram à Lusa que o caso aconteceu na sexta-feira, por volta das 19:00 (17:00 em Lisboa), na sede do posto administrativo de Catapua, no interior do distrito de Chiùre, para onde os três agentes teriam sido destacados para o trabalho de sensibilização da população para as eleições gerais de 09 de outubro deste ano.

Ao chegarem ao local, constataram que o chefe da aldeia não se encontrava e foram apresentar-se às autoridades locais da aldeia Nawawane, a seis quilómetros da sede, tendo sido recebidos pelo chefe local, antes de seguirem para a aldeia de Mitilane para o mesmo fim.

Aí, terão sido recebidos por um grupo de “nampharamas”, paramilitares tradicionais locais, que os amarraram, levando-os para a sede do posto, onde terão sido linchados por suspeita de integrarem o grupo terrorista que recentemente protagonizou os ataques terroristas no distrito de Chiùre, província de Cabo Delgado, relataram as mesmas fontes.

Segundo as mesmas fontes locais, o erro deu-se no alegado desconhecimento do chefe de posto, que não ordenou que as vítimas do linchamento fossem levadas ao comando distrital da Polícia da República de Moçambique em Chiùre.

A situação deixou parte da população de Chiùre indignada, visto que em 2023 o mesmo grupo foi acusado de linchar lideranças comunitárias sob acusação de propagarem a doença de cólera.

Os “nampharamas” são paramilitares moçambicanos que surgiram na década de 80, durante a guerra civil, aliando conhecimentos tradicionais e supostos elementos místicos no combate aos inimigos, atuando em comunidade e garantindo alguma proteção em certas comunidades contra os ataques de insurgentes.

O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou no final de fevereiro a autoria de 27 ataques no mesmo mês, em vilas no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, em que afirma terem morrido 70 pessoas, além da destruição de 500 igrejas, casas, e edifícios públicos naquele distrito.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. Depois de uma ligeira acalmia em 2023, estes ataques multiplicaram-se nas últimas semanas, criando cerca de 100 mil deslocados só em fevereiro, além de um rasto de destruição, morte e famílias desencontradas.

Esta insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região.

Desde 2017, o conflito já fez mais de milhão de deslocados, de acordo com as agências das Nações Unidas, e cerca de quatro mil mortes, indicou o Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês).

RYCE/PVJ //APN

By Impala News / Lusa

Impala Instagram


RELACIONADOS