Líder indígena torturado e assassinado na Nicarágua, dizem autoridades locais

O parlamento da Nicarágua cancelou o estatuto de 25 ONG, incluindo o Centro para a Justiça e Direitos Humanos da Costa Atlântica, que denunciou a morte de dezenas de indígenas

Líder indígena torturado e assassinado na Nicarágua, dizem autoridades locais

As autoridades indígenas no nordeste da Nicarágua anunciaram, na sexta-feira, que encontraram o corpo de um líder indígena, com sinais de tortura. O governo territorial Mayangna Sauni Arungka Matumbak indicou, em relatório, que o corpo de Salomón López Smith foi encontrado, em 15 de fevereiro, com ossos do crânio partidos, parte da pele separada do rosto, sem cabelo, orelhas e dedos mutilados na mão esquerda, fratura na coluna e mão direita, dedos abertos no pé direito e buracos de tiros de espingarda nas costas. “Tudo isso se traduz num ato criminoso, e com ódio tiraram a vida do nosso irmão, reconhecido por defender as terras comunais”, disse o governo Mayangna.

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Inicialmente, as autoridades indígenas tinham dito que López Smith tinha conseguido fugir, depois de ter sido sequestrado durante vários dias por “colonos invasores” das terras tradicionais dos indígenas da Nicarágua. O governo Mayangna disse que López Smith era conhecido pela dedicação às comunidades indígenas, nomeadamente nas áreas desportiva e cultural. O Departamento de Estado dos EUA apelou ao governo central da Nicarágua para “levar à justiça os assassinos” de López Smith, numa publicação divulgada na rede social Twitter.

“Ativistas atribuem essa atrocidade a colonos que ameaçam comunidades indígenas e agem impunemente sob o regime. Isso deve parar”, escreveu a administração norte-americana. A organização não governamental (ONG) Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) lembrou que o parlamento cancelou o estatuto legal da ONG Centro para a Justiça e Direitos Humanos da Costa Atlântica da Nicarágua (Cejudhcan), que denunciou o assassínio de dezenas de indígenas por investigar.

O Governo do Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, “em vez de garantir uma investigação pertinente sobre esses casos, atendendo às exigências das comunidades e promovendo o crescimento económico e social, decidiu atacá-las, anunciando o cancelamento da personalidade jurídica de uma das organizações mais comprometidas com a proteção da região”, disse o Cenidh.

O executivo de Ortega não se referiu a este caso, que deixou, desde 11 de fevereiro, o governo territorial Mayangna Sauni Arungka Matumbakas em “estado de alerta”. Em 7 de março, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou que “os povos indígenas da Nicarágua continuam a sofrer ataques violentos no contexto de disputas territoriais, a maioria deles com total impunidade”.

Num relatório, Bachelet disse ter recebido informações sobre 11 homicídios de indígenas em 2021. A ONG Centro de Justiça e Direito Internacional (Cejil) alertou que as populações indígenas da Nicarágua correm o risco de serem exterminadas devido à constante invasão dos territórios tradicionais. Povos indígenas e afrodescendentes da Nicarágua vivem em 304 comunidades estabelecidas em 23 territórios, a maioria nas áreas mais pobres e isoladas do país.

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