Justiça russa pede penas de prisão longas para suspeitos em casos ligados à guerra

Um tribunal da Sibéria condenou hoje um homem a 19 anos de prisão por alvejar um oficial de recrutamento militar, enquanto procuradores de São Petersburgo pediram 28 anos para uma mulher acusada do atentado bombista num café em abril.

Justiça russa pede penas de prisão longas para suspeitos em casos ligados à guerra

Ambos os casos sublinham as tensões na sociedade russa, agravadas pela guerra desencadeada pelo Presidente, Vladimir Putin, na Ucrânia, com alguns opositores a recorrerem a atos violentos.

Na cidade siberiana de Irkutsk, o motorista de camiões de transporte de madeira Ruslan Zinin, de 26 anos, foi hoje condenado a 19 anos de prisão por ter aberto fogo, em setembro de 2022, contra o gabinete de alistamento militar em Ust-Ilimsk, uma cidade situada mil quilómetros a norte de Irkutsk, noticiou a agência estatal Tass.

O tiroteio ocorreu alguns dias depois de Putin ter ordenado uma mobilização militar parcial para reforçar os contingentes a combater na Ucrânia, o que originou raros protestos em toda a Rússia que foram reprimidos, por vezes de forma violenta.

Homens sem experiência militar ou com anteriores dispensas do serviço militar foram convocados e recrutados. A polícia foi buscar homens às ruas de Moscovo e outras cidades e fez rusgas em albergues e armazéns para encontrar homens em idade de combater.

Zinin alegadamente entrou no gabinete de alistamento militar declarando “Ninguém vai combater” e abriu fogo, ferindo um oficial com gravidade. Segundo o canal de mensagens independente Solidarity Zone, da plataforma digital Telegram, ele queria impedir que o irmão mais novo fosse recrutado.

Em São Petersburgo, a Tass indicou que os procuradores do Ministério Público russo pediram hoje uma sentença de 28 anos de prisão para Daria Trepova, de 26 anos, pela autoria do atentado bombista num café que matou Vladlen Tatarsky, um blogger militar pró-guerra que regularmente escrevia das linhas da frente na Ucrânia.

Trepova foi detida depois de ser identificada num vídeo a oferecer a Tatarsky um busto dele, momentos antes da explosão num café à beira-rio onde este conduzia um debate. A explosão matou-o e feriu outras 50 pessoas.

Segundo a comunicação social russa, ela afirmou mais tarde em tribunal que não sabia que o busto continha uma bomba e que seguia as instruções de dois homens que lhe tinham dito que havia um dispositivo de escuta e localização no seu interior.

As autoridades russas acusaram os serviços secretos ucranianos de orquestrarem o atentado bombista. Kiev não respondeu diretamente à acusação, mas um conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, referiu-se ao atentado como parte da turbulência interna na Rússia.

O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, sucessor do KGB), acusou um cidadão ucraniano identificado como Yuriy Denysov de ter fornecido explosivos a Trepova através de um serviço de estafeta, agindo sob ordens dos serviços de segurança ucranianos.

Tatarsky era o pseudónimo de Machim Fomin, que tinha centenas de milhares de seguidores no seu canal de mensagens do Telegram. Tinha-se juntado aos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia depois de uma insurreição ali apoiada por Moscovo, em 2014, e combateu na linha da frente durante anos antes de se dedicar à escrita no blog.

Os bloggers militares têm desempenhado um papel de cada vez maior destaque na Rússia durante a guerra na Ucrânia, apoiando o Kremlin, mas muitas vezes criticando a liderança militar russa por falhas flagrantes. Ao contrário dos ‘media’ independentes ou das figuras da oposição, não têm sido punidos por tais críticas.

Na quinta-feira, outro tribunal de São Petersburgo condenou um enfermeiro, Machim Asriyan, a oito anos de prisão por terrorismo e traição, por ter planeado incendiar um gabinete de alistamento do Exército em 2022, indicou o canal russo SotaVision no Telegram.

A acusação tinha inicialmente pedido ao tribunal uma pena de 14 anos para Asriyan, embora ele não tenha concretizado o ataque, acrescentou o SotaVision.

ANC // JH

By Impala News / Lusa

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