Insurgentes querem ganhar confiança da população de Moçambique e recuperar logística – investigador

Os grupos armados pretendem ganhar a confiança da população na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, e recuperar a logística, depois de terem perdido as rotas de abastecimento, disse o investigador moçambicano João Feijó

Insurgentes querem ganhar confiança da população de Moçambique e recuperar logística - investigador

Os últimos relatos sobre a atividade dos rebeldes que protagonizam ataques há mais de seis anos em Cabo Delgado referem que os insurgentes estão a tentar uma convivência pacífica com as populações, rezando nas mesquitas e comprando produtos alimentares.

“O grupo [de insurgentes] sofreu bastante”, com a ação das forças governamentais moçambicanas, do Ruanda e da África Austral, “talvez, por isso, tenham sentido a necessidade de recuperação da confiança das populações, para em vez de as roubar, adquirirem os produtos a preços generosos e, desta forma, garantirem uma logística de uma forma mais discreta, pela via do mercado”, afirmou à Lusa João Feijó, investigador do Observatório do Meio Rural (OMR), uma organização não governamental (ONG), que tem realizado muitos trabalhos sobre a guerra em Cabo Delgado.

A intensificação do combate aos rebeldes, com a chega dos militares do Ruanda e da Missão Militar da África Austral resultou no corte das linhas de abastecimento, sobretudo os apoios vindos de círculos islamitas da vizinha Tanzânia, notou o investigador.

“Quando chegaram os ruandeses, houve uma estratégia concertada de cortar a logística aos insurgentes, conseguiram cortar o acesso à Tanzânia, houve muitos militares tanzanianos que ficaram a operar em Nangade, conseguindo cortar rotas de acesso à Tanzânia”, observou João Feijó.

Os grupos armados, prosseguiu, perderam ou libertaram muitos civis que estão sob cativeiro e ficaram sem muitos combatentes, devido à incapacidade de os alimentar, e agora “investem” na tentativa de conquistar a população.

A aproximação dos insurgentes às populações verifica-se nas zonas onde não estão os militares ruandeses, tidos como os mais habilitados para combater os grupos armados em Cabo Delgado, continuou.

O investigador disse acreditar que as novas ações dos insurgentes não afetam a multinacional francesa TotalEnergies, porque a atividade dos rebeldes têm incidido sobre aldeias do distrito de Macomia, o norte do distrito de Quissanga e a zona baixa do distrito de Muidumbe.

O porto de Mocímboa da Praia e o distrito de Palma, que acolhe o projeto da TotalEnergies contam com a presença do contingente ruandês e os insurgentes foram obrigados a atuar longe destes locais, acrescentou.

João Feijó defendeu que a ligação entre as populações e os grupos armados Cabo Delgado não é um fenómeno novo, porque há relatos de que parte dos insurgentes são nativos dos distritos da província e têm uma base de apoio social.

“A população é que fornece a logística, a população fornece as informações, a população fornece a camuflagem, o encobrimento, essa relação sempre existiu, não há essa coisa de terrorista no mato e população passiva na cidade”, sublinhou.

João Feijó destacou que os relatos de tentativas de recuperação dos insurgentes em Cabo Delgado mostram que a erradicação da violência extremista na província “vai demorar alguns anos” e que também passa pela exploração de “soluções políticas”.

O investigador admitiu que uma solução política “será difícil”, porque é preciso compreender as motivações dos grupos armados e saber se as autoridades estão dispostas a fazer cedências a eventuais exigências dos insurgentes.

“Não se sabe se querem território, se querem autonomia ou querem recursos”, referiu.

O grupo terrorista Estado Islâmico anunciou esta terça-feira que está em curso uma “viagem de pregação” no norte de Moçambique, onde se multiplicam notícias de contactos entre insurgentes e a população nas últimas semanas.

Populares de Mucojo disseram em 23 de janeiro à Lusa que aquele posto administrativo em Cabo Delgado está controlado por um grupo de terroristas. O posto administrativo de Mucojo, no distrito de Macomia, dista 40 quilómetros da sede distrital e desempenha um papel importante na região, por ser ponto de saída do pescado, tendo sido palco de diversos confrontos com os militares nas últimas semanas.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, visitou na sexta-feira uma posição da Força de Intervenção Rápida no distrito de Metuge, reconhecendo que os terroristas tentam agora “outras formas de desestabilização”.

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By Impala News / Lusa

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