Famílias de soldados russos desaparecidos lutam para que não se apaguem para sempre

Nenhuma família russa consegue saber dos seus desaparecidos na guerra da Ucrânia sem um trabalho de busca que pode ser a única maneira de evitar que os soldados desapareçam para sempre.

Famílias de soldados russos desaparecidos lutam para que não se apaguem para sempre

“Ninguém vai comunicar às famílias o desaparecimento de um familiar, terão de ser as famílias a requer às autoridades que investiguem o desaparecimento”, disse em entrevista à agência Lusa a ativista Valentina Melnikova, da União dos Comités das Mães dos Soldados.

“Encontrámos, por fim, pontos de comunicação com as autoridades. Em 2022, quando o conflito deflagrou, não possuíamos um claro campo de trabalho”, contou no segundo aniversário da invasão russa da Ucrânia.

Às famílias que não sabem de familiares que foram chamados para combater na Ucrânia, os ativistas aconselham a que façam um pedido de busca à Polícia Militar, que “tem uma base de dados com os nomes dos mortos e desaparecidos” e costuma responder depressa.

Outra via que se mostrou prestável foi a representante dos Direitos Humanos, Tatiana Moskalkova, que tem acesso aos nomes dos soldados que constam das listas de troca de prisioneiros e à base de dados do Ministério da Defesa.

A experiência, que vem já da guerra da Tchetchénia, é que “se as famílias não se empenham na busca dos soldados desaparecidos, estes podem realmente desaparecer para sempre”, afiançou a activista.

Essa busca inclui fornecer amostras de ADN e confirmar identidades através das placas de identificação de soldados mortos em combate.

Por princípio, devem ser as famílias a “mexerem-se”, já que, por lei, não se pode usar dados pessoais de que cumpre serviço militar, nem das respetivas famílias.

“Orientamos as famílias, damos-lhe os ‘sites’ e os nomes dos responsáveis dos vários serviços: Procuradoria Militar, Ministério da Defesa. Entretanto, se as respostas não forem claras ou satisfatórias, entramos nós em ação”, afirmou.

Valentina Dmitrievna Melnikova exibe 78 anos de energia e otimismo e é considerada uma das 100 mulheres mais influentes da Rússia. Engenheira de formação, trabalhou em vários estabelecimentos de ensino superior.

Mas reconhece que o objetivo mais urgente é acabar com a guerra, embora garanta que nada “pode compensar as perdas russas.

Do Governo russo, todos os pedidos de ajuda financeira aos comités foram negados, embora atendam o telefone nas situações mais desesperadas, que nem sempre têm a ver com desaparecidos em combate.

“Há pessoas que nos conhecem desde há muito, incluindo o vice-ministro da Defesa, que nos estendem sempre a mão numa qualquer situação mais dificultosa. Portanto, quando somos surpreendidos por casos muito urgentes ou de particular complexidade, recorremos a esses conhecimentos por via telefónica”, revelou.

“Uma mãe morreu, deixando uma filha de dez anos. Pedimos que o pai, a cumprir serviço militar, voltasse para casa antes de ser enviado para a frente, de modo a que a filha não fosse metida num orfanato. Foi uma mulher coronel que resolveu o problema, e no quadro da lei. Este relacionamento pessoal é resultado do trabalho de muitos anos e do respeito e confiança que depositam em nós e na nossa causa”, salientou.

A causa das mães dos desaparecidos também conta com a imprensa, embora muitos órgãos de informação tenham saído da Rússia.

“Toda a comunicação social que discordava, de uma forma ou outra, da ‘operação militar especial’ mudou-se para o estrangeiro. Como são considerados pelas autoridades russas ‘agentes estrangeiros’, não nos podem ajudar seja no que for”, lamentou.

Valentina apelou aos “governos ocidentais” que estão contra a guerra movida pelo regime do Presidente Vladimir Putin para não castigarem o povo russo.

“Peço-lhes que não expulsem os cidadãos russos que optaram por procurar melhores condições de vida longe dos seus lares e que concedam asilo político aos cidadãos que realmente precisarem desse estatuto”, concluiu.

JAY//APN

By Impala News / Lusa

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