Egípcios começam a votar domingo em “plebiscito” para reeleger al-Sissi

As eleições presidenciais egípcias decorrem de domingo a terça-feira para eleger um dos quatro candidatos, incluindo o atual chefe de Estado, uma votação no meio duma grave crise económica e com repressão a dirigentes da oposição.

Egípcios começam a votar domingo em

Abdelfatah al-Sissi, considerado favorito para um terceiro mandato de seis anos, tem pela frente Farid Zahran, líder do Partido Social Democrata Egípcio (PES), Abdel Sanad Yamama, presidente do Partido Wafd, e Hazem Omar, do Partido Popular Republicano (RPP), candidatos “autorizados” pelo atual regime, que reprimiu os opositores mais importantes, impedindo-os de concorrer.

Segundo a Autoridade Nacional de Eleições (NEC, na sigla inglesa), cerca de 67 milhões de egípcios com mais de 18 anos deverão ir às urnas, incluindo os cerca de 14 milhões no estrangeiro que puderam votar entre 01 e 03 deste mês em 137 embaixadas e consulados do país em 121 Estados.

As maiores comunidades egípcias encontram-se na Arábia Saudita, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Kuwait. Quatro países — Líbia, Síria, Iémen e Sudão — foram excluídos por razões de segurança.

Tendo em conta o conflito entre Israel e o grupo islâmico Hamas, a NEC decidiu autorizar os egípcios residentes nos territórios palestinianos a votar numa mesa de voto instalada na missão diplomática egípcia na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, sede da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), segundo indicou a imprensa local.

No Egito, a votação começará na próxima sexta-feira e prolonga-se até domingo, com 10.085 assembleias de voto montadas em todo o país.

Esta é a terceira eleição desde que al-Sissi assumiu a liderança do Egito após o golpe de Estado de 2013 que derrubou o governo da Irmandade Muçulmana, liderado por Mohamed Morsi, cujo antigo marechal era ministro da Defesa.

Mas a corrida presidencial egípcia tem estado rodeada de polémica desde o início, sobretudo devido às críticas do antigo candidato Ahmed Tantawy, que acusou a NEC de dificultar a angariação de apoios por parte dos adversários de al-Sissi, razão pela qual este retirou a sua candidatura depois de não ter conseguido o apoio necessário.

Segundo a lei eleitoral egípcia, para ser candidato é necessário obter pelo menos 25.000 assinaturas em 15 províncias egípcias ou 20 recomendações parlamentares, o que não é uma opção viável para os opositores devido ao caráter pró-governamental da legislatura egípcia.

Numerosas organizações não-governamentais locais e internacionais denunciaram igualmente a detenção, nos últimos meses, de dezenas de apoiantes do antigo deputado Ahmed Tantawy, que foi detido em novembro, juntamente com 21 apoiantes, e entregue à justiça por ter organizado “ilegalmente” uma recolha de apoios.

Por outro lado, as eleições presidenciais no Egito decorrem no meio de uma das piores crises económicas do país, esperando-se que al-Sissi ganhe, uma vez que também está a sair fortalecido pela forma como lidou com a guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas.

A questão económica será, porém, a principal questão em jogo nas eleições, num país onde dois terços dos 105 milhões de egípcios vivem abaixo ou um pouco acima do limiar da pobreza. 

A inflação está atualmente nos 40%, a desvalorização de 50% da moeda fez disparar o preço dos bens — praticamente todos importados — nos últimos meses e os recentes bónus e aumentos anunciados pelo Presidente para os funcionários públicos e pensionistas tiveram pouco efeito.

As duas eleições presidenciais anteriores foram ganhas por mais de 96% por al-Sissi, o antigo marechal de campo que chegou ao poder em 2013, derrubando o islamita Mohamed Morsi, votações que foram consideradas pela oposição como uma “farsa”.

Em fins de novembro, a organização de defesa e promoção dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI), denunciou, além das dificuldades económicas, que, antes da campanha, as autoridades egípcias intensificaram a repressão a opositores políticos, manifestantes pacíficos e outros críticos antes das presidenciais.

Desde 01 de outubro, as autoridades egípcias detiveram e interrogaram pelo menos 196 pessoas devido à participação em protestos não autorizados, bem como por alegações de envolvimento em atividades relacionadas com o terrorismo e de divulgação de “notícias falsas”. 

“As autoridades egípcias puseram a nu a total intolerância face ao mais pequeno sussurro de dissidência. Enredados na sufocante teia de repressão estão não só os indivíduos que se atrevem a imaginar um futuro político alternativo”, afirmou Philip Luther, responsável da AI, que exigiu ao Cairo o fim da “vergonhosa campanha de repressão contra a dissidência” e a libertação das pessoas detidas arbitrariamente.

 

JSD // APN

By Impala News / Lusa

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