Cabo Verde vai criar salas especiais para ouvir crianças vítimas de violência

Cabo Verde vai criar salas de escuta e de depoimento especial em todas as comarcas do país para ouvir crianças e adolescentes vítimas das mais diversas formas de violência, conforme portaria consultada hoje pela Lusa.

Cabo Verde vai criar salas especiais para ouvir crianças vítimas de violência

No documento oficial que já está em vigor, o Governo de Cabo Verde referiu que no âmbito da proteção das crianças e adolescentes vítimas das mais diversas formas de violência, tem vindo a adotar políticas e medidas, nomeadamente de natureza legislativa e outras ações, para assegurar a efetivação dos seus direitos.

Além disso, avançou que a Constituição da República manda punir, especialmente, como crimes graves, o abuso e a exploração sexuais e o tráfico de crianças, bem como as sevícias e os demais atos passíveis de afetar a integridade física ou psicológica das crianças.

Entre outras medidas, destacou o primeiro Plano Nacional de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (2017-2019) e o atual Plano de Ação Nacional de Prevenção e Combate à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes (2022-2024).

E recordou que recentemente, o Governo submeteu à Assembleia Nacional a proposta de lei relativa ao Regime Jurídico Geral de Proteção de Crianças e Adolescentes em Situação de Perigo.

Foi, igualmente, tipificado um leque de medidas especiais de promoção e de proteção, ao lado das medidas de sensibilização e de assistência, entre elas a audição protegida, a escuta especializada e o depoimento especial.

Segundo a portaria a que a Lusa teve acesso, as medidas pretendem dar “uma maior plasticidade” ao regime jurídico instituído, em linha com a ideia do alargamento das instituições de proteção, podendo envolver entidades, públicas ou privadas, de natureza não judiciária.

A audição protegida da criança e do adolescente consiste na entrevista, “limitado ao relato estritamente necessário para o cumprimento de sua finalidade de proteção social e provimento de medidas de cuidados”, sem qualquer finalidade probatória.

A implementação e instalação das salas por parte das instituições judiciárias estarão a cargo do Ministério da Justiça e acontecem nos edifícios das sedes dos Tribunais de Comarca.

Funcionando na direta dependência partilhada do juiz presidente do tribunal e do procurador da República de comarca ou do procurador da República de comarca coordenador, as salas podem ser abertas em qualquer hora e dia, sempre que se mostrar necessário.

Além do pessoal dos quadros do tribunal e da Procuradoria da República e/ou do pessoal dos quadros dos órgãos de polícia criminal, terão ainda um psicólogo, um jurista e um assistente social.

Segundo dados do Ministério Público de Cabo Verde, no ano judicial 2021/2022, deram entrada nos tribunais do país 776 processos sobre crimes sexuais, mais 315 face ao período homólogo anterior, dos quais 32,2% foram relativos a abusos sexuais de crianças e 6,8% a abusos sexuais de menores entre 14 e 16 anos.

À entrada do atual ano judicial (2022/2023), estavam por resolver 1.076 processos envolvendo crimes sexuais em todo o país, 321 dos quais relativos a abusos sexuais de crianças, 57 de abusos sexuais de menores entre 14 e 16 anos, sete de exploração de menor para fins pornográficos e cinco de ‘sexting’ (envio de mensagens de teor sexual) contra menor.

O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, já disse várias vezes que a violência sexual contra menores ainda é uma das “nódoas” no país, que espera que seja banida “definitivamente”.

RIPE // JH

By Impala News / Lusa

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