Ljubomir Stanisic recorda infância em Sarajevo: “Fica o cheiro dos mortos”

Em conversa com Júlia Pinheiro, Ljubomir Stanisic recordou pessoa especial que conheceu em Sarajevo e revelou que tem uma tatuagem que representa os oito familiares que morreram na guerra.

Ljubomir Stanisic recorda infância em Sarajevo: “Fica o cheiro dos mortos”

A SIC voltou a emitir a entrevista de Ljubomir Stanisic no programa “Júlia” desta sexta-feira, 12 de março. A conversa com o chef, que estreia o programa “Hell’s Kitchen” já este domingo, tinha sido emitida em janeiro, mas o canal de Paço de Arcos voltou a apostar no polémico jugoslavo.

Nesta entrevista, Ljubomir Stanisic recordou a infância passada em Sarajevo, na Bósnia, e os traumas da guerra. “O que passei na vida foi uma excelente escola. A guerra trouxe-me muita coisa negativa, perdi os meus familiares todos, alguns deles a minha frente. São momentos muito pesados”, afirmou, mostrando algumas tatuagens que tem no braço: “Os oito familiares que morreram durante a guerra”.

Por tudo o que viveu, Ljubo, como é tratado pelos amigos, diz não ter “medo de nada”. No entanto, há pormenores que não esquece: “Fica o cheiro dos mortos. Já sentimos o cheiro de um rato morto, de um pássaro morto, mas sentir cheiro de uma cidade morta é aquilo que nunca nos sai do olfato. Já tive pesadelos com isso”.

“Um dos maiores atos de amor”

Na memória de Ljubomir Stanisic, ficou também uma pessoa muito especial. “Vocês não têm noção do que é ter frio em Sarajevo, menos 20 graus. Gela tudo. A primeira coisa que gela são os dedos dos pés, depois as mãos…”, começou por contar.

“Eu era um miúdo de 15 anos, dentro de uma trincheira, e um velhinho meio seco, chegava de hora a hora ao pé de mim, encostava as mãos nas minhas costas, na nuca e fazia isto [disse, mostrando como o homem bafejava para as mãos perto do seu pescoço para o aquecer]”, afirmou, acrescentando: “Aquele calor que me passava pela nuca conseguia-me aquecer os dedos dos pés e das mãos e tirar todo o medo de levar um tiro”.

“Este é um dos maiores atos de amor, nunca me foi dito ‘amo-te’, não sei nada da história do senhor, nunca mais o vi, mas naqueles cinco ou seis dias foram as maiores declarações de amor na vida. Acho que recebi muito amor, da minha mãe, da minha irmã e estes pequenos detalhes que me deram luzes na vida do que é ter amor”, recordou ainda.

Para o chef da SIC, a coisa mais importante da sua vida é a família. “Porque eu nunca tive”, afirmou. “Tive mãe e irmã, mas nunca tive um pai. Tive muitos problemas com o meu pai. Ele bebia muito álcool, batia-me. Tive muito ódio pelo meu pai, ele praticava violência doméstica”, justificou, concluindo: “Desde aí, prometi a mim próprio que ia ser o melhor pai do mundo e que ia proteger todas as mulheres do mundo. Se a minha mulher quisesse eu tinha 10 filhos”.

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: D.R.

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