Trabalhadores da moçambicana LAM pedem “responsabilização exemplar” de desvios

O comité de trabalhadores da moçambicana LAM pede “responsabilização exemplar” de qualquer funcionário envolvido na “delapidação” da transportadora aérea, mas critica a divulgação de alegados casos de desvios e sabotagem apenas pela comunicação social.

Trabalhadores da moçambicana LAM pedem

“O sindicato não é a favor e nem apadrinha os trabalhadores, gestores da base ao topo, que delapidam e se apropriam de forma indevida do património da LAM e encoraja a responsabilização exemplar de qualquer que seja o prevaricador, pelos competentes órgãos internos e externos”, lê-se num comunicado do comité de trabalhadores.

Sobre a alegada sabotagem no interior da empresa, denunciada igualmente esta semana pela empresa FMA, gestora e responsável pela revitalização da LAM, o comité de trabalhadores do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Aviação Civil, Correios e Comunicações afirma que “a ser provada”, aquela estrutura representativa “também não apadrinhará” essas ações, “que não dignificam os trabalhadores no geral”.

Contudo, enquanto os trabalhadores alegadamente responsáveis por essas práticas não forem identificados, demarca-se destas acusações: “Havendo provas materiais de um ou grupo de trabalhadores presumíveis sabotadores, estes devem ser identificados, investigados e responsabilizados de acorda com a Lei do Trabalho e o Regulamento Interno da Empresa”, lê-se.

Na segunda-feira, em conferência de imprensa, a empresa sul-africana que está a gerir a LAM revelou esquemas de desvio de dinheiro de quase três milhões de euros em lojas de venda de bilhetes através de máquinas dos terminais de pagamento automático (TPA/POS) que não são da companhia.

“Fizemos um trabalho relâmpago com a segurança interna da LAM de recolher todos os POS e, dos 20 pontos de venda de bilhetes da LAM, recolhemos, até domingo, 81 POS. Há algumas lojas onde os próprios chefes dos estabelecimentos não reconhecem as máquinas e dizem não saber sequer a quem pertencem”, declarou Sérgio Matos, responsável pela reestruturação da LAM, numa conferência de imprensa em Maputo.

A LAM está num processo de revitalização, com a empresa sul-africana Fly Modern Ark (FMA) na sua gestão desde abril do ano passado com um plano de restruturação em curso.

“O sindicato é o órgão que por direito deve ser informado em primeira instância de todas as matérias ligadas ao trabalhador, e neste assunto não teve esta informação, nem da parte da FMA nem da direção-geral [da LAM]”, criticou, por outro lado, o comité da empresa.

De acordo com a informação prestada na conferência de imprensa de segunda-feira, a fiscalização começou há quase duas semanas, quando a empresa percebeu que, embora o número de bilhetes vendidos esteja a subir, as contas continuam longe do esperado.

“Está-se a vender, mas a empresa não está a ter todo o dinheiro e nos últimos três meses das avaliações fomos vendo que o diferencial que estávamos a ter estava na ordem entre dois milhões dólares (1,8 milhões de euros) e três milhões de dólares (2,7 milhões de euros). Só no mês de dezembro, estamos com um défice de 3,2 milhões de dólares (2,9 milhões de euros)”, observou Sérgio Matos.

Avançou ainda que a inspeção registou casos suspeitos mesmo na recolha de dinheiro vivo nas lojas e que a inspeção levada a cabo também identificou anomalias no abastecimento de combustível às aeronaves.

“Se uma aeronave tem capacidade máxima de combustível na ordem de 80.000 litros, nós chamamos de 80 toneladas, [nos documentos] a mesma aeronave está a ser abastecida a 95 toneladas. Então a questão é onde as 15 toneladas restantes estão a entrar”, questionou.

Além destas situações, o diretor de restruturação da LAM denunciou a descoberta de uma conta no Maláui com 1,2 milhões de dólares (1,1 milhões de euros), a que ninguém na companhia tem acesso.

A estratégia de revitalização da empresa segue-se a anos de problemas operacionais relacionados com uma frota reduzida e falta de investimentos, com registo de alguns incidentes, não fatais, associados por especialistas à deficiente manutenção das aeronaves.

PVJ (EAC) // VM

By Impala News / Lusa

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