ENTREVISTA: Retorno do megaprojeto da TotalEnergies eleva expetativas do Porto de Mocímboa da Praia

O retorno do megaprojeto de gás da TotalEnergies em Cabo Delgado, previsto para este ano, elevou o otimismo nas projeções do Porto de Mocímboa da Praia, “infraestrutura estratégica” reabilitada em 2023 e que foi ocupada por rebeldes em 2020.

ENTREVISTA: Retorno do megaprojeto da TotalEnergies eleva expetativas do Porto de Mocímboa da Praia

“Basicamente, os megaprojetos são os nossos pilares (…) Existem bastantes expetativas no retorno dos projetos de gás na região”, disse Helénio Turzão, administrador do Porto de Mocímboa da Praia, em entrevista à Lusa.

Na noite de 12 de agosto 2020, os grupos armados que têm protagonizado ataques em Cabo Delgado desde 2017 invadiram o Porto de Mocímboa da Praia e os confrontos com as Forças de Defesa e Segurança deixaram um número até hoje desconhecido de mortos, incluindo elementos da força marítima, além de várias infraestruturas destruídas.

A infraestrutura, de localização estratégica para a província, teve de ser reabilitada, num processo que incluiu a construção de um novo cais e a reabilitação do parque de contentores, tendo sido, no total, investidos mais de 13,5 milhões de dólares (12 milhões de euros).

“O manuseamento de carga que nós estamos a fazer agora está muito longe da capacidade que nós instalamos no porto, mas nós temos a compreensão clara de que rapidamente essa capacidade vai ser desafiada, logo que os projetos do gás retornarem e a atividade económica retornar em pleno. Hoje esta capacidade está praticamente em 90% ociosa”, observou o administrador.

O otimismo da administração do Porto de Mocímboa da Praia surge numa altura em que a multinacional francesa TotalEnergies prevê retomar, ainda este ano, o megaprojeto de Gás Natural Liquefeito (GNL) em Cabo Delgado, norte de Moçambique, com as necessidades de financiamento praticamente asseguradas e a situação de segurança garantida na área.

Globalmente, o projeto, avaliado em 20 mil milhões de dólares (17,6 mil milhões de euros), está suspenso desde 2021, quando foi invocada a cláusula de força maior devido aos ataques atribuídos a grupos terroristas em Cabo Delgado.

A TotalEnergies, líder do consórcio da Área 1, tem em curso o desenvolvimento da construção de uma central, em Afungi, nas proximidades de Palma, a pouco mais de 70 quilómetros de Mocímboa da Praia.

Apesar do otimismo, prosseguiu Helénio Turzão, é preciso alguma cautela, já que a carga ligada aos projetos de gás é de “curto prazo”.

“Nós temos a consciência do prazo. Estas não são cargas de médio prazo e, na verdade, o que garante sustentabilidade de qualquer porto é a carga de longo prazo. Essa vai ser sempre a carga resultante da iniciativa local. Essa é a razão da nossa aposta em fomentar a cabotagem, já desde da altura da reabilitação”, acrescentou.

Só no primeiro ano após a reabilitação, em 2024, o Porto de Mocímboa da Praia manuseou 15 mil toneladas de carga diversa e 10 milhões de litros de combustível.

“Em 2025, até ao encerramento do primeiro trimestre, nós tínhamos movimentamos cerca de quatro mil toneladas de produtos e cerca de cinco milhões de litros de combustível (…) Neste ano, nós iremos facilmente ultrapassar as marcas realizadas em 2024”, explicou Helénio Turzão.

Quando em 2021 as forças governamentais recuperam Mocímboa da Praia, o porto estava totalmente devastado, bem como a carga de vários clientes que estava no local.

“Sob o ponto de vista de segurança, desde a sua retoma, não tivemos qualquer incidente. Tem havido notícias e relatos de incidentes em regiões próximas, mas não no círculo de influência de Mocímboa da Praia”, acrescentou.

Após meses nas “mãos” de rebeldes, Mocímboa da Praia foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.

No total, cerca de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito que começou há cinco anos e meio, com destaque para as fugas em massa que ocorreram após a intensificação das ações rebeldes em junho de 2020.

A recuperação de Mocímboa da Praia foi resultado de operações conjuntas das forças moçambicanas, do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), esta a última que já deixou o país.

A vila costeira foi aquela em que grupos armados protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017, tendo sido, por muito tempo, descrita como a “base” dos rebeldes.

Mocímboa da Praia está situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural, em Afungi, Palma, liderado pela TotalEnergies.

*** Estêvão Chavisso (texto) e Fernando Cumaio (vídeo), da agência Lusa ***

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By Impala News / Lusa

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