Empresários moçambicanos pedem medidas severas para travar raptos
Os empresários moçambicanos pediram ao Governo medidas severas para travar a onda de raptos que está a afugentar a classe, alertando que o fenómeno descredibiliza o país como lugar certo para investir.
“Vamos eliminar este inconveniente que está a afetar a credibilidade do nosso país, afugentando capitais não só de estrangeiros, mas de moçambicanos que, por questões de segurança, deslocam-se para outros países”, disse Salimo Abdula, presidente do conselho de administração do Grupo Intelec Holdings e da carteira móvel M-Pesa, da Vodacom Moçambique, durante a XIX Conferência Anual do Setor Privado (CASP), que decorre desde quarta-feira em Maputo.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, admitiu que o combate aos raptos que assolam o país, nomeadamente Maputo e sobretudo empresários, requer mais “proatividade”, nomeadamente a colaboração com o setor privado e outros países.
“Estamos a fazer o trabalho com os países que têm muita experiência neste sentido”, garantiu Nyusi, no discurso da XIX CASP.
Neste contexto, Abdula afirmou que são necessárias medidas urgentes e severas contra raptos, “para se cortar o mal pela raiz”.
O empresário, que foi presidente da Confederação Empresarial da CPLP (CE-CPLP), defendeu que, caso o Estado não reforce a segurança, há risco de massificação deste tipo de crime.
“Já começamos a sentir esse impacto, as pessoas nos bairro estão a sofrer, a mente criminosa está a se desenvolver e crimes de menor índole de preparação começam a acontecer”, alertou.
O mais recente caso de rapto em Maputo deu-se no passado sábado, envolvendo um jovem de 29 anos que foi levado por oito homens armados que fizeram disparos na via, indicou na altura à Lusa fonte do Serviço Nacional de Investigação Criminal.
De acordo com a fonte, o rapto deu-se na avenida Joaquim Chissano, junto a um dos estabelecimentos comerciais da vítima, sendo que quatro dos raptores tinham metralhadores AK-47, que utilizaram para disparar.
Este foi o segundo rapto de empresários nos últimos 15 dias em Maputo, e pelo menos o quarto conhecido publicamente desde o início do ano.
Apesar deste cenário, Salimo Abdula também sublinha que ainda é em menor grau em Moçambique, em comparação com países vizinhos como África do Sul, que, segundo o empresário, regista, em média, 4.000 raptos por trimestre.
“Se não nos precavermos em Moçambique, o que vai acontecer é que vamos chegar a esse nível (…). Infelizmente, essa é a realidade, tem se vivido dias menos bons e precisamos de medidas severas”, acrescentou.
Para além de afugentar investidores, os raptos têm afetado o turismo em Moçambique, criando receio em quem pretende visitar o país, como admitiu à Lusa o presidente da Cotur, Noor Momade, uma das maiores agências de viagens do país: “Qualquer turista, quando vai a um país, normalmente leva sua família e uma das coisas mais importantes é a sua segurança. E ele foge enquanto não sentir que há ambiente saudável para ele visitar o país”.
A posição é corroborada pelo administrador executivo da United Bank for Africa, Pedro Maranguele, que aponta as consequências nas linhas de crédito, por causa da insegurança.
“Raptos diminuem atração de investimentos. Sentimos o impacto negativo, por isso esperamos que as autoridades possam trabalhar para trazer um clima de segurança. Sabemos que investidores só metem dinheiro onde terão retorno”, afirmou.
A problemática dos raptos também incomoda os empresários fora de Maputo, que pedem soluções rápidas ao Governo.
“O país está a atravessar um momento difícil, primeiro a insurgência em Cabo Delgado, depois os raptos. A falta de segurança tem impacto negativo na retração de investimentos”, disse o gestor da indústria de plásticos e calçados INCALA, e também presidente da Associação Empresarial da Zambézia, Inusso Ismael.
O empresário defendeu que tem de haver “vontade de quem está ligado à segurança” para acabar com o problema.
“É necessário que a nossa polícia esteja organizada e implacável. E, se calhar, pedir auxílio de países com experiências na luta contra este crime”, defendeu Inusso Ismael, reconhecendo igualmente que há empresários que estão a abandonar o país, apostando onde se dá segurança ao empresariado.
“Por isso devemos encontrar fórmulas de acabar com este mal que só prejudica a nossa economia”, disse.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) registou um total de 185 casos de raptos e pelo menos 288 pessoas foram detidas por suspeitas de envolvimento neste tipo de crime desde 2011, anunciou em março o ministro do Interior.
“A cidade de Maputo apresenta maior tendência e incidência de casos criminais de raptos, seguida da província de Maputo e, por fim, Sofala, com registo de 103, 41 e 18 casos, respetivamente”, declarou Pascoal Ronda, em 19 de março.
PVJ // JMC
By Impala News / Lusa
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