Utentes da ligação fluvial Seixal-Lisboa cansados de supressões, começam a desacreditar no serviço
As sucessivas supressões de barcos na ligação Seixal-Lisboa estão a levar utentes a desistir deste tipo de transporte e os que permanecem dizem sentir que não existe uma garantia diária de chegar a horas aos seus empregos.

Estes foram alguns dos sentimentos hoje transmitidos à agência Lusa por utentes do transporte fluvial entre as duas margens realizado pela Transtejo-Soflusa, um tema que tem sido amplamente abordado nas redes sociais por vários passageiros, bem como por comunicados da Comissão de Utentes da ligação Seixal-Cais do Sodré e por declarações do autarca do Seixal.
Os protestos intensificaram-se com a alteração dos horários que entrou em vigor a 02 de maio, com o anúncio do reforço da operação 100% elétrica.
Em 05 de maio, a comissão de Utentes dos Transportes Públicos do Seixal emitiu um comunicado a criticar o novo horário do transporte fluvial, alertando que implicou o corte de duas ligações entre as duas margens no período da manhã.
“Além de manter exatamente o mesmo número de ligações em ambos os sentidos, seja nos dias úteis, seja aos sábados, domingos e feriados, conseguiu o feito de cortar uma ligação na ponta da manhã Seixal-Lisboa (Cais do Sodré) e outra Lisboa-Seixal”, referia a comissão em comunicado.
Na manhã de hoje, sem registo de constrangimentos, Cristina Pereira, da comissão de utentes, disse à agência Lusa, junto à estação fluvial, que na segunda semana da entrada em vigor dos novos horários o serviço normalizou, mas os passageiros têm a perceção, pela experiência que têm, de que poderá não ser um estado duradouro.
“Não é uma situação estável, basta um dos navios elétricos avariar para em seguida termos barcos suprimidos e, no Seixal, um barco suprimido em hora de ponta significa uma ligação dali a uma hora, o que é muito tempo para uma ligação fluvial à capital. Não se justifica”, explicou, adiantando que em consequência desta instabilidade há cada vez menos passageiros a utilizar este transporte, optando pela ligação ferroviária, que está sobrelotada.
Cristina Pereira adiantou que as pessoas estão cansadas e a perder a confiança neste meio de transporte.
A mesma ideia foi transmitida por Anabela Vicente, passageira que trabalha na baixa lisboeta, usa este transporte há anos, e não vê uma evolução positiva no transporte que afirma ter começado a degradar-se em 2011 e, de forma mais acentuada, a partir de 2016.
Questionada sobre se a nova frota elétrica trouxe alguma melhoria ao serviço, Anabela Vicente defende que a situação só piorou.
“São barcos lentos, raramente saem às horas. É o descalabro. Quem tem horários para cumprir, seja de manhã para entrar no emprego, seja à tarde, muitas vezes para recolher os filhos nos infantários, é muito complicado. Estão a castrar a mobilidade dos utentes do Seixal”, frisou.
Andreia Motaco, também passageira habitual no transporte fluvial, adiantou que esta semana o serviço normalizou, “talvez devido às ações que têm sido feitas”, mas sublinhou que, antes, foi “uma vergonha, com supressões diárias ou atrasos”.
“No dia 02, foi o descalabro. Nem estão a funcionar todos os elétricos como referia a empresa, nem os atrasos e supressões pararam, tirando esta semana”, disse, adiantando que as pessoas parecem estar apáticas, não reagindo em força contra um serviço que não é bem prestado.
Na sequência dos últimos constrangimentos, a comissão de utentes lançou um repto a todos os grupos políticos e aos cabeças de lista dos partidos candidatos por Setúbal às legislativas da próxima semana para se juntarem ao protesto dos que usam este transporte todos os dias, tendo recebido resposta de Paula Santos (CDU), que hoje esteve no local juntamente com o presidente da Câmara Municipal do Seixal (CDU), Paulo Silva, para realizar uma das viagens às primeiras horas da manhã.
Em declarações à agência Lusa, Paulo Silva disse que até ao momento não recebeu qualquer resposta da Transtejo-Soflusa ao seu pedido de audiência, “com máxima brevidade”, para que fossem encontradas soluções para a perturbação do serviço fluvial entre o Seixal e Lisboa.
“Preocupa-me muito que a população do concelho do Seixal, tendo dois meios para as suas deslocações para Lisboa, ferroviário e fluvial, se desloque de comboio como sardinha em lata e depois tenha um fluvial muito mais cómodo que está subaproveitado, porque deixou de acreditar na sua fiabilidade”, disse.
Paulo Silva adiantou que a autarquia, para incentivar o uso do transporte fluvial, ficou com a gestão do parque de estacionamento e tornou-o gratuito.
“É preciso agora que a Transtejo cumpra com as suas obrigações e faça com que este meio de transporte seja fiável e que as pessoas voltem a acreditar no mesmo”, frisou.
Paula Santos, cabeça de lista da CDU, disse também que tem havido um grande desinvestimento no transporte público fluvial no rio Tejo, que tem afetado todas as ligações.
“É incompreensível que, depois da aquisição de novos navios, num processo conturbado, a população não tenha transporte adequado”, disse, adiantando que este é um dos direitos consagrados, o direito à mobilidade.
A Transtejo Soflusa (TTSL) é a empresa responsável pela ligação fluvial entre o Seixal, Montijo, Cacilhas, Barreiro e Trafaria/Porto Brandão, no distrito de Setúbal, e Lisboa.
Em 2024, a TTSL transportou na ligação fluvial entre o Seixal e Lisboa um total de 1.040.043 passageiros.
GC // JLG
By Impala News / Lusa
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