Telescola. Professor Marcelo: “Faz-me falta passar por um neto e não o abraçar ou beijar”

Marcelo Rebelo de Sousa começa a aula de Cidadania na RTP Memória apresentando como professor e dizendo que vai “matar saudades das milhares de aulas” que deu ao longo da vida.

Telescola. Professor Marcelo: “Faz-me falta passar por um neto e não o abraçar ou beijar”

Marcelo Rebelo de Sousa começa a aula de Cidadania na RTP Memória apresentando como professor e dizendo que vai “matar saudades das milhares de aulas” que deu ao longo da vida.

O Presidente da República frisa que está ali, em direto, também para homenagear a equipa do #EstudoEmCasa.

O tema da aula é Lições da Pandemia.  Uma pandemia “é uma epidemia, isto é, uma doença contagiosa que está espalhada por um continente ou por vários continentes”, começa por explicar Marcelo.

Para esta aula de Cidadania, o Presidente escolheu deixar 10 lições sobre a pandemia de covid-19.

1- “A coisa mais importante da vida é, precisamente, a vida e a saúde. Tudo o resto não é possível, ou perde sentido, sem vida e saúde. A educação, o trabalho, o divertimento, o desporto… Nada disso é possível sem vida e saúde. E temos de agradecer ao nosso serviço nacional de saúde. Aos nossos médicos, aos nossos enfermeiros, aos nossos auxiliares, àqueles que fizeram diagnósticos e testes. Todos eles foram e são excepcionais. Muitos deles dormiram fora das famílias. Dias, semanas, meses, para não contaminar”.

2- “Se a pandemia é de todo o mundo, deve ser todo o mundo unido a tratar da pandemia a prevenir, a evitar, E depois, a responder. Infelizmente isto não aconteceu. Em muitos momentos, foi cada um para seu lado. E quem sofreu mais? As pessoas. E é bom que não venha a acontecer, quando chegarem os medicamentos, as vacinas, para não serem só para alguns. Para serem para todos. Não pode haver cidadãos do mundo de primeira, de segunda, terceira e quarta em medicamentos e vacinas”

3- “A terceira lição vivemo-la na Europa. Nós pertencemos à União Europeia. A Europa também andou distraída no início. Houve países que pensaram que escapavam ao vírus, como se o vírus não conhecesse fronteiras. Achavam que era de apenas algumas sociedades, de algumas economias. Mas a Europa percebeu. Tarde, mas percebeu. E apesar de tudo foi menos egoísta do que foi boa parte do mundo”

4- “Nesta epidemia o vírus pegava-se com muita facilidade a gente de todas as idades. Muitos de nós ficámos em casa durante semanas ou meses. Mas só pudemos ficar em casa semanas ou meses, porque houve quem fosse trabalhar para não parar a economia. Houve quem fosse tratar da água, da eletricidade, do gás, do esgoto, do lixo, da segurança, dos transportes, das comunicações, dos telefones, dos correios, das mercadorias… E nunca é demais agradecermos, porque eles aguentaram trabalhando com risco. Foi aquilo que permitiu que nós ficássemos em casa”

5- “A quinta lição merece mais umas palavrinhas. O vírus ataca toda a gente. Mas ataca sobretudo quem? Os mais idosos, como eu, que tenho 71 anos. Verdadeiramente, 71 anos e meio. Os mais doentes…do coração, dos pulmões, de cancros, de doenças mais graves. E a nossa e a vossa obrigação, dos mais novos, é não pensarem que são eternos, e não pensarem que não devem seguir as regras de saúde. A máscara, quando necessária, a distância, quando imposta, os cuidados de limpeza… Para proteger os mais velhos e mais doentes. E ao mesmo tempo pensarem naquilo que lhes devem”

6- “O vírus ataca todos, mas ataca sobretudo os mais pobres, os mais fracos, os mais carenciados. Esses têm menos capacidade de resposta. Porque não têm teto, são sem-abrigo, porque têm casas sem condições, porque vivem em camaratas, porque não têm água, porque não têm eletricidade, porque as condições de saúde não são as mesmas que muitos de vocês têm… Nós temos que mudar um bocadinho o país. Temos 1 de cada 5 residentes em Portugal – portugueses e estrangeiros-que vive abaixo do nível de pobreza. Ou seja, que tem menos capacidade para resistir ao vírus. Quando um dia se fizerem os estudos, ver-se-á que embora haja mais ricos que também foram tocados pelo vírus, foram sobretudo os mais pobres que sofreram”

7- “Esta lição é sobre os milhares de imigrantes. Sabem que nós somos um país espalhado pelo mundo. E são milhares os imigrantes que quiseram vir a Portugal nas férias da Páscoa. E nós tivemos de lhes pedir para eles não virem, sacrificando o encontro com as famílias. Muitos deles estavam desempregados. Ou tinham trabalho parado nesses países onde as economias travaram. Para não virem, para não aumentarem o risco de contágio. Vinham de países onde, naquela altura, o contágio era anterior e mais forte do que em Portugal. e agora estamos a pedir ao milhares que vêm para férias de verão que tenham cuidado com o encontro com os avós, com os pais, com os tios. Para conseguirmos baixar o número de infetados. E o que é espantoso é que os nossos irmãos perceberam, aceitaram, colaboraram, percebendo que é uma causa nacional”

8- “Vocês passaram semanas ou meses, como eu passei, fechados em casa, e estiveram distantes dos outros familiares, amigos, colegas. muito tempo, nunca tinham estado tanto tempo. Mas agora olhem para o aspeto positivo. Nunca, porventura, nos últimos anos, estiveram tanto tempo juntos com os vossos irmãos e com os vossos pais. porque os pais não estão normalmente a trabalhar em casa, ao computador, os irmãos estavam noutros anos, noutras escolas. E estarem juntos é uma sensação única. Mesmo quando não corre bem, quando se irritam, quando estão cansados, quando estão fartos… A família é a família”

9- “Mudou muita coisa na vossa vida. vocês não notaram, são novos. É a primeira vez que têm uma experiência destas. eu já vivi algumas epidemias. Nada comparado com isto… Nunca se estudou tanto pela internet e como apoio da televisão. Nunca se trabalhou tanto de casa com computadores… Não sei se aconteceu com vocês, mas aconteceu comigo. Descobri o valor das pequeninas coisas. Quando não podemos viajar, sair de casa, ir à praia (…) e estamos ali fechados em casa, cada pequeno gesto ganha uma importância fundamental. Eu, de tanto passear no Palácio de Belém, passei a conhecer todos os cantos do palácio. Passeei quilómetros enquanto estive confinado”

Marcelo diz que sente saudades dos abraços e que espera que chegue ao fim essa regra do distanciamento. Até porque tem “fama de beijoqueiro”, culpa dos pais. E revela como o filho que veio do Brasil o abraçou e beijou contra as regras: “Foi no meio da rua. Aconteceu”. “Faz me falta passar por um neto e não o abraçar ou beijar”, lamenta ainda.

10- “Ao terminar este ano letivo em que foram todos espetaculares e fizeram das tripas coração, pode acontecer que tenha corrido melhor ou pior. (…) Às vezes esquecemo-nos mas o vírus não desapareceu, ainda não há vacinas, portanto o que eu penso é que, sendo legítimo haver pluralismo de opinião em democracia, todos terão presente a importância de não perderem canais de diálogo que existiram. Vamos viver uma crise pior do que a que neste momento vivemos, e quanto mais tempo durar a pandemia maior será a crise.”

Marcelo Rebelo de Sousa proferiu no dia 20 de Setembro de 2018 a sua “última lição formal” como professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde foi aluno e depois docente, durante mais de 40 anos, desde 1972.

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