ONU denuncia que talibãs aumentaram restrições a mulheres e raparigas no Afeganistão

As autoridades talibãs aumentaram ainda mais nos últimos meses as restrições impostas às mulheres e raparigas no Afeganistão, sobretudo nas áreas da educação e emprego, denuncia hoje um relatório da ONU sobre os Direitos Humanos naquele país.

ONU denuncia que talibãs aumentaram restrições a mulheres e raparigas no Afeganistão

Segundo o relatório da missão da ONU no Afeganistão, que analisou acontecimentos e medidas decretadas entre maio e junho, o Ministério da Saúde Pública do regime talibã anunciou que só os homens poderão fazer exames para prosseguirem estudos médicos especializados.

A medida vem na sequência da proibição de as mulheres estudantes de medicina se submeterem a exames de licenciatura, anunciada em fevereiro passado, e da proibição das mulheres frequentarem universidades, decretada em dezembro de 2022, segundo o documento.

A ONU afirma ainda ter registado casos em que os talibãs aplicaram as limitações (anteriormente anunciadas pelos extremistas) à liberdade de circulação e de acesso ao emprego das mulheres.

No início de maio, duas funcionárias afegãs de uma organização não-governamental (ONG) internacional foram detidas por forças talibãs num aeroporto porque viajavam sem um acompanhante masculino, ou ‘mahram’, segundo o relatório.

Em junho, uma parteira foi detida e interrogada durante cinco horas pelos serviços de informação dos talibãs, que a ameaçaram de morte se continuasse a trabalhar para uma ONG. Segundo o relatório, dois dias depois, a parteira demitiu-se.

“Duas outras ONG viram as licenças suspensas pelo Departamento de Economia devido à presença de funcionárias nos seus escritórios”, denuncia-se no mesmo documento, que adianta ter igualmente registado casos de violência física contra as mulheres, incluindo um incidente em que membros do Departamento de Vícios e Virtudes espancaram uma mulher com um pau e obrigaram-na a abandonar um parque público.

Apesar das promessas iniciais de um regime mais moderado em comparação ao seu anterior período no poder, na década de 1990, os talibãs têm vindo a impor medidas severas desde que tomaram novamente o controlo do Afeganistão em agosto de 2021, quando as forças dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ainda estavam a retirar-se do país.

Desde então, proibiram o acesso das mulheres à maior parte dos setores da vida pública e do trabalho e reprimiram a liberdade dos meios de comunicação social. 

O regime de Cabul proibiu também as raparigas de frequentarem a escola para além do sexto ano e ainda as mulheres afegãs de trabalhar em organizações locais e não-governamentais. Em abril, a proibição foi alargada às funcionárias de agências da ONU que operam no país.

As medidas desencadearam uma forte revolta internacional, aumentando o isolamento do país numa altura em que a economia afegã entrou em colapso e em que a crise humanitária se agravou.

Durante o primeiro regime talibã, de 1996 a 2001, os oficiais aplicavam castigos corporais e execuções públicas a pessoas condenadas por crimes, frequentemente em estádios desportivos.

Em junho, os talibãs concretizaram o que se crê ser a segunda execução pública desde que regressaram ao poder. 

A primeira ocorreu em dezembro passado, quando um homem condenado por assassínio foi executado com uma espingarda de assalto pelo pai da vítima, na província ocidental de Farah, perante centenas de espetadores e vários altos funcionários talibãs.

O segundo, executado em Cabul, foi um homem identificado como Ajmal, considerado culpado do assassínio de cinco pessoas no ano passado.

Em maio, a ONU declarou que 274 homens, 58 mulheres e dois rapazes tinham sido publicamente chicoteados nos seis meses anteriores.

 

JSD // SCA

By Impala News / Lusa

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