Novos surtos de gripe das aves estão a surgir na Europa

Europa volta a enfrentar novos surtos da gripe das aves, a doença com origem em aves mais mortal que se conhece. A vacina minimiza os sintomas, mas continua a impedir a disseminação.

Novos surtos de gripe das aves estão a surgir na Europa

Mais uma vez, a Europa está a enfrentar surtos de gripe das aves – a doença proveniente de aves mais mortal que se conhece. “Em galinhas e perus, mais de 90% de um bando afetado morre em poucas semanas, embora em patos e gansos possa ser mais branda”, atesta Arjan Stegeman, professor de Medicina Veterinária da Universidade de Utrecht. A maioria dos surtos de gripe das aves “causa infecção leve em pássaros”, mas dois subtipos (o H5 e o H7) “podem ocorrer como um vírus muito mortal”.

Os vírus da gripe têm um “alta taxa de mutação e podem trocar genes quando dois vírus infectam simultaneamente um único hospedeiro”. Estas mudanças genéticas permitem que os vírus “mudem a sua composição e escapem à imunidade do hospedeiro e continuem a espalhar-se”. No século passado, as epidemias da gripe das aves “eram raras e surgiram dos vírus H5 ou H7”. Eram leves, mas sofreram mutações até se tornarem mortais durante a transmissão em frangos ou em perus. Até 1996, os surtos ou as epidemias “foram controlados ou desapareceram”, devido à “inexistência de hospedeiros suscetíveis”, situa o médico veterinário.

H5N1 – gripe das aves emerge de novo na Europa

As infecções causadas por estes vírus mortais nunca tinham sido vistas em pássaros selvagens até ao surgimento do vírus H5N1, na China. “Os surtos em aves não foram controlados de forma eficaz e o vírus expandiu-se gradualmente pela China. A partir de 2003, alastrou-se pela Ásia e por África.” Foi neste momento que, pela primeira vez, “humanos em contato com aves infectadas acabaram infectados”. E, destes, 456 morreram. “Algumas aves selvagens foram infectadas por causa da propagação contínua do vírus – originando novas variantes do H5, que continuavam mortais, embora pouco prejudiciais para certas espécies de aves aquáticas.”

Consequentemente, “as aves migratórias – maioritariamente aquáticas – voaram milhares de quilómetros, apesar de infectadas” e assim “espalharam os vírus por distâncias extremamente vastas”. Em 2005, “introduziram-no na Europa, durante a migração de outono”. Foi o primeiro sinal de que “a ecologia destes vírus tinha mudado por completo”. “Um vírus estritamente associado às aves domésticas adaptou-se às selvagens, aumentando tremendamente o seu potencial de sobrevivência”, até chegar ao ser humano.

Todos os anos, “na primavera e no verão”, os pássaros migratórios “partilharam espaços de nidificação e misturam os vírus da gripe, criando novas variantes que vão trazendo para Europa, Ásia e África” durante a migração de outono, “causando surtos cada vez mais mortais em aves”, elucida Arjan Stegeman. “Obviamente, pouco podemos fazer para controlar as infecções nas aves migratórias. A vigilância é recomendada para avaliar o risco de exposição ao vírus em aves e a remoção de carcaças de aves do meio ambiente” é essencial.

Os avicultores em áreas com muitas aves migratórias são aconselhados “a abrigarem galinhas e perus”, por exemplo, e “devem implementar medidas de biossegurança para manter o vírus fora dos seus aviários”. “As fezes de aves selvagens infectadas podem conter grandes quantidades de vírus que podem facilmente entrar nos aviários” se as medidas de higienização forem insuficientes. Os programas de biossegurança atuais “não têm sido suficientemente eficazes para prevenir infecções em áreas de risco”. Em 2020-21, ocorreram mais de mil surtos só na União Europeia. Atualmente, dezenas de surtos já foram detectados. “Os surtos anuais recorrentes, com a associada matança em massa de aves, são uma ameaça óbvia à sustentabilidade da avicultura.”

Vacina contra a gripe das aves

A vacinação pode ser uma ferramenta para ajudar a resolver o problema. No entanto, “é proibida em muitos países e o seu uso resulta em barreiras comerciais para as aves”. A razão para as barreiras comerciais é que a maioria das vacinas atuais “previnem doenças, mas não travam a transmissão”. Uma vacina que interrompa a doença, mas não interrompa a transmissão “resultará na disseminação silenciosa do vírus, o que compromete o controlo do surto e é indesejável porque o vírus tem o potencial de transmitir-se dos animais para os humanos”.

“Felizmente, a maioria das variantes do vírus H5 atualmente em circulação não é tão perigosa para os humanos quanto o ancestral H5N1. Ainda assim, é necessária cautela. Pois tudo pode mudar facilmente, devido à capacidade do vírus de alterar o seu código genético.” Necessitamos “urgentemente de vacinas eficazes para as aves – que é a única solução sustentável”. As de nova geração “podem ter mais potencial para controlar a gripe das aves”, mas a sua eficácia para impedir a transmissão “ainda está por demonstrar”. Estas vacinas “não protegerão apenas as aves, mas também minimizarão a exposição dos humanos ao vírus”.

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