MSF alerta para deslocadas, grávidas, a viver em tendas e sem assistência obstétrica em Gaza

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertaram hoje para a “grave falta de assistência obstétrica” em Gaza, onde muitas mulheres grávidas continuam sem receber assistência desde o início da guerra devido aos contínuos bombardeamentos e às restrições ao apoio humanitário.

MSF alerta para deslocadas, grávidas, a viver em tendas e sem assistência obstétrica em Gaza

Num comunicado, a organização internacional humanitária adianta que, em Gaza, os serviços de saúde estão “praticamente indisponíveis” e que as mulheres em trabalho de parto não conseguem chegar aos hospitais devido à falta de combustível e à fraca capacidade das poucas unidades restantes. 

“As mulheres deslocadas pela guerra vivem em condições deploráveis e estão a parir em tendas de plástico e edifícios públicos. As que conseguem dar à luz num hospital regressam frequentemente aos abrigos improvisados poucas horas depois do parto”, sublinharam os MSF.

Na zona de Rafah, no sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito, a maternidade dos Emirados é a principal instalação que resta para dar resposta às necessidades de saúde materna das mulheres grávidas deslocadas. 

Mas as necessidades, referem os MSF, são enormes, pois os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) dão conta de umas estimadas 50.000 mulheres grávidas e, segundo os da UNICEF, cerca de 20.000 bebés nasceram desde o início da guerra, a 07 de outubro.

Em Rafah, prosseguem os MSF, a situação está a complicar-se de dia para dia numa localidade que, antes do início da guerra entre Israel e o Hamas, albergava 300 mil pessoas, número que, atualmente, subiu para mais de 1,5 milhões.

A organização humanitária relata o caso de Maha, nome fictício, que foi ao hospital quando o trabalho de parto estava a começar, mas foi rejeitada porque todas as salas de parto estavam cheias. 

“Desanimada, regressou à sua tenda improvisada, uma das muitas existentes nos campos de Rafah. […] Infelizmente, Maha não pôde regressar ao hospital. Deu à luz o seu filho, já falecido, numa casa de banho pública”, conta a organização.

Segundo os MSF, a guerra em Gaza, marcada pela falta de ajuda humanitária e pelos ataques às instalações de cuidados de saúde, perturbou completamente o acesso aos cuidados de saúde materna, expondo tanto as mães como os seus filhos a riscos de saúde graves e mesmo fatais. 

Segundo os MSF, que se dizem “profundamente alarmados com a deterioração da falta de cuidados obstétricos em Gaza”, toda a Faixa de Gaza está a enfrentar “um aumento avassalador das necessidades e a falta de capacidade”.

“Com tantas pessoas deslocadas, a situação em Rafah é aterrorizante. Todos os lugares estão superlotados, com pessoas a viver em tendas, escolas e hospitais. O hospital dos Emirados está agora a lidar com o triplo do número de entregas que lidava antes da guerra”, disse a coordenadora para os serviços de emergência dos MSF em Gaza, Pascale Coissard. 

Segundo os MSF, as mulheres que conseguem dar à luz num hospital regressam, depois, aos abrigos improvisados poucas horas depois de terem sido submetidas a uma cesariana. 

Para reduzir o risco de morbilidade e de mortalidade entre mães e recém-nascidos, os MSF sublinharam estar a apoiar o hospital dos Emirados com cuidados pós-parto, adicionando 12 camas à enfermaria, aumentando a capacidade para 20.

 “Sem recursos suficientes e com um número excessivo de pacientes, o sistema de saúde está sobrecarregado e as mães são forçadas a receber alta poucas horas após o parto. As primeiras 24 horas pós-parto são as mais arriscadas para complicações, e com as pessoas vivendo em condições terríveis, é importante manter a paciente no hospital o máximo de tempo possível “, explica a gestora de atividades de parteiras dos MSF, a portuguesa Rita Botelho da Costa. 

Com tão pouco acesso aos serviços de saúde materna, muitas mulheres grávidas não receberam quaisquer cuidados desde o início da guerra e não puderam verificar a evolução quer da gravidez quer do estado de saúde dos seus filhos.

“Quando as mulheres grávidas não têm acesso adequado a cuidados de saúde, comida suficiente ou abrigo adequado, é mais provável que elas e os seus filhos tenham problemas de saúde, incluindo infeções. Os filhos de mulheres grávidas ou lactantes subnutridas correm um risco imediato de problemas de saúde e de potenciais problemas de desenvolvimento a longo prazo”, alertam os MSF.

Segundo a organização humanitária, mais de um terço das pacientes que procuram cuidados pré-natais apresentam anemia, uma condição frequentemente associada a uma deficiência de ferro, o que é uma preocupação crítica para as mulheres grávidas que necessitam frequentemente de suplementação de ferro. 

“No entanto, sem ajuda humanitária suficiente para Gaza e proteção para as poucas instalações de saúde que continuam a funcionar, a prestação de cuidados continuará a ser uma gota no oceano”, sublinham os MSF no comunicado.

Nesse sentido, a organização reiterou o apelo a um cessar-fogo “imediato e incondicional”, e à proteção das instalações de saúde para salvaguardar vidas. 

“Também enfatizamos a urgência de restaurar prontamente o fluxo de ajuda humanitária em Gaza e restabelecer o sistema de saúde, do qual depende criticamente a sobrevivência de mães e crianças em Gaza”, concluirão os MSF.

 

JSD // APN

By Impala News / Lusa

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