Combates no Sudão ameaçam Património Mundial da UNESCO

A guerra no Sudão está a pôr em perigo locais arqueológicos inscritos na lista do Património Mundial da UNESCO, alertou hoje a Rede Regional dos Direitos Culturais.

Combates no Sudão ameaçam Património Mundial da UNESCO

O Sudão está a ser devastado desde 15 de abril por uma guerra pelo poder entre dois generais rivais.

O conflito entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), do general Mohamed Hamdane Daglo, já deixou mais de 12 mil mortos, segundo estimativa da organização não-governamental (ONG) Armed Conflict Location & Event Data Project.

A guerra também fez deslocar mais de sete milhões de pessoas, segundo a ONU.

Segundo comunicado da Rede Regional dos Direitos Culturais, entre o património Mundial da UNESCO que está em perigo encontra-se a ilha de Meroe (norte), que foi o centro do reino de Kush, datado do século III a.C., e é conhecido pelas suas pirâmides que serviam de monumentos funerários.

Na mesma nota, a ONG alerta “para as consequências da transformação de zonas de antiguidades históricas e culturais em campos de batalha (…)” e recorda, às duas partes, o perigo de danificar o património cultural e as antiguidades.

O aviso surge depois de imagens e vídeos divulgados nas redes sociais nos últimos dias terem mostrado confrontos entre o exército e as RSF perto de sítios arqueológicos a sul da cidade de Shendi, 150 quilómetros a norte de Cartum.

Naqaa e Musawarat, considerados entre os locais mais importantes do país africano, têm património em perigo – estátuas, antiguidades e santuários que remontam à época do reino Kush.

Esta nota surge um dia depois de o exército sudanês ter afirmado que utilizou aviões militares, entre outro material de guerra, para repelir um ataque dos paramilitares perto de Shendi, uma zona que não tem sido utilizada para operações militares desde o início da guerra.

A confirmar-se, será a primeira tentativa dos paramilitares de atacar o norte do país, depois de terem obtido a sua maior vitória em dezembro, quando expulsaram o exército da cidade de Wad Madani, no leste do Sudão, que tem servido de refúgio a dezenas de milhares de civis.

Durante esta guerra, os paramilitares tomaram o controlo de vários bairros de Cartum, da cidade vizinha de Um Durman, bem como de vastas zonas da região ocidental do Darfur, onde várias organizações e residentes relataram a destruição quase total de casas, bem como de centros educativos, culturais e turísticos.

“O Sudão perdeu muitos recursos culturais, arquivos nacionais, bibliotecas universitárias, centros culturais e salas de exposições devido à guerra desastrosa”, lamenta a organização no comunicado.

“Apelamos aos intelectuais da região e de todo o mundo, à UNESCO e ao Relator Especial da ONU para os Direitos Culturais para que assumam a responsabilidade pela proteção dos sítios arqueológicos de Naqaa e Musawarat e de todos os sítios arqueológicos e culturais do Sudão”, conclui.

MAV // ANP

By Impala News / Lusa

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