BE requer audição urgente do ministro da Saúde sobre obstáculos ao aborto no SNS

O Bloco de Esquerda requereu hoje a audição urgente no parlamento do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e da Entidade Reguladora da Saúde sobre os obstáculos à interrupção voluntária da gravidez no Serviço Nacional de Saúde.

BE requer audição urgente do ministro da Saúde sobre obstáculos ao aborto no SNS

“A Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez veio estabelecer que esta não é punível quando efetuada por médico, ou sob a sua direção, em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o consentimento da mulher grávida, se for realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez”, escreveu a deputada Joana Mortágua no documento entregue no parlamento.

Na argumentação, a parlamentar recorda que são constantes as notícias sobre recusa desta prática, dentro dos parâmetros da lei.

“A uma reportagem do DN, o hospital da Guarda respondeu que não fazem IVG porque ali ´é um hospital amigo dos bebés´. O mesmo hospital diz que tente experimentar em Viseu, a uma hora de distância de carro. Não referencia, não encaminha, nada. A mulher que faça a corrida de obstáculos. O mesmo acontece com Castelo Branco que diz para as mulheres experimentarem na Covilhã ou em Portalegre ou na Guarda. Os exemplos são muitos: Santarém dizem “ai aqui não vai fazer nada disso, não pense” e ainda “não tenho médicos para as grávidas, vou ter para as IVG? Se está com pressa marque diretamente para a clínica e pague”, exemplificou.

A lei, recorda o BE, consagrou o direito de a mulher decidir sobre a gravidez e provou ser “uma política extremamente positiva” do ponto de vista de saúde pública, “reduzindo as complicações e a mortalidade associadas a práticas clandestinas”.

“Não obstante tudo isto, persistem os obstáculos colocados pelo SNS para acesso à IVG. Obstáculos que são inadmissíveis por colocarem em causa o acesso a um direito e por atentarem contra a dignidade das mulheres”, lê-se no documento.

Na sequência dos vários casos reportados, o Bloco de Esquerda apresentou uma iniciativa legislativa para a realização de uma auditoria a todas as instituições do SNS, de forma a fazer o levantamento de todos os problemas e de os corrigir. “O Ministro da Saúde disse não serem necessárias auditorias, falou de ´casos pontuais´ e disse que a situação seria resolvida em poucas semanas”, alega o partido.

“O relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) sobre o acesso à IVG no SNS mostra, no entanto, que a auditoria era necessária, que os casos não são pontuais e que o Ministro não resolveu o que quer que fosse em semanas”, insiste o BE.

Citando o documento, o Bloco refere que das 42 entidades hospitalares oficiais do SNS elegíveis para a realização de IVG, 15 não a fazem, sendo que dessas 15 entidades, duas não tinham sequer qualquer procedimento de encaminhamento para uma outra instituição onde a IVG pudesse ser realizada.

“Isto é apenas um pequeno resumo dos vários problemas identificados – outros seriam, por exemplo, a inexistência de lista de objetores de consciência e outras barreiras administrativas que fazem perder tempo e que servem de obstáculos ao acesso à IVG — mas é já por si muito preocupante e inadmissível”, considera o BE.

Em 2022 foram realizadas cerca de 15.600 interrupções da gravidez por opção da mulher nas 10 primeiras semanas de gestação, mais 15% face a 2021, a maioria em hospitais públicos, segundo dados da Entidade Reguladora da Saúde (ERS).

Apesar de a maioria das interrupções voluntárias da gravidez terem sido realizadas no Serviço Nacional de Saúde, verificou-se “um ligeiro aumento” da percentagem realizada no setor privado nos anos de 2020 e 2022 (12% em 2020 e 24% em 2022, face ao respetivo ano transato)”, refere a ERS no relatório.

AH (HN) // JMR

By Impala News / Lusa

Impala Instagram


RELACIONADOS