Aventuras de Arsène Lupin chegam às livrarias a reboque do sucesso da série

Várias editoras estão a lançar as aventuras de Arsène Lupin, o cavalheiro ladrão criado por Maurice Leblanc em 1905, a reboque do sucesso de audiências da série da Netflix, cuja segunda temporada foi anunciada em janeiro.

Aventuras de Arsène Lupin chegam às livrarias a reboque do sucesso da série

Arsène Lupin é uma personagem de ficção criada há mais de um século por Maurice Leblanc, inspirada no anarquista francês Marius Jacob (1879-1954), e que representa um ladrão cavalheiro bem vestido, caracterizado pela sua inteligência e perspicácia.

Em janeiro deste ano, a Netflix estreou a série “Lupin”, inspirada nas aventuras deste gatuno de casaca, e liderou o ‘top’ diário do serviço de ‘streaming’ em vários países, como Portugal, Brasil, Argentina, Itália, Espanha, Holanda ou Suécia.

Depois deste sucesso, a Netflix anunciou o regresso de Lupin no verão, tendo divulgado o ‘teaser’ da segunda parte da série no início deste mês.

À boleia deste sucesso, as editoras anunciaram o lançamento dos livros de aventuras de Arsène Lupin, com a Relógio d’Água e a Cultura Editora na linha da frente com as publicações a decorrerem já este mês.

“Arsène Lupin – Gentleman Ladrão” é o título da edição da Relógio d’Água, que recupera a coletânea de nove contos, inicialmente publicados na revista Je Sais Tout em julho de 1905, como uma alternativa às narrativas policiais de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle.

A obra conheceu um enorme sucesso com a criação de um protagonista dotado de imaginação fértil, agilidade física e mental, sentido de humor, elegância e com uma falta de escrúpulos associada a um código de honra que o levava a proteger sempre os mais frágeis.

Neste primeiro livro da Relógio d’Água — que já anunciou que irá publicar também o segundo e terceiro volume da série -, Arsène Lupin demonstra a sua capacidade para esconder joias de um modo original, escapar à prisão, assaltar cofres, descobrir joias falsas, mostrando ainda como desde rapaz se revelara o seu talento de assaltante.

A Cultura Editora também já fez chegar às livrarias a sua edição da mesma obra, com o título “Arsène Lupin – Cavalheiro Ladrão”.

No próximo mês, outras publicações surgirão nos escaparates das livrarias, desde logo uma edição da Leya, que chega no dia 06 de abril, intitulada “Arsène Lupin, Ladrão de Casaca”, numa edição de lombada cozida à mão e sem corte a guilhotina, “conferindo um aspeto de manuscrito, tal como terá sido entregue à editora nos primórdios da carreira deste mestre do crime”, explica a Leya.

Dois dias depois, será posta à venda a versão da Porto Editora, “Arsène Lupin, Cavalheiro Ladrão”, que também acompanha as primeiras nove aventuras de Lupin, situadas em Paris, no início do século XX, em plena Belle Époque.

No dia 15, é a vez de a editora Aletheia, através da chancela Ideia-Fixa, pôr à venda “Arsène Lupin contra Sherlock Sholmes”, o segundo volume da série de vinte títulos que Maurice Leblanc dedicou à figura de Arsène Lupin.

A Ideia-Fixa já tinha publicado em 2015 o primeiro volume, “Arsène Lupin, gentleman-gatuno”, que as outras editoras estão agora a lançar.

Maurice Leblanc construiu uma das personagens mais marcantes do policial, que veio a inspirar, entre outros, o Santo, de Leslie Charteris, e muita da banda desenhada famosa dos anos 1960.

É o caso da personagem Arsène Lupin III, protagonista do manga japonês “Lupin III”, de 1967, que foi escrito como sendo o neto de Arsène Lupin.

Os autores das várias edições de Lupin III, usaram os romances de Leblanc como inspiração para outras obras, como foi o caso do realizador japonês Hayao Miyazaki, e o seu filme “O Castelo de Cagliostro” (1979), vagamente baseado na aventura “A Condessa de Cagliostro”.

Maurice Leblanc nasceu a 11 de dezembro de 1864, na cidade francesa de Rouen, no seio de uma família rica.

Aos 6 anos, foi enviado para a Escócia, devido à Guerra Franco-Prussiana, onde prosseguiu os estudos, tendo-se revelado demasiado bom aluno, como reconheceria mais tarde com arrependimento.

Cedo travou conhecimento com as obras literárias de Gustave Flaubert e Guy de Maupassant (este último apoiou-o nas suas primeiras tentativas literárias), normandos como ele, e mais tarde conheceu os trabalhos de Émile Zola e Mallarmé.

Apesar das oportunidades de estudo em França, na Alemanha ou em Itália, decidiu interromper o curso de Direito para se tornar jornalista e escritor, depois de uma curta experiência de trabalho na empresa familiar.

Estabeleceu-se como repórter policial do jornal L’Écho de Paris e publicou “Une femme”, um romance psicológico, aos 23 anos, que foi bem acolhido pela crítica, mas ignorado pelos leitores, o que viria a acontecer com as suas obras seguintes.

A personagem que o tornaria famoso, Arsène Lupin, surgiu de um convite do editor da revista Je sais tout para publicar histórias de um detetive que pudesse ser uma alternativa às de Sherlock Holmes, então muito populares.

Mas Arsène Lupin viria a revelar-se uma personagem contrária à do detetive de Baker Street, inspirando-se no anarquista francês Marius Jacob, considerado um ladrão inteligente, com sentido de humor e generosidade.

A obra de Maurice Leblanc tinha também raízes em autores como Octave Mirbeau, e embora, a partir de 1907, se tenha dedicado quase exclusivamente à personagem de Arsène Lupin, escreveu ainda dois romances de ficção científica, “Os Três Olhos” (1919) e “O Fantástico Acontecimento” (1920).

Socialista radical, agraciado com a Ordem Nacional da Legião da Honra, Maurice Leblanc morreu de pneumonia em 1941, aos 76 anos, em Perpignan, para onde se retirara em 1939, depois da invasão alemã.

Vários dos seus vinte e quatro romances policiais foram adaptados ao cinema e ao teatro.

 

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