Ainda está por decidir se “Criança do Lapedo” será um dia exposta ao público

Vinte e cinco anos depois da descoberta, o esqueleto da “Criança do Lapedo” permanece depositado no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, mas está por decidir se um dia será exposto ao público.

Ainda está por decidir se

No âmbito das comemorações dos 25 anos da descoberta da “Criança do Lapedo”, ocorrida em 1998 no Abrigo do Lagar Velho, no Vale do Lapedo, no distrito de Leiria, realizou-se hoje uma visita ao esqueleto, que está depositado, desde então, nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia (MNA).

O MNA está encerrado ao público há mais de um ano, para remodelação no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas algumas das obras e coleções, como o esqueleto da “Criança do Lapedo”, e laboratórios estão depositados em oito contentores climatizados, numa área ao ar livre do edifício.

Na visita conduzida pelo diretor do MNA, António Carvalho, foi possível ver as caixas onde estão colocadas as dezenas de fragmentos e ossos da “Criança do Lapedo”, com cerca de 29.000 anos, classificados como tesouro nacional e cuja descoberta marcou a paleoantropologia internacional, por se tratar do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica e porque a criança apresenta traços de ‘Neandertal’ e de ‘homo sapiens’.

Questionado pela Lusa, António Carvalho disse que ainda está a ser debatido, e não há uma decisão tomada, sobre o futuro deste achado arqueológico: se permanecerá nas reservas do museu nacional, se poderá integrar a exposição permanente quando reabrir, se regressará ao sítio arqueológico, classificado como monumento nacional.

“No quadro da intervenção do museu certamente que esta questão e outras vão ser debatidas, porque é normal. Um museu que depois se oferece com todas as condições de conservação e de alguma projeção das suas reservas que vá ser objeto de reflexão, se se vão juntar determinados bens arqueológicos. Até para respeitar um princípio legal que é a da não-dispersão dos bens arqueológicos. Vamos ver”, disse.

Presente na visita, a antropóloga Cidália Duarte, que em 1998 fez parte da equipa de escavações, e que atualmente ainda trabalha no projeto de conservação, falou na “enorme responsabilidade” em lidar com este tesouro nacional.

“É uma descoberta tão importante que é uma responsabilidade que recai em cima de nós se isto se deteriora por alguma ação que queiramos fazer. Já o imaginei exposto de várias maneiras, mas eu tenho receio, todos nós temos de tratar dessa memória para o futuro”, disse.

A antropóloga recordou que o esqueleto só esteve por uma vez exposto ao público, numa exposição temporária, na Alemanha, no âmbito da exposição de 2011 que assinalou os 150 anos da descoberta do Homem de Neandertal nesse país.

A visita realizada hoje é uma das várias iniciativas que assinalam os 25 anos da descoberta da “Criança do Lapedo” em Leiria.

O programa prolongar-se-á até ao final de 2024 e “inclui conferências, conversas, mesas-redondas, exposições, residências artísticas, publicações, em vários formatos, percursos pedestres e atividades performativas e educativas, de distintas naturezas”, anunciou a Câmara de Leiria.

Segundo a autarquia, a descoberta da “Criança do Lapedo” (anteriormente designado de “Menino do Lapedo”) é, “inequivocamente, uma das mais relevantes descobertas do Paleolítico Superior português, a par do complexo de gravuras rupestres do Vale do Côa”.

Há ainda um programa de interpretação e comunicação do Vale do Lapedo, denominado “Criança do Lapedo — Uma Proposta de Viagem”, elaborado pelo grupo de projeto estabelecido pelo protocolo celebrado entre o Ministério da Cultura e o município de Leiria, apresentado hoje em Lisboa e que será reapresentado no fim de semana no Museu de Leiria.

SS/(SR) // MAG

By Impala News / Lusa

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