O que deve fazer uma mulher com rastreio positivo para o HPV?

Ana Gonçalves Andrade, ginecologista da Maternidade Alfredo da Costa, alerta para o facto de o Papilomavirus Humano – HPV – poder provocar cancro do colo do útero, segunda causa de morte por cancro em mulheres entre os 25 e os 45 anos.

O que deve fazer uma mulher com rastreio positivo para o HPV?

O Papilomavirus Humano, que conhecemos por HPV, não escolhe idades ou género. É silencioso e pode provocar diversos tipos de cancro. De acordo com Ana Gonçalves Andrade, ginecologista da Unidade de Patologia do Colo da Maternidade Alfredo da Costa, o HPV é responsável pela quase totalidade dos cancros do colo do útero, segunda causa de morte por cancro em mulheres entre os 25 e os 45 anos. Por isso, a médica defende “o reforço da prevenção” e da “vigilância”.

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“As mulheres com rastreio positivo para HPV de alto risco devem ter vigilância clínica mais regular para que o médico possa ponderar a melhor abordagem em função do risco e, assim, evitar que a infeção evolua para uma doença maligna“, alerta a médica. A ginecologista explica que esta vigilância não só previne uma evolução para o cancro do colo do útero como evita tratamentos desnecessários e reduz os níveis de ansiedade associados a um rastreio positivo.

Maioria de infeções por HPV “podem regredir espontaneamente”, mas…

“Apesar de sabermos que 80 a 90% das infeções podem regredir espontaneamente, a vigilância regular (wait and see – esperar para ver, em Português) pode ser difícil de aceitar pela doente. Mas, nesta fase, é fundamental explicar que, consoante o tipo de lesão identificada, pode não ser necessário tratamentos invasivos, como a cirurgia, e que existem outras formas de gerir e tratar a infeção até à cura efetiva”, descansa.

De acordo com a especialista, cerca de “80% das pessoas sexualmente ativas” terão, “pelo menos”, “um episódio de infeção pelo papilomavirus humano (HPV) durante a vida”. Existem mais de 200 tipos, mas “só alguns com potencial cancerígeno“. “Uma vez que a infeção persistente por HPV promove o desenvolvimento do cancro do colo do útero e que depende, em parte, do status imunitário do aparelho genital, estratégias que permitam melhorar a imunidade vaginal, equilibrando o seu microbioma, podem ser importantes na prevenção da infeção persistente e na progressão de lesões de baixo risco”, salienta.

A estratégia para a eliminação do cancro do colo do útero assenta em três pilares – prevenir a infeção HPV; diagnosticar lesões precursoras e tratar lesões com elevado risco de progressão. A vacinação contra o HPV é a base da “prevenção primária”. Disponível em Portugal, a vacina nonavalente, incluída no Programa Nacional de Vacinação, “cobre os serotipos responsáveis por 90% dos cancros do colo do útero”.

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Quais são as estratégias para o tratamento

A implementação do rastreio permite identificar as mulheres em risco de desenvolver cancro do colo do útero e, ao vigiá-las, reduzir incidência e mortalidade. Daí que seja “importante a vigilância da doente em unidades especializadas em patologia do colo, para ir avaliando a evolução da infeção e de eventuais lesões”.

Estratégias de intervenção terapêutica, “como produtos de aplicação vaginal“, podem ser utilizadas “como forma de estimular a regeneração dos tecidos, potenciando a neutralização natural do HPV”, e, ao mesmo tempo, “diminuir os níveis de ansiedade”. Por exemplo, “diversos estudos indicam que o carboximetil beta-glucano, polímero hidrofílico mucoadesivo, contribui para reequilibrar o microbioma vaginal e apoia a regeneração das células que revestem o colo do útero”. Contudo, a especialista “alerta para que a sua utilização não exclui a necessidade de manter vigilância clínica regular em centros diferenciados”.

Ana Gonçalves Andrade ainda sustenta que “existem atualmente um conjunto de medidas preventivas custo-eficazes que torna o cancro do colo do útero uma doença evitável”. E relembra também que “a consciencialização da população para a importância da infeção HPV é fundamental para uma adequada adesão a todas estas medidas preventivas e para tornar o cancro do colo do útero numa doença do passado”.

Perguntas e respostas

O que torna o colo do útero tão suscetível?

“O HPV infeta as células basais dos epitélios através de micro abrasões decorrentes das relações sexuais. Por ser uma zona de metaplasia ativa, a zona de transformação do colo é particularmente suscetível. No interior da célula o vírus completa o seu ciclo de replicação, destrói a célula infetada e liberta novas partículas virais que perpetuam a infeção (infeção produtiva; lesão intra-epitelial escamosa de baixo grau). Se a infeção persistir o vírus integra o seu DNA no genoma da célula hospedeira conferindo-lhe a capacidade de transformação neoplásica (infeção transformante; lesão intra-epitelial escamosa de alto grau – precursora do cancro do colo do útero).

Quais os tipos de HPV mais perigosos?

Entre os HPV de alto risco, os 16 e 18 são os mais perigosos e responsáveis pela esmagadora maioria dos cancros do colo do útero. Daí que sejam fundamentais a vacinação e o rastreio. Os HPV de baixo risco causam doença benigna, os condilomas.

O HPV está relacionado com que tipos de cancro?

O Papilomavirus Humano é um dos carcinogéneos mais potentes e está na origem de múltiplas neoplasias: mais de 90% dos cancros do colo do útero, 88% dos cancros anais, 70% dos da vagina, metade dos cancros do pénis; cerca de 43% das neoplasias da vulva e está relacionado com 26% dos casos dos cancros da orofaringe.

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