Afonso Vilela “Estou cansado de ser sempre o engatatão”
Aos 54 anos, Afonso Vilela continua a trabalhar muito, apesar de os portugueses o verem menos na televisão. Tem vontade de novos papéis, mas não quer continuar a ser o galã ou o engatatão
Afonso, quando pensei nesta entrevista, comentei com um amigo e ele disse-me “O Afonso Vilela? Que old school. O que é que ele está a fazer agora?”. Estas dúvidas que as pessoas têm, são legítimas ou irritantes?
[risos] Old school é muito bom. Acho que são dúvidas legítimas, mas também um bocadinho decorrentes destes novos tempos. Há não muito tempo, todos utilizávamos os mesmos canais, ou seja, recebíamos as nossas notícias do mesmo lugar. Hoje em dia, isso multiplicou-se por mil e cada pessoa tem as suas fontes de informação, a maior parte até desenhadas à medida de cada um. E é claro que só vão saber o que é que o Afonso Vilela está a fazer, provavelmente, se pesquisarem o nome ou me virem num anúncio de qualquer coisa.
Mas tu nem desapareceste do mapa. Se as pessoas forem procurar, percebem que tu tens feito coisas. Podes não estar numa novela do início ao fim, mas tens feito coisas na televisão, no teatro, na publicidade. O que eu quero dizer é que não és alguém que apareceu nos anos 80/90 e que depois nunca mais fez nada na vida…
Sim, verdade. A única questão é que, nos dias que correm, enquanto artistas, o nosso rendimento não difere muito de fazer um mero acting para as redes sociais do que fazer para os canais generalistas. Há 20 anos, a televisão era o único sítio onde todos ambicionávamos estar, porque era ela que dava visibilidade e rendimento. Hoje não é assim. Ao contrário do que muita gente diz, hoje há uma oferta muito maior. Agora, temos de ser versáteis e temos de estar preparados para trabalhar em multiplataforma.
O facto de seres um tipo que adotou um estilo de vida mais low profile, distante de Lisboa, também contribuiu para essa ideia que muita gente tem de ti?
Mas sempre se soube muito pouco da minha vida pessoal. Com essa descrição que estás a fazer, parece que eu sou um eremita [risos], mas considero-me uma pessoa como as outras. Tenho as minhas redes sociais, publico mais ou menos regularmente. Mas, tal como fiz ao longo de toda a minha vida, faço o que sempre fiz em relação à exposição da minha vida pessoal. Não alterei nada, não mexi uma palha. Continuo a fazer exatamente as mesmas partilhas, salvaguardando a minha intimidade e a minha família, e fazendo uma distinção muito clara entre o que é íntimo e pessoal, e o que é profissional.
Mas, mesmo com essa distinção, a maior parte dos profissionais da comunicação, mesmo aqueles que vincavam bem essa fronteira há dez anos, hoje já sabem que faz tudo parte de um jogo e que com as redes sociais podem controlar a sua própria narrativa.
Sim, a própria narrativa é controlada. Mas eu não alterei nada, o que se alterou foi o paradigma social [pausa]. Agora, esta parte da nossa partilha, da nossa vida pessoal… Todos sabemos que não existem vidas perfeitas e que ninguém tem uma vida toda pintada a cor de rosa. No entanto, é só isso ou o oposto que recebemos nas redes sociais. A narrativa que tenho nas redes sociais é uma narrativa real. Estou cada vez mais dedicado a uma área que adoro e que sempre soube que ia ser a minha “reforma”, que é a parte da cozinha. Sou muito criticado pelos vídeos que coloco, porque as pessoas comentam a dizer como eu deveria fazer. Mas vou explicar uma coisa muito básica: estes vídeos bonitos que vemos os grandes chefs a fazerem, vestidos com jalecas, não existem. Quem trabalha em cozinha não tem tempo para fazer estes vídeos. É uma realidade falsa.
Leia esta matéria na íntegra na sua NOVA GENTE desta semana. Já nas bancas.
Texto: Nuno Azinheira; Fotos: HELENA MORAIS
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