Velhas oportunidades no ensino inferior

Uma conferência, uma associação de estudantes e uma universidade protagonizaram as manchetes esta semana. A causa? O regresso à censura nos meios académicos.

Velhas oportunidades no ensino inferior

Uma conferência de Jaime Nogueira Pinto subordinada ao tema ‘Populismo ou Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen em debate’, marcada para esta semana na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova foi cancelada. Um grupo de estudantes de estrema-esquerda, vulgo Bloco de Esquerda, numa algarviada de sinfonia PREC e usando uma minuta de 1975, reivindicou numa moção apresentada numa Reunião-Geral de Alunos, não se riam, ‘este evento está associado a argumentos colonialistas, racistas, xenófobos que entram em colisão com o programa para a qual a AEFCSH foi eleita, além de entrar em colisão com a mais básica democraticidade e inclusividade.

O que faz a direcção da FCSH? Entra em colisão com o mais elementar bom sendo democrático e cancela a conferência com ‘receio de violência’.

Assim sendo, não existindo espaço para este tipo de grupos na nossa faculdade, pede-se que a AEFCSH tudo faça para tal debate não acontecer’. E o que faz a direcção da FCSH? Entra em colisão com o mais elementar bom sendo democrático e cancela a conferência com ‘receio de violência’. Recomendo à direcção com medo que compre um cão. Mas tenham calma, não convoquem já uma manifestação, vamos voltar atrás e meditar no valor das palavras. Universidade. Conferência. Uma palestra num sítio por excelência de debates de ideias e tolerância pelas mesmas. Não sei se neste ponto já estão a atingir a ironia da situação.

A Associação 25 de Abril (e mais oito associações) oferece o seu espaço para que a conferência se realize num exercício de democracia e tolerância, raro nos dias que correm. Palmas.

A polémica estala e salta para as redes sociais, jornais, rádios, televisões, prime-time nos telejornais, periquitos e pardais ao ninho. E a Associação 25 de Abril (e mais oito associações) oferece o seu espaço para que a conferência se realize num exercício de democracia e tolerância, raro nos dias que correm. Palmas.

Se queremos atingir o fundo da questão teremos de admitir que o problema não são os seis fedelhos que assinaram a moção.

Mas se queremos atingir o fundo da questão teremos de admitir que o problema não são os seis fedelhos que assinaram a moção provando que a universidade ainda não lhes ensinou nada, mas a direcção, na pessoa do director, Francisco Caramelo, que se verga perante tal asfixia democrática.

A direcção da faculdade perante a bofetada de luva branca que levou nos últimos dias, fez o pino e declarou que afinal a conferência não foi cancelada, mas adiada, no melhor estilo ‘erro de percepção mútuo’.

Mas, calma, calma, isto ainda piora. A direcção da faculdade perante a bofetada de luva branca que levou nos últimos dias, fez o pino e declarou que afinal a conferência não foi cancelada, mas adiada, no melhor estilo ‘erro de percepção mútuo’. Adiada, Sim, isto aconteceu, provando que um assessor para a imprensa e um psiquiatra ou dois nunca instituição nunca é demais.

Um ataque desta dimensão e natureza exigia registo, fotografias, vídeos, câmaras dos canais de televisão, abertura nos telejornais.

E quando pensamos que o ridículo não pode ir mais longe, eis que surge nesta madrugada em vários órgãos de comunicação social a notícia dando conta que quarenta (sim, 40!) elementos de extrema-direita perpetuaram um ataque na FCSH. Ora um ataque desta dimensão e natureza exigia registo, fotografias, vídeos, câmaras dos canais de televisão, abertura nos telejornais, visto nunca termos assistido a tal fenómeno desde o 25 de Abril.

Já vasculhei com uma lupa as redes sociais, a imprensa, o meu café do bairro, e nada, nem um mero número de telefone trocado entre um rapaz do BE e uma rapariga do PNR.

Pois pasme-se mas nem uma selfie de um estudante a ser atacado com uma edição de capa dura do Mein Kampf, e isto numa universidade pejada de estudantes agarrados aos telemóveis como se fossem garrafas de soro. Já vasculhei com uma lupa as redes sociais, a imprensa, o meu café do bairro, e nada, nem um mero número de telefone trocado entre um rapaz do BE e uma rapariga do PNR para amostra.

Sofia Afonso Ferreira

Sofia Afonso Ferreira, escritora ([email protected]) | Foto Carlos Ramos

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