O saber não ocupa lugar, mas há por aí formações profissionais que torram a paciência

Muitos cursos de formação profissional são frequentados, sobretudo, por gente muito jovem, ao abrigo de programas que pretendem elevar artificialmente o nível de escolaridade de uma geração que deixou de acreditar no ensino superior. E aos 16, 18, 20 anos, estas pessoas não têm ainda espirito crítico suficiente para perceber que estão a comprar gato por lebre.

O saber não ocupa lugar, mas há por aí formações profissionais que torram a paciência

Aos 43 anos, eu estou a mudar de profissão. Toda a minha vida adulta estive ligada ao jornalismo e à área da Comunicação. Depois de muita reflexão e perante um conjunto de circunstâncias pessoais, decidi enveredar por uma área profissional completamente diferente. Agora passo a quase totalidade do meu tempo a estudar, a frequentar cursos de formação, a assistir a seminários e a participar em workshops. E estou cansada, irritada e um bocado frustrada.

Porque, sob o “guarda-chuva” do CAP (certificado que habilita basicamente qualquer pessoa a dar formação numa área qualquer), dou por mim a gastar tempo, dinheiro, paciência e disponibilidade intelectual a ouvir supostos especialistas que discursam com uma constrangedora ligeireza sobre assuntos técnicos e complexos.

Para além das lacunas graves (ou “calunas”, como insistentemente repetia uma das minhas formadores recentemente) nos temas que lhes dizem diretamente respeito, muitos dos formadores a que tenho dado o meu tempo e atenção não resistem a atirar-se para fora de pé, falando de assuntos que claramente não dominam, divagando sobre assuntos que nada têm a ver com o objeto da formação.

Na ânsia de aproveitar oportunidades de formação, nem sempre nos inteiramos dos currículos dos formadores, das suas efetivas experiências profissionais e competências académicas

Ou seja, demonstram constrangedoras dificuldades no que respeita à comunicação, à preparação de estratégias pedagógicas. Já estive com formadores que exibem conhecimentos claramente insuficientes e que tentam disfarçar a ignorância, inventando respostas incoerentes e até disparatadas. Muitos daqueles com que me tenho cruzado, são incapazes de reconhecer que “essa questão sai da mina área de especialidade, mas vou pesquisar e, se possível, voltar com uma resposta”. Há formadores de aparatologia a “palpitar” convictamente sobre Marketing (ontem, a mesma formadora de aparatologia resolveu declarar que “O Marketing” foi “inventado” pelo Grupo Sonae e que o “dono do Pingo Doce, Jerónimo de Sousa” lhe seguiu os passos. Há formadores das áreas das terapias alternativas que presumem ter conhecimentos médicos, de gestão, de psicologia e que conseguem até misturar massagem, com reiki, com leituras de auras e de mãos e até com teorias da reincarnação.

Pior que isto tudo, existem escolas acreditadas por entidades oficiais que certificam cursos dispendiosos cuja qualidade, aposto, nunca aferiram, de tão maus que são.

Conclusão, e por mim falo, na ânsia de aproveitar oportunidades de formação, nem sempre nos inteiramos dos currículos dos formadores, das suas efetivas experiências profissionais e competências académicas. Nem nós, formandos, nem as muitas escolas, a quem interessa lançar cursos de qualquer maneira e ganhar rios de dinheiro, e nem às entidades reguladoras, que se ficam pela burocracia proforma para certificar formações que não cumpre os mínimos numa grande variedade de critérios básicos.

Ana Prista

Ana Prista | jornalista arrependida

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